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Paleta do Rei Narmer

Paleta do rei Narmer de Hieracômpolis, Egito, época pré-dinástica, 3000-2920 a.C. 63,5 cm de altura (Museu Egípcio, Cairo)

De Importância vital, mas difícil de se interpretar

Alguns artefatos são de tamanha importância para nossa compreensão de culturas antigas que acabam sendo considerados de fato únicos e insubstituíveis. A máscara de ouro de Tutancâmon pode ser levada ao exterior para exibição; a paleta de Narmer, entretanto, é tão valiosa que nunca foi permitido que deixasse seu país.
Descoberto entre um grupo de implementos sagrados, ritualmente enterrados em um depósito dentro de um templo primitivo do Deus Falcão Horus em Hieracômpolis (a capital do Egito durante o período pré-dinástico), este grande objeto cerimonial é um dos mais importante artefatos do início da civilização egípcia. A paleta lindamente esculpida de 63,5 cm (mais de 2 pés) de altura e feita de ardósia verde-acinzentada, é decorada em ambas as faces com detalhes em baixo relevo. Essas cenas mostram um rei, identificado pelo nome de Narmer, e uma série de cenas ambíguas, muito difíceis de serem interpretadas, o que resultou em diversas teorias a respeito de seus significados.
A alta qualidade da obra, e sua função original como objeto ritualístico dedicado a um Deus e a complexidade das imagens indicam claramente que este era um objeto significativo, mas uma interpretação satisfatória das cenas ainda não foi definida.

Para que esta paleta era usada?

O objeto é uma versão monumental de um item de uso diário comumente encontrado no período pré-dinástico— as paletas geralmente eram planas, minimamente decoradas usadas para moer e misturar minerais para cosméticos. O delineador escuro era essencial na região ensolarada, assim como as listras escuras sob os olhos dos atletas modernos. Os cosméticos pretos ao redor dos olhos serviam para reduzir a claridade. Paletas de cosmético estavam entre os objetos mais comuns encontrados nesta época.
No entanto, além deste uso simples e funcional, haviam também um grande número de paletas maiores e mais elaboradas neste período. Estes objetos, além da função de servirem de base para a moagem e mistura de cosméticos, também eram cuidadosamente esculpidos em relevo. Muitas das paletas anteriores exibiam animais— alguns reais, outros fantásticos— enquanto os exemplares posteriores, como a paleta de Narmer, focavam as ações humanas. Pesquisas sugerem que estas paletas decoradas eram usadas em cerimônias no templo, talvez para moer ou misturar a maquiagem que seria ritualmente aplicada na imagem do Deus. Mais tarde, os rituais incluíam cerimônias diárias elaboradas envolvendo a unção e a preparação de imagens divinas; essas paletas provavelmente indicam o início deste processo.

Um objeto cerimonial, ritualmente enterrado

A  Paleta de Narmer  foi descoberta em 1989 por James Quibell e Frederick Green. Ela foi encontrada com uma coleção de outros objetos que haviam sido usados para fins cerimoniais e então ritualmente enterrados dentro do templo em Hieracômpolis.
Esconderijos deste tipo são comuns nos templos. Havia grande interesse nos objetos de rituais e votivos (oferendas ao Deus) nos templos. Cada governante, membro da elite, e qualquer outra pessoa que tivesse condições de pagar, doava itens para o templo para mostrar sua piedade e aumentar sua conexão com a divindade. Depois de um tempo, o templo estaria cheio desses objetos e seria necessária a liberação de mais espaço para novas doações votivas. No entanto, como haviam sido dedicados ao templo e santificados, os itens antigos não podiam ser simplesmente descartados ou vendidos. Em vez disso, a prática geral era enterrá-los em um poço sob o piso do templo. Muitas vezes estes esconderijos incluíam objetos de datas variadas e um mistura de tipos, de estatuária real à mobília.
A Paleta dos dois cães, Hieramcôpolis, Egito, c.3100 A.C. (Museu Ahmolean, Universidade de Oxford)
7nbsp;O " Depósito central" em Hieramcôpolis, onde a   Paleta de Narmer  foi encontrada, continha centenas de objetos, incluindo um grande número de grandes repouso de cabeça de cerimonial, estatuetas de marfim, cabos de faca entalhados, estatuetas de escorpião e outros animais, vasos de pedra e uma segunda paleta elaboradamente decorada (que agora está no Museum Ashmolean em Oxford), conhecida como a   Paleta dos dois cães.

Convenções que permanecem há milhares de anos

Existem várias razões pelas quais a Paleta de Narmer é considerada tão importante Primeiro, ela é uma das poucas paletas deste tipo a serem descobertas em uma escavação controlada. Em segundo lugar, há algumas características formais e iconográficas presentes na Paleta de Narmer que permanecem convencionais em arte bidimensional egípcia pelos seguintes três milênios. Algumas destas características são a maneira como os números são representados, a organização das cenas em zonas horizontais regulares conhecidas como registros e o uso da escala hierárquica para indicar a importância relativa dos indivíduos.  Além disso, muitos dos acessórios e roupas suntuosas usadas pelo rei, como as coroas, kilts, barba real e cauda de touro, bem como outros elementos visuais, tais como a pose de Narmer em uma das faces, onde ele agarra um inimigo pelo cabelo e prepara-se para esmagar seu crânio com uma maça, continuam a ser utilizados a partir deste momento até o fim da época romana.

O que vemos na paleta

O rei é representado duas vezes em forma humana, uma vez em cada face, seguido por seu portador das sandálias. Ele pode também ser representado como um touro poderoso, destruindo uma cidade murada com seus chifres enormes de uma forma que mais uma vez se torna convencional— refere-se normalmente ao faraó como "Touro forte."
Além das cenas principais, a paleta inclui um par de criaturas fantásticas, conhecidas como serpopardos — leopardos com pescoços longos, similares ao de cobras — e que tem coleiras postas por um par de atendentes que os controlam. Seus pescoços se entrelaçam e definem o local onde foi feita a preparação da maquiagem. O registro mais baixo, em ambos os lados, incluem imagens de inimigos mortos, enquanto os registros na parte superior mostram cabeças híbridas de humano e touro e o nome do rei. A parte frontal das cabeças dos touros estão provavelmente ligadas a uma deusa do céu conhecida como Morcego e se relacionam ao paraíso e o horizonte. O nome do rei, escrito em hierófligos como um peixe-gato e um cinzel, está dentro de um quadrado que representa a fachada do palácio.

Uma possível interpretação: a unificação do alto e baixo Egito.

Como já foi mencionado, há diversas teorias relacionadas às cenas entalhadas nesta paleta. Alguns interpretaram as cenas de batalha como sendo o registro de uma narrativa histórica do início da unificação do Egito sob um só governante, baseado no sincronismo geral (como é o período da unificação) e ao fato de que Narmer ostenta a coroa ligada ao Alto Egito em uma face da paleta e a coroa do baixo Egito na outra— este é o primeiro exemplo preservado onde ambas as coroas são usadas pelo mesmo governante. Outras teorias sugerem que estas cenas, ao invés de uma representação histórica real, foram puramente cerimoniais e se relacionam ao conceito de unificação em geral.

Paleta do Rei Narmer (detalhe)

Outra interpretação: o sol e o rei

Pesquisas mais recentes sobre o programa decorativo conectou as imagens ao cuidadoso equilíbrio entre ordem e caos (conhecidos como ma'at e isfet) que foi um elemento fundamental da concepção egípcia de cosmos. Isso também pode estar relacionado à jornada diária do deus do sol que se torna um aspecto central da religião egípcia nos séculos subsequentes.
Paleta de Narmer (detalhe)
A cena mostra Narmer portando a Coroa Egípcia Vermelha (com sua peculiar espiral) * retrata-o se aproximando dos corpos decapitados de seus inimigos. As duas fileiras de corpos prostados são colocados abaixo de uma imagem de um barco com uma grande proa se preparando para passar por um portão. Isto pode ser uma referência anterior a uma viagem do Deus Sol em seu barco. Em textos posteriores, a Coroa Vermelha se relaciona às batalhas sangrentas travadas pelo Deus sol antes do amanhecer rosado em sua viagem diária e esta cena pode estar relacionada a isto. É interessante notar que os inimigos são mostrados como não apenas executados, mas totalmente rendidos e importentes— seus pênis castrados foram colocados no alto de suas cabeças cortadas.
Na outra face, Narmer veste a Coroa Branca do Alto Egito* (que parece um pino de boliche) quando ele agarra um inimigo inerte pelos cabelos e se prepara para esmagar seu crânio. A coroa branca se relaciona ao deslumbrante brilho do sol do meio dia no seu zênite assim como a luminosa luz noturna das estrelas e da lua. Ao usar as duas coroas, Narmer podia estar não apenas expressando cerimonialmente seu domínio sobre o Egito unificado, mas também a importância do ciclo solar e do papel do rei neste processo diário.
Este objeto fascinante é um exemplo incrível do início da arte egípcia. As imagens preservadas nesta paleta oferece uma visão além para a riqueza dos aspectos visuais e religiosos que se desenvolveram nos períodos que se seguiram. é um artefato de vital importância e significado para nosso entendimento sobre o desenvolvimento da cultura egípcia em diversos níveis.
*A coroa vermelha do baixo egito e a coroa branca do alto Egito foram as primeiras coroas usados por um rei e estão intimamente ligadas à unificação do país que floresceu na civilzação egípcia. A primeira representação deles usado pelo mesmo governante está na  Paleta de Narmer, o que significa que o mesmo rei governava sobre as duas partes do país. Logo depois da unificação, o quinto governando da Primeira Dinastia é mostrado usando as duas coroas simultaneamente, combinadas em uma só. Esta coroa, conhecida como a coroa dupla, continua a ser a primeira coroa usada por um faraó ao longo da história do Egito. As coroas vermelho e branca, separadamente, entretanto, continuam a ser usadas e se relacionam a conexões geográficas. Há diversas palavras egípcias para essas coroas (nome para a Branca e 11 para a Vermelhas), mas a mais comum —deshert and hedjet&mdash, se referem às cores vermelho e branca, respectivamente. É com estes termos que tiramos seu nome moderno. Textos anteriores deixam claro que acreditava-se que estas coroas estavam imbuídas de poder divino e foram personificadas como deusas.
Ensaio da Dra. Amy Calvert.
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