Sarcófago de Hagia Triada

Muitas imagens de rituais Minóicos são fragmentadas e, portanto, difíceis de interpretar. Há pouquíssimas representações completas de narrativas religiosas, e a Hagia Triada (também às vezes chamada “Agia Triada”) é a melhor entre elas. Este foi encontrado em 1903 pelo arqueólogo italiano Roberto Paribeni no Túmulo 4 do cemitério no topo da colina ao norte do sítio de Hagia Triada, um antigo e rico assentamento Minoano no centro sul de Creta. O túmulo 4 era uma tumba familiar contendo o sarcófago, construído de calcário, e outro grande caixão de cerâmica. O túmulo foi saqueado na antiguidade, mas alguns pequenos bens funerários foram deixados para trás pelos saqueadores: uma bacia de pedra esculpida, uma concha de tritão e um fragmento de uma estatueta feminina de terracota. Esses espólios remanescentes e a natureza elaborada do sarcófago de Hagia Triada levaram à identificação do Túmulo 4 como da realeza.

O sarcófago de Hagia Triada é o único sarcófago Minoano conhecido por ser inteiramente pintado. Foi criado usando afresco, como a pintura de parede da época, e ilustra uma cena narrativa complexa, aparentemente de sepultamento e sacrifício. A peça em si é grande, medindo 1,375 metros de comprimento, 0,45 metros de largura e 0,985 metros de altura.

Um dos lados compridos é o mais completo e mostra uma procissão fúnebre de portadores de oferendas e uma cerimônia de que apresenta sete figuras - duas mulheres e cinco homens. Na extremidade esquerda, vemos uma mulher de perfil voltada para a esquerda, vestida com uma elaborada saia de couro e camisa de mangas curtas aberta, segurando um vaso com as duas mãos enquanto despeja o conteúdo em um vaso maior, que está apoiado em uma plataforma de pedra entre duas pilastras. As pilastras estão montadas em bases de pedra ricamente adornadas e são terminadas por machados duplos que são coroados por pássaros. Atrás da mulher que despeja está outra mulher, e atrás dela, um homem. A segunda mulher, que está elaboradamente vestida e usa uma coroa de lírios, leva em seus ombros uma vara que sustenta dois vasos idênticos àquele que está sendo usado para despejar pela primeira mulher. O homem atrás dela toca uma lira e também está elaboradamente vestido.,

As outras três pessoas da esquerda são homens jovens, cada um com peito nu e vestindo uma saia de couro. Os dois primeiros seguram estátuas bovinas, uma malhada de marron e a outra de preto; o terceiro homem segura uma maquete de um barco. Esses três homens estão em perfil composto, com ombros frontais, mas pernas e cabeça de perfil, uma convenção comum da pintura Egípcia. Eles também são colocados contra um fundo azul, que é diferente do resto da cena deste lado do sarcófago. Outro homem encara esses três. Ele não tem pés e parece que posa como uma escultura, e se imagina que isso representa uma pessoa falecida. Ele usa um longo manto de couro com detalhes dourados.

Entre os três homens e o falecido há um conjunto de três degraus, talvez um altar, que tem algum dano no topo. Há uma árvore acima do altar, e é possível (com base em outras imagens de altares semelhantes) que ela supostamente esteja crescendo a partir do próprio altar. Atrás do falecido há outra estrutura, elaboradamente pintada com espirais e incrustada com pedras raiadas. Pensa-se que este seja o túmulo do falecido.

No lado oposto do sarcófago há outras sete figuras—seis femininas e uma masculina. Começando de novo a partir da esquerda, nos deparamos com uma grande quantidade de danos que só deixa as pernas e os pés de dois pares de mulheres, todas com longas túnicas elaboradas, movendo-se para a direita.

Uma quinta figura feminina, totalmente visível, as lidera, também bem vestida e usando uma coroa de lírios. Ela está de perfil completo, com cabelos amarelos, os braços estendidos em direção ao chão. Ela e as quatro mulheres atrás dela estão todas colocadas em um fundo amarelo brilhante. Movendo-se para a direita, a cor do fundo muda para branco e contra ele está um tocador de flauta dupla usando um robe azul curto e longos cachos. Ele está de pé atrás de uma mesa de oferendas na qual jaz um touro de lado, de frente para o espectador. Gotas vermelhas de sangue podem ser vistas vindas do pescoço do touro e derramando-se em um vaso que fica ao pé da mesa. Abaixo da mesa há duas cabras pequenas, possivelmente aguardando um destino semelhante.

À direita deste grande altar, a cor do plano de fundo muda para azul; uma mulher está diante de outro altar baixo usando uma saia de couro. Este altar é decorado com um desenho em espiral vermelho e branco e em cima há uma tigela cinza rasa, possivelmente prateada, acima da qual flutuam um jarro comprido pintado e uma tigela de duas alças com o que parecem ser frutas redondas—possivelmente todas oferendas. À direita deste altar há outro poste, este colocado em uma base xadrez vermelha e branca, com um machado duplo e um pássaro no topo. Por último, no campo há uma estrutura arquitetônica, também com espirais vermelhas e brancas e quatro pares de chifres no topo, e da qual cresce uma grande árvore verde.

Um dos lados curtos do sarcófago da Hagia Triada tem duas cenas situadas uma em cima da outra, enquanto o lado curto oposto tem apenas uma cena. No lado com as duas cenas, a de cima está quase totalmente perdida por danos, mas tem sobras suficientes para mostrar uma procissão de homens em kilts curtos de tecidos ricamente entrelaçados. Abaixo desta cena está uma carruagem puxada a cavalo com um carro de couro de boi no qual duas mulheres cavalgam, ambas vestidas com mantos elaborados e uma segurando um chicote.

Do outro lado curto, há uma carruagem puxada por um grifo, com outro par de mulheres montado em uma carro de couro de boi também ricamente vestidas e usando chapéus pontudos. Os são multicoloridos e abrem as asas, como se estivessem em voo; acima deles voa um pássaro de perfil, movendo-se na direção oposta.

De certa forma, o que vemos no sarcófago de Hagia Triada é simples de entender: mulheres e homens em roupas de elite estão ocupados fazendo sacrifícios e preparando o morto para o enterro diante de seu túmulo. No entanto, olhando mais profundamente, muitas questões permanecem. Como isso pode ser interpretado? Existe uma ordem prescrita para as imagens? O que a mudança na cor do plano de fundo significa? Quem exatamente são estas pessoas—são todas elas sacerdotisas e sacerdotes? São elas personagens mitológicos? Quem era o falecido? Isso era um tipo especial de enterro, ou todos recebiam este tratamento? Estas são questões que ainda precisam ser respondidas com certeza.