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Frontões Leste e Oeste, Templo de Afaia, Egina
Frontões Leste e Oeste do Templo de Afaia, Egina, Períodos Arcaico/Clássico Antigo, c. 490-480 a.C. (Gliptoteca, Munique) Oradores: Dra. Beth Harris & Dr. Steven Zucker. Criado por Beth Harris e Steven Zucker.
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Estamos no Gliptoteca em Munique, esse é um museu extraordinário,
dedicado às antiguidades gregas e romanas, e tudo isso graças ao príncipe Ludwig de Baviera, que no
princípio do século 19 disse que queria fundar uma coleção de obras antigas de
escultura, porque, como ele disse, devemos ter em Munique o que em Roma
se conhece como um museu. Eu adoro isso; você sabe, a palavra museu não era muito
usada, a ideia de uma coleção pública surgiu na Grã Bretanha, na França, e aqui
na Alemanha, e Ludwig era pro Munique. Ele escreveu: "Vou transformar Munique na
cidade das artes, para ninguém venha à Alemanha sem ver Munique". A arte foi uma
forma de pôr a cidade no mapa; lhe dava superioridade cultural, e Ludwig reuniu
uma coleção incrível, e estamos vendo um dos grandes tesouros do museu, as
esculturas do templo de Afaia na ilha de Egina, ao largo da costa grega. É uma
ilha que pode ser vista de Atenas, está próxima da Grécia continental. Na verdade
não devíamos dizer frontão, mas frontões. Vamos explicar isso. Num templo grego, por
exemplo o Partenon, há uma estrutura longa com uma água em cada lado, ou seja, acima
das colunas. Em cada extremidade do templo há um triangulo achatado, e comumente,
eram as áreas que continham as esculturas. No templo de Afaia há um frontão no lado
leste e outro no lado oeste, nas duas extremidades do templo. As
esculturas que preenchem esses frontões foram descobertas no início do século 19,
quando arquitetos alemães axaminavam as ruínas do templo, e elas logo foram a
leilão, e Ludwig ficou as adquiriu para o seu museu. As esculturas dos frontões não
foram feitas num mesmo período, e isso as torna mais interessantes, pois nos ajuda
a ver a evolução da escultura grega. O frontão oeste é anterior, e achamos que
essas esculturas foram feitas quando o templo foi construído, cerca de 490 AC. O
lado leste é mais novo, e o interessante é que as esculturas antigas do oeste estão
na tradição arcaica, mas as do frontão leste têm características do estilo que
hoje conhecemos por Clássico. Podemos dizer que é o início do Clássico
para as esculturas do frontal leste, esse momento de transição onde o estilo na
verdade estava sendo inventado. Agora, o tema de ambos os frontões foi a
guerra de Troia, entre troianos e gregos. Ela foi na verdade uma guerra mítica, mas
sabemos dela porque ela foi o tema do grande poema épico de Homero, "A Ilíada",
e alguns dos heróis da Guerra de Tróia são da ilha de Egina, por isso faz sentido
que eles apareçam nos frontões. Então, comecemos pelas esculturas do
frontão ocidental. Por ser um espaço cheio de esculturas, o frontão
é um ambiente estranho. É muito estranho, porque temos essas
duas áreas estreitas do triângulo, que são muito difíceis de preencher, e uma
das formas é ter as figuras reclinando. Bem, é como se as esculturas tivessem que
jogar limbo, elas ficam cada vez menores ao se mover para as bordas. Mas nesse caso
o escultor foi bem criativo, e encontrou uma solução maravilhosa. Bem no centro do
frontão, em ambos os lados Leste e Oeste, temos um figura de pé, nobre, olhando para
frente, a Deusa Atenas. E Atenas era conhecida como a Deusa da
Guerra, além de ser a Deusa da Sabedoria. No frontão oeste, vemos Atenas, agora
segurando uma haste moderna, que deve representar uma lança que originalmente
seria em madeira, mais provavelmente em bronze ou outro metal. Ao olhamos Atenas,
vemos uma figura típica do estilo arcaico. Ela está de frente, rígida, razoavelmente
simétrica, com uma característica linear. Ela tem um típico sorriso arcaico, que
dela tira a emoção, que a tira do dia a dia. Ela parece uma deusa
transcendente. Em ambos os lados da Atenas de pé estão dois guerreiros movendo-se
para fora. Na verdade eles estão arremessando lanças. Um deles tem seu
escudo voltado para nós, o outro mudou de direção, e o tem voltado pro outro lado,
mas eles movem nossos olhos em ambas as direções, com uma energia e velocidade
reais, e eles estão um pouco mais baixos, pois seus joelhos estão dobrados para que
se encaixem sob o telhado. De ambos os lados vemos arqueiros de joelhos. O da
esquerda é identificado como Paris; vemos seu gorro amarrado nas costas, seu peso
sobre o joelho e o calcanhar. O arco está faltando, mas vemos o movimento dos braços
que sugere que ele estava no instante de perder sua flexa. E atrás dele, uma figura
avançando com uma arma, atacando outra que está no chão. Olhem a complexidade
desse grupo de três, a maneira como se sobrepõem. Há uma verdadeira sensação de
dinamismo, o que é extraordinário para o período arcaico. E então no canto
esquerdo, outra figura ferida se encaixa no espaço do canto. Vamos focar um pouco
no guerreiro ferido no lado direito do frontão oeste. Vemos que ele caiu pra trás
sobre o quadril e o cotovelo esquerdos, e sua mão direita parece estar agarrando
ou tentando remover a lança que o feriu. Deixe-me o interromper um momento, porque
ele não parece estar na posição de um guerreiro ferido. Seu joelho está dobrado
sobre sua perna esquerda, ele está apoiado no braço esquerdo e o cotovelo direito
sobe de uma forma estranha. Essa figura não parece fiel ao que ela pretende estar
fazendo, puxando uma flecha de seu corpo É verdade, e isso deve ser tremendamente
doloroso, provavelmente o mataria. E olhe seu rosto, ainda retém o sorriso arcaico.
Para nós é importante lembrar que isso não é naturalismo. Não é uma tentativa de
apresentar os sentimentos do encarnado é uma estrutura altamente estilizada,
esquemática, e de certa forma, é um símbolo, mais que uma figura real, o
símbolo de um guerreiro caído na Guerra de Tróia. Um historiador comparou essa figura
com as dos vasos, onde sempre havia uma tentativa de se levantar o torso para que
se pudesse ver toda a musculatura frontal. Isso não é naturalismo, é de certa forma
revelar o corpo. O mesmo historiador comparou essa figura com um kouros
reclinado, e é com o que ela se parece. É como se a figura de um kouros fosse
derrubada. Isso é bem diferente do que vemos no frontão leste, apenas uma ou duas
décadas mais novo, no início do estilo clássico. Vamos dar uma olhada. O frontão
leste é muito mais fragmentado no lado esquerdo, mas uma figura, o soldado
caído, está em boa condição, o que é diferente do que vemos na fachada oeste.
Essa figura ainda tem um certo sorriso arcaico, mas tudo mais sobre a posição
desse corpo nos diz que é uma figura ferida agonizando. Vemos que ele tem uma
espada na mão direita, mas também está tentando se levantar, sem conseguir. Seu
braço esquerdo ainda leva o escudo, e ele parece estar se equilibrando, antes que o
escudo caia. Há a sensação que ele está se apoiando mas também caindo, morrendo. Ele
está olhando para baixo, seu corpo é mais maduro que a outra figura, e também é
apresentado muito mais naturalisticamente. Estamos na origem da tradição clássica. No
período arcaico, temos duras divisões nos os músculos e partes do corpo. Quase como
esboços das partes do corpo, e aqui, vemos músculos se sobrepondo, e uma sensação
de que a pele está sobre um esqueleto. É verdade, há pouco você disse que as
esculturas não eram mais que símbolos. E aqui, é como se o artista observasse o
corpo humano como ele deve ser ao cair. Em vez da perna detrás sobre a da frente,
de modo forçado, e do cotovelo levantado, a mão direita está em cima do torso. Não
há a intenção de se mostrar todo o corpo inclinado para nós como tínhamos na figura
arcaica. Agora olhe o torso. Olhe os músculos da perna, isto é uma mostra muito
mais complexa do corpo numa pose complexa. Como no frontão oeste, ao olharmos o
leste, temos uma figura central, Atenas. Ao lado de Atenas, figuras mais intactas
Temos uma figura se lançando, vimos isso também no frontão oeste, a qual está num
processo de empalar um homem que perdeu seu capacete, seu escudo está caindo e
ele perde o equilíbrio. Ele parece estar desmoronando. Sabemos
que ele perdeu seu capacete porque o jovem atrás dele parece tentar ajuda-lo
correndo em sua direção. Ele está segurando um fragmento que
que foi originalmente seu capacete. Seu corpo forma uma diagonal no bote e se
encaixa no espaço triangular do frontão, e atrás dele há outro arqueiro, como o que
vimos no frontão oeste. Arqueologistas acham que se trata do arqueiro que atingiu
o guerreiro ferido do lado oposto. É isso. Então temos bela unificação da
ação entre as figuras no frontal leste. Temos esta narrativa mais complexa, mesmo
que a história seja a mesma. Temos uma musculatura mais complexa, e mais atenção
com a experiência humana, e isso nos faz perguntar o que mudou. São poucos anos
entre esses frontões, e eles são tão diferentes. Essa é uma pergunta feita
por historiadores com obras de arte que são separadas por um curto período, nesse
caso, o que aconteceu com a cultura grega antiga, que levou a representar a figura
humana tão diferentemente. Os gregos foram influenciados pelas esculturas egípcias
monumentais. Vocês podem ter essa sensação na tradição arcaica, mas agora há um
senso de auto conhecimento. Essas são figuras em movimento quase
representando emoção, expressão, e experiência humana, e isso é tão diferente
da ideia da representação de um símbolo, que não está tão presente na arte grega
anterior. Então no período clássico temos figuras que são parte de uma história, a
qual podemos sentir através delas, compadecer delas. E esse é um momento da
história grega antiga no qual os gregos acabaram de derrotar os persas. É uma
vitória épica para a cultura grega, em que várias cidades estado gregas se uniram
para lutar contra seu inimigo, os persas. Esse inimigo comum poderia ter vencido, os
persas poderiam ter ganho. Era um exercito muito maior e os gregos sabiam disso. O
fato de serem vitoriosos sugeria que havia uma espécie de ordem no universo. Uma
sensação de que o mundo não opera arbitrariamente, de acordo com as leis dos
deuses, mas um lugar que a mente humana pode entender. Então há um fardo muito
maior para os gregos com essa descoberta. Eles agora são responsáveis por sua
sociedade, eles não são parte duma ordem aleatória, mas daquela que eles concebem.
Os historiadores vêem as origens do estilo clássico nesse momento histórico. Temos a
obrigação, mesmo agora no século XXI, de tentar nos colocar, mesmo que nos pareça
impossível, na mente dos gregos antigos, e entender essas obras segundo seus pontos
de vista. E é importante lembrar que elas eram pintadas, como as esculturas gregas
antigas, e com cores muito brilhantes. Isso destrói completamente nossa imagem da
arte grega. Ao pensarmos em arte grega, é nessas superfícies puras, brilhantes,
brancas, e elas eram berrantes! Amarelas! Eram azuis! Verdes! Historiadores de arte
e arqueólogos fizeram analises centíficas destas esculturas, e descobriram resíduos
de pigmentos, e determinaram com precisão o vermelho e o azul que encontramos em
alguns desses padrões. É tão chocante imaginar essas cores de volta, e não é só
que essas figuras eram pintadas, o espaço em que elas foram postam também era.
Bem, de qualquer forma não estamos olhando da forma que os gregos antigos faziam.
Primeiro, elas eram externas, ao ar livre, estavam lá encima no frontão, nessa ilha.
Bem, a cor tornaria mais visíveis as figuras que estamos tentando fixar na
arquitetura. Há outro fator que podemos re-imaginar, essas figuras não estavam
apenas portando coisas que desapareceram, lanças, arcos, flechas, mas também tinham
outras peças de metal que desapareceram. Havia cabelo, caindo como franjas sobre a
testa, e madeixas que moldavam as faces. Elas eram feitas de chumbo, e vocês podem
ver as peças de chumbo que restaram, e assim sabemos onde elas saíam da pedra,
e isso deve ter ajudado, eu acho, a criar essas figuras não como simples objetos de
pedra como as vemos, mas sim figuras mais complexas que interagem com seu
ambiente arquitetônico. É bom lembrar que esses eram lugares de culto religioso, e a
figura central nos frontões é Atenas. E a ideia grega de deuses e deusas é muito
diversa da ideia atual da tradição cristã. Essas são coisas importantes de se ter em
mente ao olharmos essas esculturas.