Templo Branco e zigurate, Uruk

Uruk (Warka moderna no Iraque), local em que a vida na cidade começou há mais de cinco mil anos e onde surgiu a primeira escrita, foi claramente um dos lugares mais importantes do sul da Mesopotâmia. O maior monumento que havia em Uruk era o Zigurate de Anu, no qual foi construído o Templo Branco. Datando do fim do 4º milênio a.C (o Período Uruk Tardio, ou Uruk III) e dedicado ao deus céu Anu, esse templo devia se erguer bem acima (aproximadamente 12 metros) da planície lisa de Uruk, e ter sido visível de grande distância, mesmo sobre os muros de defesa da cidade.

Um zigurate é uma plataforma elevada construída com quatro lados inclinados, como uma pirâmide cortada. Zigurates são feitos com tijolos de barro, o material de construção preferido no Oriente Médio, já que a pedra era rara. Zigurates não eram apenas um ponto visual central da cidade, eles eram simbólicos; eram também o coração do sistema político teocrático (uma teocracia é um estilo de governo onde um deus é reconhecido como governante, e os funcionários do estado operam em nome do deus). Então, ao ver o zigurate elevado acima da cidade, se fazia uma conexão visual com o deus ou a deusa ali reverenciada, mas também se reconhecia a autoridade política daquela deidade.

Escavadores do Templo Branco estimam que teriam sido necessários 1500 trabalhadores trabalhando em média 10 horas por dia, por cerca de 5 anos para construir o último revestimento principal (revestimento de pedra) do seu enorme terraço (as áreas abertas ao redor do Templo Branco no topo do zigurate). Embora a crença religiosa possa ter inspirado a participação em tal projeto, não há dúvida que algum tipo de coação (trabalho corveia - trabalho não remunerado coagido pelo estado / escravidão) também estava envolvida.

Os lados do zigurate eram bem largos e inclinados, porém quebrados por faixas ou fitas rebaixadas do topo ao chão (veja a reconstrução digital acima), que teriam criado padrões deslumbrantes com a luz do sol da manhã ou da tarde. O único caminho ao topo do zigurate era por uma escadaria íngreme que levava a uma rampa que circundava o extremo norte do Zigurate e chegava à entrada do templo. O topo liso do zigurate era revestido com betume (asfalto, um material semelhante ao piche ou resina, similar ao que é utilizado em pavimentação de estradas) e coberto com tijolos, para se ter uma fundação firme e à prova d'água para o Templo Branco. O templo recebe esse nome pelo fato de ter sido embranquecido dentro e fora, o que deve ter gerado um brilho esplêndido na forte luz do sol.

O Templo Branco era retangular, medindo 17.5 x 22.3 metros e, em seus cantos, orientado para os pontos cardeais. É um típico "alto templo (Hochtempel)" de Uruk, com uma planta tripartida: um salão central longo e retangular com salas em ambos os lados (plan). O Templo Branco tinha três entradas, nenhuma delas voltada diretamente para a rampa do zigurate. Os visitantes teriam que andar em volta do templo, apreciando sua fachada brilhante e a vista poderosa, e provavelmente ganhavam acesso ao interior em uma aproximação de "eixo dobrado" (onde se teria que virar 90 graus para encarar o altar), um típico arranjo para templos Antigos do Oriente Médio.

As câmaras dos cantos noroeste e leste do edifício continham escadarias (inacabadas no caso da extremidade norte). As câmaras no meio da sala noroeste parecem ter sido equipadas com prateleiras de madeira nas paredes e exibiam cavidades para a colocação de pivôs, o que poderia implicar que uma porta sólida fora colocada nesses espaços. O extremo norte do salão central tinha um pódio acessível por meio de uma pequena escadaria e um altar com uma superfície manchada pelo fogo. Muito poucos objetos foram encontrados dentro do Templo Branco, embora o que foi encontrado seja muito interessante. Os arqueologistas descobriram 19 tábuas de gesso no chão do templo - todas tendo impressões de selos cilíndricas e sugeriam a contabilidade do templo. Além disso, os arqueólogos descobriram um jazigo com os ossos de um leopardo e um leão no canto leste do Templo (jazigos, objetos enterrados ritualmente e ossos, não são incomuns na arquitetura antiga).

Ao norte do Templo Branco havia um terraço amplo e plano, no centro do qual os arqueólogos encontraram um enorme poço com vestígios de fogo (2,2 x 2,7m) e um pedaço em arco de uma rocha enorme. Mais interessante ainda, foi descoberto um sistema de conduítes rasos revestidos de betume. Esses corriam do sudeste e sudoeste das bordas do terraço e entravam no templo através das portas sudeste e sudoeste. Os arqueólogos imaginam que os líquidos fluíam do terraço para serem recolhidos em um poço no salão central do templo.

Ensaio da Dra. Senta German