If you're seeing this message, it means we're having trouble loading external resources on our website.

Se você está atrás de um filtro da Web, certifique-se que os domínios *.kastatic.org e *.kasandbox.org estão desbloqueados.

Conteúdo principal

Resgate 10: Risco moral

Planos alternativos e risco moral. Versão original criada por Sal Khan.

Quer participar da conversa?

Nenhuma postagem por enquanto.
Você entende inglês? Clique aqui para ver mais debates na versão em inglês do site da Khan Academy.

Transcrição de vídeo

RKA4JL - Olá! Tudo bem com você? Você vai assistir agora a mais uma aula de economia. Nesta aula vamos conversar sobre o risco moral. Mas antes disso vamos considerar um caso semelhante ao que aconteceu na crise do mercado financeiro nos Estados Unidos em 2008, na qual vários bancos são detentores de CDOs residenciais muito tóxicas e realizam empréstimos uns para os outros. Devido a isso, alguns bancos (em nosso caso aqui, o banco A) acabaram falindo e prejudicando os demais bancos, de forma que eles não conseguem mais realizar empréstimos para outros bancos ou até mesmo para diversos setores da economia real, tais como fazendeiros e fabricantes. Diante desse contexto, o Fed, que é o Banco Central dos Estados Unidos, apresentou uma proposta de resgate a esses bancos. Vamos pensar aqui, agora, no que consiste a proposta de resgate do Fed. O que o Fed essencialmente quer fazer é pegar 700 bilhões de dólares e usar para comprar alguns ativos obscuros, como essas CDOs que vários bancos têm em seu balanço e que têm sido a causa da falência de muitos desses bancos, ou, no mínimo, são a razão dos bancos não realizarem mais empréstimos. Isso pode até resolver o problema, mesmo sendo algo que aparentemente seja horrível de se fazer, porque se você fosse comprar esses ativos (vamos dizer que eles não valem nada, mas mesmo assim você paga dois bilhões de dólares por eles), essencialmente você está passando um cheque aos acionistas dessa empresa e eles estão se beneficiando de toda a recompensa dos últimos cinco anos de retorno sobre o preço das ações dos dividendos e tudo mais. De repente, quando tudo piora, não assumem o risco. O contribuinte é quem assume. Você assina um cheque de um bilhão de dólares para os acionistas e outro bilhão para os devedores, ou seja, para quem emprestou o dinheiro para esse banco. Para discutir um pouco sobre isso, quero falar com você agora sobre o que costuma ser chamado de risco moral. Você está preenchendo um cheque para as pessoas que tomaram decisões ruins. As pessoas que emprestaram dinheiro para esse banco tomaram uma péssima decisão, e os acionistas também tomaram péssimas decisões. As pessoas que investiram nesse banco não perceberam o risco, e muitos dos acionistas da empresa também são gerentes desse banco, e foram eles quem investiram nessas CDOs. E se comprar essas CDOs, você não vai estar penalizando essas pessoas que tomaram decisões ruins. Eles conseguiram manter todos os seus bônus, talvez eles consigam manter até os seus cargos, e você está valorizando as ações deles. Esse é um dos elementos do risco moral. Temos um outro elemento do risco moral um pouco mais sutil, mas em alguns casos esse é o elemento mais importante do risco moral, que é o fato de o governo interceder todas as vezes em que ocorre algum tipo de estresse financeiro. Todas as pessoas assumem riscos e recebem suas recompensas, mas quando o risco começa a se tornar realidade, o governo vem e evita que essas pessoas tenham que lidar com as consequências. Existe um risco moral para o futuro, já que as pessoas vão dizer: "Eu vou assumir o risco, porque quando as coisas estão indo bem, eu vou fazer dinheiro." Mas quando as coisas começarem a desandar, já vimos isso várias vezes, o governo estará a postos para resgatar o setor privado. Ao fazer isso, teremos um risco moral de possivelmente alimentar essas bolhas para que elas existam no futuro, porque as pessoas não se preocuparão tanto com o risco, já que elas pensarão: "Veja só que legal! Eles assumiram todo o risco, compraram as CDOs, eles pegaram um empréstimo para comprar CDOs, eles foram alavancados, e o governo ainda resgatou esses caras. Então eu vou assumir um enorme risco, obter toda a recompensa, e no futuro, caso algo aconteça, o governo vai me resgatar." Esse é o outro elemento do risco moral. Bem, de qualquer forma eu argumentaria que existe muito risco moral em uma proposta de resgate como a que o Fed fez. Talvez o risco moral valha a pena se evitar a ocorrência dessa cascata de eventos, se permitir que pessoas comecem emprestar as outras, e o mais importante é o mundo real, como o cara que quer construir uma fábrica, ou fazendeiro que quer investir em sementes para a safra do próximo ano, isso vai valer a pena. O que eu ouvi, e não me lembro muito bem dos números, é que no início da crise de 2008 existiam, aproximadamente, cinco trilhões de dólares dessas CDOs tóxicas nas folhas de pagamento das instituições financeiras. Não sei se esse é o número exato, mas sei com certeza que 700 bilhões de dólares é uma fração relativamente pequena do total que estava disponível. Inclusive Berneck e Pousson falaram que sabiam que 700 bilhões de dólares não representava o total de CDOs disponíveis, mesmo as comprando com desconto. O que foi esperado ao fazer um movimento como esse é que tendo no mercado grande quantidade de dinheiro para comprar essas CDOs, haveria a criação de um tipo de mercado para elas. Eu lembro até que foi falado em um leilão inverso! Em um leilão inverso a gente diz que está pronto para comprar 100 bilhões de CDOs e aí vamos comprar as CDOs de qualquer banco que queira nos vender 100 bilhões delas pelo melhor preço. Enfim, isso que é um leilão inverso. Você diz: "Eu quero comprar, quem irá me vender pelo menor preço?" Ao fazer isso, existe a possibilidade de que talvez seja criado o interesse no setor privado. Com isso, o governo estaria fazendo bons negócios nas CDOs. Afinal, ao querer comprar, talvez faça com que outras pessoas também comprem. O motivo de mencionar isso é porque se as pessoas fossem comprar CDOs, elas já teriam comprado. No fim, quando você faz o leilão reverso, quando diz: "Tenho 100 bilhões e quero gastá-los em CDOs.", Olson e Berneck falam que isso criaria um tipo de preço de mercado para as CDOs. Assim os bancos poderão marcar os seus ativos e aí todo mundo vai saber o quanto que elas valem. Só que temos dois problemas: não será um preço de mercado, pois vem de uma demanda artificial do governo. Se o governo não existisse, não haveria essa entidade com 100 bilhões para comprar ativos, então os ativos teriam preços mais baixos. E o segundo problema é que: o que acontecerá se o governo fizer isso e as pessoas perceberem que as CDOs que valiam dois bilhões de dólares num leilão reverso, na verdade valem 500 milhões? Pois é o que as pessoas querem desembolsar. As pessoas com mais solvência fariam isso, porque isso não as levaria à falência, mas se elas realmente valessem 500 milhões de dólares, todos os bancos que possuem CDOs teriam que reduzir o valor para 500 milhões. Com isso, o capital próprio da empresa seria destruído e o ciclo começaria novamente. Bem, eu tenho dois pontos de vista em relação a tudo isso. Não acho que isso criaria um preço confiável no mercado e não acho que isso convenceria alguém a investir de repente. Se alguém pensou que isso era um bom negócio, existe um monte de investidores sofisticados por aí que entendem muito mais do significado desses ativos do que, de fato, o tesouro entende. E se eles achassem que era um bom negócio, garanto que eles comprariam qualquer ativo pelo preço que pensam ser bom e aguardariam até que estejam maduros. Existe o dinheiro para isso, e esse é um ponto importante que as pessoas não percebem. Muitas pessoas possuem dinheiro e tesouros, só não querem investir nisso porque é um mau negócio. As pessoas estão buscando bons negócios, mas esses não valem a pena, porque provavelmente não valem nada. Então, qual é a solução? Bem, isso é algo com o qual muitas pessoas têm se divertido, inclusive muitas delas dizem o seguinte: "Por que em vez de o governo comprar essas CDOs, que é essencialmente dar um cheque às pessoas que nos puseram nessa situação, ele não compra ações nessas empresas?" Já falamos sobre essas situações com os fundos soberanos. Por exemplo: podemos ter fundo soberano comprando três bilhões em patrimônio líquido e fazem isso pagando em dinheiro. Com isso, a empresa pode usar essa quantia para pagar as dívidas. Isso francamente não é uma ideia ruim. O único motivo pelo qual eu diria que isso não é uma boa ideia é que isso estaria diluindo os acionistas. Mas e se esse patrimônio valer zero? E se o patrimônio for negativo? Se ele vale zero, se esses dois bilhões de fato valem zero, essa empresa está em insolvência, já que nesse caso ela teria três bilhões em ativos e quatro bilhões de dólares em passivos, o que resultaria em menos um bilhão no patrimônio. Com isso, essa ação não teria valor. O preço correto dessa ação, se não existisse mais passivos nesse banco, seria menos um bilhão de dólares dividido pelo número de ações. Então, diante desse cenário, por que você pagaria um valor positivo por essas ações? Enfim, mesmo nessa situação de valor zero, se o governo comprasse ações e as camuflasse com capital, a empresa se salvaria e isso penalizaria os acionistas, porque, de repente, em vez de essa empresa ter 500 milhões de ações, ela vai ter talvez mais dois bilhões, ou seja, se você tinha cem por cento da empresa, agora você vai ter apenas vinte por cento. E foi o que aconteceu com a A&G. Inclusive você pode até pensar que isso é bom, afinal o governo ainda estaria tirando proveito disso. E francamente, do meu ponto de vista, se o governo fizesse isso, eu acho que a relação risco-recompensa seria razoável, porque se o governo fosse injetar capital nesses bancos, digamos que existam 500 milhões de ações agora e que o governo quer dar a essa empresa quatro bilhões de dólares, ele vai dar esses quatro bilhões de dólares em dinheiro. Vamos dizer que para dar esses quatro bilhões, o governo queira dez bilhões de ações. Com isso, ele paga 40 centavos de dólar por ação. Então ele vai ter dez bilhões de ações, ou seja, dez mil milhões. Assim, o banco vai ter um total de dez bilhões e meio de ações. Não é uma situação ruim na minha opinião. A empresa terá aqui quatro bilhões de dólares em dinheiro, três bilhões de dólares em outros ativos, e essas CDOs, que agora talvez não valham nada, mas mesmo assim essa empresa não entrará em processo de falência, já que ela tem quatro bilhões de dólares em dinheiro, quatro bilhões de dólares de dívida que pagaria com essa injeção de capital, e as pessoas que merecem ter algum tipo de desvantagem, terão. Isso porque os acionistas tinham cem por cento da empresa com os seus 500 milhões de ações. Agora eles têm o quê? 1/21 avos da empresa, ou seja, a posse dos acionistas foi diluída de cem por cento para menos de cinco por cento. Essa pode ser uma situação justa. No entanto, eu diria que mesmo nessa situação ainda há resgate das pessoas que realizaram esse empréstimo ao banco. Elas emprestaram a uma instituição que não conheciam bem e tiveram rentabilidade com essa instituição. Bem quando essa instituição iria falir, o governo fez uma enorme injeção de capital e a recuperou. Fez dela parte do governo porque, agora, o governo possui 90 e poucos por cento da empresa e, com isso, paga os devedores. Então eu diria que ainda existe algum tipo de risco moral aqui, porque no fim das contas, mesmo que ainda esteja prejudicando os acionistas, no futuro ainda poderia emprestar dinheiro a um banco, sabendo que o governo iria resgatá-lo quando necessário, comprando um monte de ações desse banco. Ou seja, existe ainda um risco moral que, inclusive, a gente não consegue definir o preço e o risco de maneira adequada no futuro. Mas se isso abrir as portas para que as pessoas comecem a emprestar ao fazendeiro ou empresário, então talvez isso valha a pena. Do meu ponto de vista, se o governo não está de fato preocupado com os bancos, mas sim com o fazendeiro e com o empresário, por que ele simplesmente não cria um fundo para dar crédito ao mundo real? Por que ele simplesmente não deixa que os bancos entrem em falência? Eles voltarão mais enxutos e mais eficientes, com ações de risco próprio e todos serão punidos adequadamente, para que no próximo ciclo não exista tanto esse risco moral, e ainda teríamos os 700 bilhões de dólares sendo emprestados aos fazendeiros e às empresas que estão comprando equipamentos ou a quem quer que seja. E claro, ainda há um risco moral e será altamente politizado. Para quem emprestar, e etc? Talvez ainda existam leilões reversos, mas no final o governo vai ser genuíno sobre estar preocupado com mundo real, já que ele não usaria esses 700 bilhões de dólares de uma maneira indireta. Ele estaria emprestando dinheiro para o mundo real. Enfim, eu espero que você tenha compreendido tudo o que conversamos aqui e mais uma vez eu quero deixar para você um grande abraço e até a próxima!