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Curso: Mediterrâneo Antigo > Unidade 6
Lição 6: Classicismo tardio (século IV)Sarcófago de Alexandre
Sarcófago de Alexandre, ca. 312 a.C., Mármore pentélico e policromia, encontrado em Sidon, 195 x 318 x 167 cm (Museus Arqueológicos de Istambul). Oradores: Dra. Elizabeth Macaulay-Lewis e Dr. Steven Zucker. Criado por Steven Zucker e Beth Harris.
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♪(música de piano)♪ Estamos em Istambul
no Museu de Arqueologia, olhando para um de seus grandes tesouros:
o sarcófago de Alexandre. Um sarcófago é algo no qual
você sepulta um corpo. Portanto, um caixão muito grande de pedra. E ocorre que este tipo de pedra é o
mármore que os gregos amam usar. Sim, este é do mármore pentélico,
um dos mármores de maior qualidade, valiosos pela sua sua alvura, sua dureza, e por sua facilidade de se entalhar. É como uma pedra macia,
você pode fazer muitos detalhes. E uma das mais notáveis questões sobre
esse sarcófago é de como é limpo. Está em ótimas condições. Foi encontrado muito tarde em Sidon,
dentro de uma necrópole real. Bem, uma necrópole é basicamente
uma cidade dos mortos e uma necrópole real é uma cidade
de reis mortos e de suas famílias. Essa cidade, a cidade de Sidon,
que atualmente fica no Líbano, foi uma importante cidade Fenícia. Foi um importante porto de comércio,
foram muito ricos. Cidades-estado fenícias controlaram
muito do leste e do sul do mediterrâneo. E os fenícios, eles podem não soar
familiares para você, mas deve ter ouvido sobre uma de suas
colônias mais famosas, que é a colônia de Cártago,
atualmente na Tunísia. Sabemos disso por conta de suas
guerras famosas com os romanos. As guerras púnicas. Particularmente a segunda guerra púnica com Aníbal,
que cruzou os Alpes com seus elefantes. Os arqueologistas procuraram descobrir
de quem foi este túmulo, e há algum consenso que este túmulo pertenceu ao rei de
Sidon. É simplesmente uma espetacular, grande,
cara e linda sepultura. A qualidade do artesanato é
impressionante. E o interessante é que este sarcófago na verdade, tem formato de
um templo grego. Templo grego ou tesouro grego. Pode-se pensar nas as estruturas pesadas
dos templos gregos, na Asia menor (Anatólia), na Grécia
ou do período clássico. Pode-se pensar no Tesouro de Sifnos em
Delfos. Tem muitos detalhes arquitetônicos. Podemos ver detalhes ornamentais tipo
"ovo e dardo". Podemos ver meandros e acrotérios.
Esses são elementos decorativos que normalmente existem no topo
de um templo. Alguém tomou muito cuidado para
que parecesse bem arquitetônico. Tem detalhes altamente complexos,
antes mesmo de chegar até os frisos. Mas veremos os frisos,
pois esses são as estrelas. Os frisos são notáveis. Tem entalhe marcante em relevo
que possuem duas histórias: - Uma é uma cena de batalha.
- Começaremos por aí. O que vemos é um incrivelmente complexo
entrelaçamento de figuras entalhadas com tremendo naturalismo. Incríveis emoção e "pathos". Uma figura que de imediato chama atenção é a de um homem a cavalo com a cabeça
coberta com uma pele de leão o que o torna, para nós quase que
imediatamente identificável. Este é Alexandre o Grande. O homem que conquistou quase todo
o mundo conhecido da época. Alexandre o Grande começa conquistando
os gregos, consolidando seu poder e depois voltando
essa força coesa para os persas do leste. Os persas ainda eram esse notável império
apesar das derrotas que haviam sofrido nas mãos dos gregos,
no século V. Ainda eram esse império que
controlava grandes porções da Ásia e que eram um força a ser considerada. E Alexandre, contra todas
as probabilidades, aventurou-se a conquistar o império,
o que conseguiu. Arte e historiadores tem especulado
que a cena representada neste friso, é a batalha de Isso, que foi
uma das batalhas mais decisivas, onde Alexandre o Grande encaminhou
um exército muito maior dos persas. Antes de tudo, você tem Alexandre
em um local importante. Tinha lutado com os persas
mas também é a figura central que levou vários historiadores
a essa interpretação. E essa personagem central
seria o rei de Sidon. Ele foi nomeado para este posto por
Alexandre o Grande após essa batalha. E também está claro que há os persas aqui. - Como sabemos que são persas?
- Essa sempre é uma boa pergunta. Temos que dar nome aos bárbaros.
Ou como identificar um bárbaro? Gregos, ou macedônios que também
se vestiam como gregos, São muito singulares. Em geral têm muito drapeado,
mas têm as pernas à mostra. Qualquer um usando calças,
geralmente já é a dica: se você usa calças, é um bárbaro. Outra dica é o chapéu.
Usam um barrete frígio. Exato, esses barretes frígidos,
que são meio molengas que são famosos e veremos esses
chapéus por toda a arte antiga. Além disso, percebe-se que os braços estão
cobertos. Usam mais roupas, e usam também tipos facilmente
identificáveis de sapatos. A outra questão, é claro,
é que estão perdendo. Mas antes de continuarmos,
voltamos a Alexandre e ver como temos certeza
de que é ele mesmo. Ele está usando um chapéu de leão. Isso é uma referência a teorias de
que ele é descendente de Héracles. O outro motivo, pelo qual as pessoas frequentemente associam essa figura
como Alexandre é por conta do mosaico alexandrino. Historiadores de arte acreditam
que o mosaico e provavelmente esse friso têm uma origem em comum. Que é uma pintura famosa atualmente
perdida. E então isso permitiu aos estudiosos sentirem-se bastante comfortáveis
em identificar essa figura como Alexandre. Outra questão é simplesmente
a nobreza com a qual Alexandre e os vitoriosos
são retratados. Se você olhar de perto para Alexandre, ele é grande em seu cavalo. O cavalo está empinado e ele ergue sua mão para trás. Claramente, ele segurava antes uma lança. Essa lança era provavelmente de bronze. Ela, como todos os arreios do cavalo e as
outras armas, foram removidos. Mas podemos perceber que ela estaria
matando o homem que está desesperadamente tentando sair
de seu cavalo, que está caído. Mas os cavalos de Alexandre não
estão todos em posição dominante. Veja a figura desnuda que surge
contra um inimigo a cavalo. Ele tem seu braço direito
jogado para trás de sua testa, e seu braço esquerdo se erguendo. Pode ver seu inimigo, o persa,
no cavalo, o braço direito
pronto para atingi-lo. Você quase consegue sentir que esse
grego não irá sobreviver esta batalha Porém sua bravura é extraordinária. Posso perceber uma sombra por entre
seus dedos. Acredito que ele deve ter segurado
algum tipo de espada. Portanto, os gregos que sucumbiram foram também retratados de forma heróica. Agora veja a figura que está logo
abaixo dele. É um arqueiro. Podemos vê-lo puxando a corda do arco,
apontando com sua mão esquerda. Ele mira, mas o que é de fato notável,
é que se você olhar para suas calças, perceberá traços da tinta original. Essa é uma boa forma de lembrar que o mármore branco primitivo que acreditamos ser grego, é totalmente incorreto em várias
situações. Essas esculturas foram pintadas. Sabemos que havia amarelo, vermelho roxos, azuis e um pouco
de violeta e variações dessas
cores principais. Mas o que você pode ver aqui,
é essa estampa de arlequim nas calças dele mas seu escudo também possui
uma matiz vermelha. Então pode tentar visualizar as cores
como eram, e isso teria feito a composição ainda
mais dinâmica, o conflito, a luta na batalha
ainda mais real ao observador. Se você olhar para o corpo, logo a direita
do arqueiro, poderá até ver o ferimento no lado e a tinta vermelha que foi usada para retratar o sangue E isso é algo que vemos também
do outro lado, na cena de caça onde o leão está sendo
atingido. Podemos ver vermelho, também de sangue
jorrando. Vamos dar uma olhada. No lado oposto, vemos ao invés
de uma batalha, uma caçada. Cenas de caçada eram muito famosas
no antigo mediterrâneo oriental. Pode pensar nos relevos assírios de Nínive
objetos que estão no Museu Britânico. E no centro da caçada, há este enorme
leão atacando o cavalo. Caçadas a leões eram parte importante
da realeza. Incluir uma cena de caçada, seria típico em um monumento criado para um rei. Mas há algo mais surpreendente. Temos gregos e persas mas não parecem estar batalhando. Não, estão trabalhando em conjunto. Isso é um tanto estranho, não? Considerando o que acabamos de ver? É uma questão central ao objetivo político
do enorme império de Alexandre. Alexandre realmente visa algo que era muito diferente da vasta
maioria dos impérios da época. Ele queria criar um império onde
os soldados gregos e seu exército, os soldados macedônios uniriam-se
as mulheres locais ao longo do caminho para solidificar as bases do império. Isso também deve ter sido importante
para os fenícios que almejam uma posição igual
a dos gregos. Também mostra que pessoas que não
são especificamente gregas, também usam iconografia grega,
temas gregos. Claramente, a tradição de escultura grega ultrapassa as fronteiras culturais,
éticas, ou políticas, tornando-as indistintas. Essa escultura não é de forma alguma
indistinta. Há uma claridade que nos lembra que isso não está muito longe do auge
do classicismo grego do século V. Há uma espécie de drama.
Há uma espécie de energia nova que sabemos por retrospectiva que está caminhando em direção
ao que chamaremos de estilo helenístico. Você enxerga o movimento em particular
ao observar as capas e mantos. Temos aqui uma figura grega em um cavalo e pode-se perceber que
havia ali tinta amarela e a capa está flutuando atrás, o que dá essa idéia fenomenal de
movimento. Veja a forma que as mangas da camisa
do persa estão subindo. Consigo ter a sensação do movimento
do corpo dele e da forma com o tecido responde
no momento seguinte. Exatamente. Ele também tem seus braços
para trás. Então você pode imaginar o arco e flecha,
que teriam sido feitos de metal. Você pode ver aquela tensão criada
nos braços dele, para atirar a flecha na direção dos leões
e ajudar nessa grande caçada, para matar esse animal notável. Um dos detalhes que acho mais convincentes
em como colocar energia na cena e de dar uma percepção de tempo e
movimento é aquele que cavalga o cavalo central. O cavalo move-se para cima e para baixo
rapidamente. e você pode ver sua camisa flutuando
para cima pois seu corpo moveu-se para
baixo rapidamente. E isso continua por todo o relevo até essa figura do final. Temos esse grupo isolado de um grego
e um persa caçando um veado. O grego está puxando os grandes chifres
do veado e você sente o movimento,
vindo menos da figura grega que parece um pouco estático
com o braço e a parte superior do corpo, e mais da figura do persa
com um machado prestes a golpear
e abater o veado no tórax e esse tipo de movimento ajuda a voltar o seu olhar, mas também
transmite o dinamismo que permea todo esse lado. E vemos como esses dois lados
se relacionam em termos de organização mas também as duas histórias que contam. Vemos os persas indo de inimigos a aliados, a serem incorporados
em mundo maior. Essa narrativa maior é importante pois nos dá uma compreensão dos
objetivos políticos maiores de Alexandre. Mas esse sarcófago também já
é um tesouro em si. É tão raro termos entalhes gregos do
início do século V deste nível, e nessas condições originais. Frequentemente historiadores de arte
sustentam que Atenas do século V foi o auge das
criações artísticas do mundo grego. Mas eu acredito que ao olhar algo desse
tipo, pode ver que não há elementos do que os historiadores de arte poderiam
ter em termos, rejeitado. O que você tem aqui é uma mudança
de ethos, uma alteração de estética, que torna-se mais desenvolta e definida
durante o período helenístico. (música de piano) (Legendado por: Anne Salvoni)