O harpista, período cicládico antigo

♪ Estamos no Museu Arqueológico Nacional de Atenas, olhando para uma pequena escultura de um homem sentando em uma cadeira tocando harpa. Mas o que o torna um objeto notável é que possui, provavelmente, cerca de 5.000 anos de idade. Há apenas cerca de dez dessas que foram descobertas nas Ilhas Cíclades ao sul do Mar Egeu. O que encontramos, principalmente, foram grandes e delgadas figuras femininas abstratas em sua maioria encontradas em sepulturas. Foram produzidas ao longo de centenas e centenas de anos, de vários tamanhos. Não sabemos muito sobre essas esculturas e a razão para isso seja talvez porque apenas 10% dessas figuras foram recuperadas por arqueólogos modernos, em condições controladas. A grande maioria dessas esculturas, masculinas e femininas, vieram à luz no mercado de arte. Ou seja, alguém foi e as desenterrou a fim de vendê-las. O resultado é que não possuímos registros arqueológicos científicos de onde foram encontrados, em que nível foram encontrados dessa forma, a cronologia é quase impossível. Não sabemos com o que foram encontrados. Não sabemos nada sobre o contexto da descoberta e, na verdade, nunca saberemos, pois o conhecimento se perdeu para sempre. Assim, não só temos um problema com o registro, mas também porque eram muito populares no início do século XX. Foram descobertas por artistas modernos e, portanto, acho que muitas podem ter sido criadas como falsificações. Assim, o mercado de arte, pensamos, está repleto de objetos autênticos que foram desenterrados ilegalmente e falsificações, ou seja, objetos que foram produzidos no mundo moderno a fim de parecerem como se fossem antigas. Quando olhamos esses objetos vemos porque os artistas modernos se apaixonaram. Há uma espécie de simplicidade. Sabemos que Brâncuşi respondeu a eles. Sabemos que Modigliani respondeu a eles. Sabemos que Picasso amou esses objetos. Eles são altamente abstratos e assim parecem para nós de uma forma que não é verdade, em face do que originalmente pareciam. Sabemos que áreas das esculturas foram pintadas com cores muito brilhantes, e por isso esse branco imaculado de forma abstrata de mármore, que tanto apreciamos na era moderna, não é o que as pessoas de Creta estavam produzindo. E note as diferenças entre as figuras masculinas e femininas. As figuras masculinas são arredondadas. O mobiliário é arredondado. É tubular. A cabeça da figura está para trás, como se estivesse cantando, mas é claro que não sabemos. Há certa projeção daquela harpa, que pensamos poder ser a cabeça de um pássaro, talvez um cisne. Novamente, reitero, não sabemos. Enquanto que, as figuras femininas são mais frontais, e elas estão cortadas de um jeito que acentua a geometria de seus corpos. As figuras femininas não são apenas abstratas, mas também são muito compactas. Os membros estão dobrados para dentro. Não há nenhum espaço entre os braços e o tronco. Não há nenhum espaço entre as pernas. Os joelhos estão levemente dobrados. Não há nenhum sentido real de movimento. É uma composição fechada que enfatiza o contorno das figuras. Olhe para essa forma de rosto que se assemelha a um escudo. e a maneira como o nariz projeta. Eles são lindos sem olhos, mas havia olhos pintados. Havia uma boca pintada. Inicialmente os vemos como planos, mas quando olhamos por certo tempo, vemos que a cabeça está em um ângulo e o pescoço em outro. Então nós temos a superfície mais complicada do torso. Em seguida, parece como se as coxas se projetassem para fora, e as canelas para dentro novamente e depois, claro, temos o inverso com os pés e então há uma dobrada similar a um acordeão bem leve do corpo Poderíamos pensar nas figuras Kouroi do século VII, de origem grega, muito mais tardia e na Grécia continental. Lá observamos figuras masculinas nuas e figuras femininas vestidas. E aqui essas figuras femininas estão todas nuas. Isso levou historiadores da arte e arqueólogos a especular que talvez estejam de alguma forma relacionadas à deusas neolíticas da fertilidade. Mas a palavra-chave aqui é especular, porque não temos registros escritos. Tudo o que temos é o próprio objeto. Eles têm sido despojados de todo o seu significado cultural original e em alguns aspectos, também é uma ideia muito modernista que podemos apreciar a estética, o objeto em si, descolado de seu real significado. ♪ Traduzido por Jessica Mazzini