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Mercado financeiro e de capitais
Curso: Mercado financeiro e de capitais > Unidade 10
Lição 4: Auxílio financeiro de Paulson- CNN: Entendendo a crise
- Resgate 1: Liquidez vs. solvência
- Resgate 2: Valor contábil
- Resgate 3: Valor contábil X valor de mercado
- Resgate 4: Marcação a modelo X marcação a mercado
- Resgate 5: Pagamento da dívida
- Resgate 6: Recebendo uma injeção de capital
- Resgate 7: Banco vai à falência
- Resgate 8: Risco sistêmico
- Resgate 9: O Plano Paulson
- Resgate 10: Risco moral
- Resgate 11: Por que esses CDOs podem não valer nada
- Resgate 12: Transação Lone Star
- Resgate 13: O resgate tem chance de funcionar?
- Resgate 14: Solução possível
- Resgate 15: Mais sobre a solução
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Resgate 11: Por que esses CDOs podem não valer nada
Por que um ODC- CDO na sigla em inglês- (Obrigações de dívida colaterizada) pode não valer nada mesmo se for "colateralizado". Versão original criada por Sal Khan.
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Transcrição de vídeo
RKA4JL - Olá!
Tudo bem com você? Você vai assistir agora
a mais uma aula de economia. Nesta aula vamos conversar sobre o porquê
de algumas CDOs não valerem nada. Durante a crise de 2008, o governo dos
Estados Unidos realizou um resgate financeiro para os bancos de sete bilhões de dólares
e para isso comprou algumas CDOs, que são obrigações de dívidas colateralizadas
rastreadas em hipotecas residenciais. De acordo com o governo, esse dinheiro
não seria apenas um cheque em branco, pois estaria realmente comprando
ativos, e quem sabe, no futuro, talvez até fazer um pouco
de lucro sobre esses ativos. O que muitas pessoas sugeriram na época
é que isso era muito improvável, porque provavelmente esses ativos não valiam
o que o governo ia pagar por isso. Inclusive, alguns desses ativos
poderiam valer absolutamente nada. Provavelmente você deve estar
se perguntando agora: "Como assim esses ativos não valiam nada?
Eles não eram rastreados em hipotecas, que são lastreadas em casas,
que são as garantias?” Afinal, a ideia de
uma CDO é essa: é uma obrigação de pagamento,
ou seja, existe uma garantia. Então neste vídeo eu vou apresentar
um exemplo simples para mostrar para você por que algumas
dessas obrigações de dívidas colateralizadas podem valer muito pouco
ou talvez nem mesmo nada. Enfim, vamos fazer
algo simples aqui. Não vamos falar em termos de milhões de casas.
Vamos conversar apenas em termos de dez casas. Digamos que eu fosse criar aqui
alguns títulos lastreados em hipotecas. Assim, teríamos
dez hipotecas, certo? Digamos que cada hipoteca seja
de um milhão de dólares. Então teremos aqui dez vezes
um milhão de dólares, ou seja, eu vou realizar um empréstimo total
de dez vezes um milhão de dólares para as pessoas
comprarem dez casas. Ao fazer isso eu crio uma corporação,
uma sociedade de propósito especial, e aí crio obrigações de dívidas
colateralizadas, CDOs, que são esses títulos garantidos
pelas hipotecas dessas casas. Sabendo disso, vamos criar o balanço
dessa empresa. Quais são os ativos? Bem, eu tenho dez vezes um milhão
de dólares em hipotecas, então eu tenho
dez milhões em empréstimos que, essencialmente, são dez milhões
de dólares em hipotecas. Esse dinheiro é
garantido, ou lastreado, através das hipotecas que foram usadas
para comprar as casas. Dez milhões de
dólares em hipotecas. Agora, como é uma sociedade de propósito
especial, vamos chamá-las de SPE, mas como essa sociedade
de propósito especial é financiada? Bem, ela é financiada pelas
pessoas que estão comprando as obrigações de dívidas
colateralizadas, ou CDOs. As obrigações de dívidas
colateralizadas são, basicamente, dívidas que são usadas
para financiar essas hipotecas. Nessa empresa eu poderia ter aqui
títulos lastreados em hipotecas, que seriam esses dez milhões
de dólares em hipotecas, e aí, nessa corporação,
eu poderia emitir mil ações. Assim, cada ação teria um valor
de um sobre mil desse valor, certo? Porém, o que é interessante sobre
uma obrigação de dívida colateralizada é que eu poderia
dividi-la em tranches. Então, por exemplo,
vamos dividir aqui em três tranches, que são algumas divisões
que vamos realizar aqui e que eu vou utilizar para
tomar alguns empréstimos. Por exemplo, vamos dizer que vamos pegar
um empréstimo de dez milhões de dólares e vamos fornecer as CDOs para essas pessoas.
Aí vamos dizer que desses dez milhões eu peguei cinco milhões de dólares
das pessoas que estão nesse tranche. Essas pessoas serão detentoras de CDOs,
e eu vou classificá-las como seniores. Isso significa que, basicamente, esse
titular de dívida e esse titular de dívida serão eliminados antes
desse cara ser prejudicado. "Prejudicado" significa apenas que você ganha
menos dinheiro do que você emprestou, ok? Então eu peguei um empréstimo
de cinco milhões de dólares dessas pessoas e vou pagar um juro menor para elas.
Isso porque esse é o tranche mais seguro. Então pense dessa forma: vamos dizer
que dessas dez hipotecas eu esteja recebendo oito
por cento de juros por ano. Aí, para essas pessoas que me
emprestaram cinco milhões de dólares, eu vou pagar cinco
por cento de juros. Mas por que eles estão dispostos
a ter uma taxa de juros menor? Porque, basicamente, qualquer
prejuízo que tiver desse lado vai atingir esses dois tranches
antes de atingir esse aqui de baixo. Portanto, esse será um instrumento
de dívida indiscutivelmente muito seguro. Vou falar mais sobre
isso daqui a pouco. Mas antes disso, vamos dizer que eu pegue
outros quatro milhões de empréstimo com algumas outras pessoas, que
eu vou colocar aqui nesse tranche. Eu vou precisar pagar um juro maior para
eles. Quem sabe seis por cento de juros. Aí finalmente eu vou pegar um empréstimo
de outro um milhão de dólares de pessoas que estão dispostas
a contrair um risco maior. Portanto, se houver
alguma inadimplência aqui, essas pessoas serão eliminadas
antes dessas outras serem tocadas. Diante de tudo o
que temos aqui, podemos descobrir a quantidade apropriada
de juros para essas pessoas, certo? Quanto dinheiro está entrando aqui anualmente
antes que alguém comece a ficar inadimplente? Vamos ver, estou recebendo
800 mil dólares por ano. Essa é a entrada.
Agora, qual é o fluxo de saída? Eu tenho que pagar a essas pessoas cinco
milhões de dólares vezes cinco por cento, isto é, 250 mil dólares, que é quanto
eu estou pagando para esse tranche. Eu vou colocar aqui, então, 800 mil
menos 250 mil dólares. Aí vamos ver para o segundo tranche. Vai ser quatro vezes seis por cento,
ou seja, 240 mil dólares. Então vou colocar aqui -240. Então temos 800
menos 490 mil. Eu tenho aqui, então, 310 mil
dólares que sobrou do juro cobrado. Então eu posso pagar esses 310 mil
dólares por ano para esse tranche aqui. Com isso, eles vão obter uma participação
de 31 por cento, e isso parece ótimo. É por isso que isso costuma ser chamado
de tranche de capital em uma CDO, porque essas pessoas
obtêm muitas vantagens. Mas adivinhe? Se houver alguma inadimplência,
essas pessoas são eliminadas primeiro. Só para deixar esse exemplo mais claro,
vamos fazer isso aqui de uma forma bem simples, porque a gente poderia modelar
isso aqui de uma outra forma e ter aqui uma espécie
de pré-pagamento, etc., mas vamos dizer que daqui a um ano algo
tenha acontecido com metade das hipotecas. Deixe-me riscar isso aqui, então,
para entender o novo cenário. Vamos dizer, então, que daqui a um ano
metade das hipotecas sejam liquidadas, seja porque as pessoas
venderam seus imóveis, ou realizaram uma espécie de
refinanciamento, ou qualquer outra coisa. Com isso, eles vão pagar
antecipadamente a hipoteca. Então digamos que daqui a um ano...
Eu vou fazer um novo balanço aqui, ok? Então em um ano, digamos que cinco desses
mutuários, ou seja, a metade desses mutuários apenas refinanciaram
ou venderam as suas casas. Com isso, eles pagaram de volta
cinco milhões de dólares. Portanto, recebemos
cinco milhões de dólares. Eu vou colocar isso aqui no lado dos ativos
aqui no balanço financeiro. Não podemos esquecer que em um balanço
financeiro temos os ativos e os passivos. Ah, claro, em um balanço financeiro
também temos o capital próprio da empresa, ou patrimônio líquido, que
também é chamado de equity. Eu não coloquei o patrimônio líquido aqui,
mas ele é calculado através da diferença entre o total em ativos
e o total em passivos da empresa. Eu não coloquei isso aqui porque temos
uma sociedade de propósito especial. Todo o seu propósito
é estruturar esses títulos. Seu propósito realmente não é ser uma operação
contínua que tem lucro líquido por si só, embora provavelmente haja patrimônio
no banco que a construiu. Mas enfim, deixando
isso aqui de lado, eu falei que metade das pessoas
realizaram o pagamento. Essas pessoas eram ótimas,
valeu a pena dar o dinheiro a elas, porque elas pagaram integralmente os
empréstimos. Mas adivinhe? A outra metade das pessoas
ficou inadimplente, e devido a isso temos que
encerrar o contrato com essas pessoas. Mas nem tudo
está perdido, não é? Não perdemos os cinco milhões de dólares
que emprestamos para essas pessoas, porque elas têm casas, certo?
Essas são obrigações de dívidas garantidas. Então podemos
tomar suas casas. Só que, infelizmente, estamos diante
de um mercado imobiliário muito fraco. A gente tem aqui cinco pessoas
que pagaram e cinco não pagaram, e para fins de argumentação,
vamos dizer que tomamos as casas dessas cinco pessoas que não pagaram,
e aí as vendemos novamente. Só que como o mercado
imobiliário está muito fraco, conseguimos apenas sessenta
por cento do valor dessas casas. Sessenta por cento de cinco milhões
de dólares é três milhões de dólares. Então conseguimos apenas três
milhões de dólares por essas casas. Sendo assim, um ano após o início do nosso
processo, quais serão os nossos ativos? Recebemos cinco milhões
de dólares em dinheiro das pessoas que são boas
e pagaram suas hipotecas, e aí temos os três milhões de dólares
das pessoas que não pagaram, mas que vendemos as casas novamente por
60 por cento do preço original das casas. Nós só conseguimos isso devido
ao encerramento do contrato anterior. Isso faz sentido porque o crédito
está ficando mais apertado e estamos diante de um mercado
hipotecário bem difícil, em que todas essas casas estavam
na Flórida, em Las Vegas ou algo assim. Mas, enfim,
o que acontece agora? Não há propósito para essa sociedade
continuar existindo mais, já que todo mundo já realizou o pagamento.
Não há fluxo de renda entrando ou saindo. Então, basicamente, vamos dissolver
a corporação e dar a todos o que é devido. Bem, esse cara
chega primeiro, certo? Ele pegou a menor taxa de juros em troca
de ter o risco mais baixo. Então esse tranche aqui vai receber um total
de cinco milhões de dólares. Isso é ótimo. Ele obteve cinco por cento de juros, e todo
o seu dinheiro de volta. Parece bom. As CDOs parecem seguras até agora,
mas e a próxima tranche? E esse cara de quatro milhões de dólares?
Isso é o que era devido. Afinal, esse foi um empréstimo realizado
para a sociedade de propósito especial, essa tranche de quatro milhões
de dólares em CDOs. A sociedade deve quatro milhões de dólares
a essa tranche, mas adivinhe? Depois de pagar a esse cara
cinco milhões de dólares sobrou apenas três
milhões para esse cara, então esse cara só consegue
três milhões de dólares, ou seja, para cada quatro dólares que
emprestou, ele recebe apenas três dólares. Esse cara recebe apenas 75 cents
por dólar emprestado. É agora que vem
a pergunta principal: o que acontece com o patrimônio
da tranche daqui de cima? Esse um milhão de dólares, certo?
O cara aqui se achava um gênio. Ele emprestou esse dinheiro
a uma taxa de 31 por cento. Parecia bom e,
francamente, o banco provavelmente não foi capaz
de descarregar isso para qualquer um, porque os fundos de pensão e muitos governos
estrangeiros só compram os ativos mais seguros. Portanto, esse é o material que
provavelmente está presente em muitos desses balanços
de bancos de investimento. Estes são os ativos tóxicos dos quais as
pessoas falaram muito em meio à crise de 2008. E adivinha? Não sobrou nada para pagar esse
um milhão de dólares para esse cara aqui. Você pagou cinco milhões
para esse cara aqui, esse outro cara aqui só ganhou 75 cents
em relação a cada dólar, certo? Ele teve um prejuízo de
um milhão de dólares aqui. Porém , essa última tranche aqui de cima
não ganhou absolutamente nada. Então a pergunta
a fazer aqui é: essas CDOs que estão nos balanços dos bancos,
elas são uma parte dessa parcela da dívida ou elas são uma parte dessa parcela da
dívida que, nesse caso, são muito seguros? Bem, eu diria que nesse caso os bancos
não estariam tão desesperados para descartá-las, pois eles conseguiriam compradores.
Então, talvez, eles estejam nessa tranche em que talvez valha uns 75 cents por dólar,
ou talvez ainda 60 cents por dólar. Isso pode até não ser um bom negócio,
mas ainda vale alguma coisa. Agora, será que
esses bancos estão aqui? Se essas CDOs são essas coisas que estão aqui,
então elas realmente não valem nada, pelo menos no exemplo
que eu acabei de dar. Eu espero que você tenha
compreendido toda essa ideia aqui e mais uma vez eu quero deixar
para você um grande abraço e falar que eu encontro
você na próxima!