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Macroeconomia
Curso: Macroeconomia > Unidade 8
Lição 3: A crise financeira de 2008- CNN: Entendendo a crise
- Resgate 1: Liquidez vs. solvência
- Resgate 2: Valor contábil
- Resgate 3: Valor contábil X valor de mercado
- Resgate 4: Marcação a modelo X marcação a mercado
- Resgate 5: Pagamento da dívida
- Resgate 6: Recebendo uma injeção de capital
- Resgate 7: Banco vai à falência
- Resgate 8: Risco sistêmico
- Resgate 9: O Plano Paulson
- Resgate 10: Risco moral
- Resgate 11: Por que esses CDOs podem não valer nada
- Resgate 12: Transação Lone Star
- Resgate 13: O resgate tem chance de funcionar?
- Resgate 14: Solução possível
- Resgate 15: Mais sobre a solução
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Resgate 7: Banco vai à falência
O que acontece quando não há infusão de capital, e o banco vai à falência. Versão original criada por Sal Khan.
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Transcrição de vídeo
RKA4JL - Olá!
Tudo bem com você? Você vai assistir agora
a mais uma aula de economia. Nesta aula vamos conversar sobre o que
acontece quando um banco vai à falência. Para começar a compreender isso, vamos
dizer que inicialmente temos um banco que possui ativos e um passivo,
ou seja, um empréstimo a ser pago. Para pagar esse empréstimo, o banco recebeu
um resgate financeiro de um fundo soberano. Isso ocorreu porque,
quando o empréstimo venceu, ele não poderia vender suas CDOs e ter
dinheiro suficiente para pagar essa dívida. Então o banco meio que se manteve
firme e não vendeu suas CDOs, mas mesmo assim ele não conseguiu qualquer
outro empréstimo para saldar esse empréstimo. Porém, o que ele conseguiu foi
convencer alguns estrangeiros que estavam apaixonados pela marca
dessa instituição do capitalismo americano. Então, devido a isso, eles
estavam dispostos a comprar algumas ações dessa empresa
e, essencialmente, resgatá-la. Antes desse resgate, a empresa
tinha 500 milhões de ações, porém ela emitiu mais dois bilhões de ações
e vendeu cada ação por um dólar e meio. Com isso, o banco conseguiu três bilhões
de dólares. E foram três bilhões em dinheiro. Inicialmente a empresa tinha um bilhão
em dinheiro, mas agora tem quatro bilhões. Com isso, o banco conseguiu pagar
o empréstimo com três bilhões em dinheiro e ainda ficou
com um bilhão. No final do dia a empresa ficou com um bilhão
em dinheiro e quatro bilhões em CDOs, ou seja, ela ficou com
cinco bilhões em ativos. Isso, claro, considerando que essas CDOs
realmente valem quatro bilhões. Observe que agora o banco
não tem mais nenhum passivo, e por isso tem cinco bilhões
de patrimônio líquido. Quando pegarmos aqui
alguns dos ativos, vendê-los pelo valor que
achamos que valem, claro, e aí pagarmos os nossos passivos,
o valor do patrimônio não vai mudar. Vai continuar tendo
o mesmo valor líquido. Quando pegamos alguns dos nossos ativos,
os vendemos pelo valor que achamos que valem e aí pagamos os nossos passivos,
o valor do patrimônio não muda. continua tendo
o mesmo valor líquido. Porém, agora, mudou.
Então o que aconteceu? Só para você ficar um pouco confortável
com um pouco de terminologia, essa empresa aqui agora está
completamente "desalavancada" porque não tem passivos, não tem dívidas,
e seus ativos são iguais ao seu patrimônio. Você vai encontrar muitas empresas
que são startups, empresas de tecnologia, e muitas delas têm
pouca dívida ou nenhuma. Elas são empresas
completamente desalavancadas. Enfim, o que foi apenas um exemplo
de como uma empresa poderia ser resgatada. Mais uma pergunta que deve ser
feita aqui: quem perdeu nessa história? Bem, os acionistas perderam,
porque antes havia apenas 500 milhões de ações
que dividiam o patrimônio. Agora há 2,5 bilhões de ações
para dividir esse patrimônio. Portanto, o valor
contábil das ações, se você acreditar que essas CDOs
realmente valem quatro bilhões, passou de quatro dólares para dois dólares.
Eu acho que esse é um ponto importante, porque eu mencionei antes que o preço
de mercado é estabelecido quando você compra
ou quando vende uma ação, mas isso normalmente é feito entre
duas pessoas não relacionadas com a empresa. Então como isso
afeta a empresa? Bem, isso afeta a empresa quando ela
precisa arrecadar mais dinheiro, e foi o que aconteceu
nesse exemplo. A empresa teve que
arrecadar mais dinheiro. Com isso, teve que ir a alguns governos.
Talvez fosse o governo de Cingapura. No caso é o fundo soberano de riqueza
desse país, e aí disse a eles: "Por favor, invista em nossa empresa.
Compre algumas de nossas ações." Quando o governo de Cingapura, ou qualquer
outro investidor, quer comprar novas ações, eles usam o valor de mercado, ou seja,
por quanto as ações estão sendo negociadas, como um bom ponto de referência para o que
ele pode ter que pagar para essas ações. Muitas vezes, se essa
é uma situação desesperada, e essa pessoa é meio que
uma salvadora para você, ela vai pagar abaixo
do preço de mercado. Mas às vezes, se ela acha
que um ótimo negócio, uma oportunidade de obter
um grande número de ações e, essencialmente, assumir
o controle da empresa, ou seja, que acaba sendo
um prêmio para essa pessoa, ela acaba pagando um pouco mais,
ou seja, pagando dois dólares por ação, que é um valor um pouco maior
do que o valor de mercado, que no momento é apenas um dólar.
Mas de qualquer forma, é por isso que o preço de mercado
de algo nos mercados secundários, ou seja, onde uma ação é apenas negociada entre
pessoas que não estão relacionadas com a empresa, acaba sendo importante, porque quando
a empresa precisa arrecadar dinheiro, é usado um tipo de valor justo de mercado:
o preço das ações de uma empresa. Mas de qualquer forma isso aqui foi uma situação
em que a empresa foi resgatada. O que eu quero
conversar com você, agora, é sobre o que acontece em uma
situação em que não chega um resgate. Vamos ver
isso aqui agora. Vamos dizer que o resgate do fundo
de riqueza soberano nunca aconteceu. Vamos relembrar o que a
gente tinha em ativos e passivos. Em relação aos ativos, a gente tinha um bilhão
em dinheiro e quatro bilhões em CDOs residenciais. Com isso, tínhamos um total
de cinco bilhões em ativos. Em relação aos passivos, a gente
tinha aqui o empréstimo C, tendo um total de
três bilhões de dólares. Aí o banco tinha um patrimônio
próprio, ou um equity, que é essencialmente o total em ativos
menos o total em passivos, de dois bilhões
de dólares. Dividindo isso entre 500 milhões de ações,
encontramos o valor contábil de cada ação. Dessa forma, temos que o valor contábil
de cada ação é de quatro dólares. Não vamos nos preocupar muito, agora,
com qual é o valor de mercado das ações, ok? Mas vamos dizer que fundos
compraram tudo ao redor. Todos os fundos de riqueza soberanos queimaram
muito dinheiro investindo no Citibank, Marril Lynch, e em diversos outros bancos em que
os valores de mercado caíram muito ou acabaram falindo, ou seja,
todo o dinheiro foi queimado e, com isso, eles não querem mais ser
os últimos segurando a "batata quente". Sendo assim, não há mais ninguém que
esteja disposto a investir em patrimônio, e isso, claro, apenas
vai forçar o problema. Afinal, os credores de empréstimo C já falaram
que não vão dar um novo empréstimo, e você não pode pagar esse empréstimo,
porque mesmo se vender essas CDOs, você vai receber apenas
um bilhão de dólares por elas. Isso vai acabar forçando a empresa a falência.
E é assim que a falência acontece. Quando você quebra um dos convênios, ou seja,
com uma das pessoas que lhe emprestou o dinheiro, os convênios dizem que se você não pagar um
empréstimo dentro de um certo período de tempo, ou alguma outra coisa acontecer
com as suas finanças, você é declarado insolvente.
E aí vai à falência. E o que acontece
na falência? Bem, na falência os tribunais de falência basicamente
vão tomar conta de todos os seus ativos. Eles apenas dizem para você o seguinte:
"Olha, isso aqui é tudo o que você possui, certo?" Ah, mas não vamos entrar
nos detalhes disso agora. Talvez eu faça uma série inteira de vídeos
sobre os detalhes de uma falência, mas esse não é o foco principal
aqui nesse momento. Mas vamos dizer que os tribunais vão olhar
para você e, ao longo desse processo, tentar ver se existe algum tipo de empréstimo
que ajude você a continuar fazendo negócios, porque é preciso ainda descobrir
se você, como empresa, será reestruturado pagando os seus passivos,
ou se vão apenas dissolver você, justamente pelo fato de você não
ser mais uma entidade viável. Mas, de qualquer maneira, o tribunal
de falências vai tomar conta de você, e vamos supor que nessa situação
aqui você vai ser dissolvido. Dessa forma, o tribunal vai dividir tudo
o que você tem entre as partes interessadas, ou seja, as pessoas
a quem você deve dinheiro. Na verdade, vamos supor o contrário: vamos dizer que o tribunal
decidiu não dissolver você. Vamos dizer que todo mundo
concorda que sua marca vale muito. O Goldman Lynch ou o Lehman Sachs
são marcas que valem muito. Em um caso como esse, ninguém
quer ver essas marcas desaparecerem. Então o que acontece quando
você entrar em falência? Bem, os credores recebem
os primeiros direitos em tudo. Uma maneira de pensar sobre isso é que
os credores do empréstimo, do empréstimo C, recebem os primeiros direitos
sobre os ativos. Aí qualquer coisa que sobrar
vai para os acionistas. Nesse caso, vamos dizer que
os caras do empréstimo C digam que querem manter o banco como uma
entidade, mas querem descartar essas CDOs. Diante desse cenário, o tribunal de falências
vai dizer: "Ok, vamos liquidar essas CDOs, só porque todos concordam que
elas são realmente sombrias." As CDOs são vendidas, mas consegue-se
apenas um bilhão de dólares por elas. Dessa forma, teremos aqui
dois bilhões em ativos, em que, essencialmente, são dois bilhões de
dólares em dinheiro. E isso é tudo o que existe. Além disso, provavelmente existem alguns
edifícios que não estamos listando aqui. Também tem a marca e tudo isso.
Porém, a esse cara é devido três bilhões. Então ele diz: "Ok, você
sabe o que eu vou fazer: eu vou ficar com isso e manter
a empresa em execução. Vou manter esses dois bilhões
de dólares nela, mas eu quero tudo
das novas ações da empresa." Diante disso, o tribunal de falências vai
fazê-los criarem uma nova entidade corporativa, e com isso todos esses ativos serão
colocados nessa nova entidade e serão emitidas outras 100 milhões de ações,
ou seja, será criada uma nova entidade, em que a nova entidade tem dois bilhões
de dólares em ativos. Dois bilhões em dinheiro. E digamos
que não tenha nenhuma outra dívida. Mas existe também a possibilidade desses credores
falarem que precisamos realmente dar algum dinheiro. Só que eu não vou entrar nesse ponto aqui agora
porque eu não quero confundir as coisas aqui, e também vamos dizer que esse banco
não tenha outras dívidas. Com isso, essa nova empresa terá dois bilhões
de patrimônio e terá 100 milhões de ações. Portanto, o novo valor contábil
de cada ação é 20 dólares por ação. É aí que você vai me dizer
o seguinte: "Olha, isso é ótimo! E eu bem que poderia ter comprado ações
dessa empresa antes, quando custava um dólar, porque agora cada ação
está valendo 20 dólares." Mas não, não é esse o caso.
Na verdade, é horrível. Essas ações, ações
da velha empresa, valem zero, porque quando a
empresa foi liquidada... Na verdade, ela não foi liquidada, né?
Os novos donos apenas liquidaram as CDOs e ficaram com dois bilhões
de dólares em caixa. A empresa devia três bilhões de dólares
ao credor, mas o credor disse: "Quer saber? Eu vou pegar
toda a empresa para mim, e nem com isso eu vou conseguir
tudo o que eu mereço, mas eu vou
conseguir toda a empresa." Então, essencialmente,
quem realizou o empréstimo C possui, agora, todas
as ações da empresa. Os acionistas antigos foram eliminados,
ou seja, eles não são mais acionistas da empresa. Então todas essas ações
antigas agora valem zero. Esse é o ponto
interessante nesse exemplo, porque eu vi pessoas dizendo que poderiam ter
comprado ações do Lehman Brothers por um dólar, e que isso seria um ótimo negócio.
Mas não é esse o caso. Essas pessoas vão dizer que
o Lehman Brothers tem todos esses ativos e que isso nunca vai
completamente desaparecer. Pode ser verdade
até certo ponto, até porque os ativos do Lehman Brothers
podem ser maiores do que os seus passivos, mas durante a crise de 2008, o patrimônio
dessa instituição acabou ficando negativo. Portanto, um dólar por ação
não é um grande negócio. Se você realmente pensou que
o Lehman Brothers no longo prazo ia voltar, o que você deveria fazer
é, de alguma forma, tentar se tornar um
de seus detentores de títulos. Aí, quando a instituição
passasse pela falência, do outro lado da falência você poderia
acabar tendo algumas ações do novo banco, ou seja lá
como for chamado. Enfim, eu espero que você
tenha compreendido a ideia, mas uma coisa que ainda vamos
conversar em outro momento é que diante de todas essas
discussões que realizamos vamos mostrar porque o sistema financeiro
ficou congelado na crise de 2008 e o que o resgate financeiro
do governo buscou fazer. Então um forte abraço
e até a próxima!