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Rituais fúnebres romanos e status social: túmulo de Amiternum e túmulo do Haterii

Dizer que rituais funerários e memoriais post-mortem eram importantes para os antigos romanos é um eufemismo. Diversos registros mostram complexos rituais acerca da morte e funerais na Roma antiga, e gastos significativos em memoriais—túmulos elaborados, retratos funerários— definiam a cultura mortuária romana.
Túmulos ao longo da Via Appia, em Roma
Túmulos ao longo da Via Appia, em Roma
Cemitérios e túmulos enfileiravam-se, formando estradas fora dos centros urbanos em todo o mundo romano, de modo que o mero ato de sair ou entrar em uma cidade colocava as pessoas em contato direto com o mundo dos mortos. Na verdade, a arte funerária romana não era marginalizada dentro da cultura visual romana, mas sim tida como parte integral dela, constituindo um dos maiores conjuntos de evidências da arte romana.
Muitos monumentos funerários que restam comemoram as vidas das elites romanas, mas membros de outros estratos sociais também faziam questão de deixar um legado, e a arte funerária é certamente a única categoria de arte que documenta a vida de quem não fazia parte da elite. Na Roma antiga, existiam grandes oportunidades de mobilidade econômica e quando pessoas de classes mais baixas—ex-escravos (liberti) ou membros de uma família servil— ganhavam dinheiro, muitas vezes queriam comemorar seu sucesso encomendando um túmulo ou sepultura que documentasse sua ascenção à riqueza. Dois exemplos de monumentos funerários ilustram algumas dessas tendências ao mesmo tempo em que fornecem uma visão da cultura e da arte funerária romanas associada com homens e mulheres libertos, ou seja, ex-escravos.

O túmulo de Amiternum

Procissão funerária, Amiternum, ca. 50-1 a.C.
Procissão funerária, Amiternum, ca. 50-1 a.C. (Museu, Aquila) (foto: Erin Taylor, CC BY-NC-ND 2.0)
O primeiro exemplo é um relevo funerário de Amiterno (acima) datado da segunda metade do século I a.C, localizado na atual região de Abruzos na Itália. Um relevo retrata uma pessoa de certa importância e é a única cena existente na arte romana que mostra a pompa, ou procissão funerária que foi famosamente descrita pelo historiador Políbio (Historia 6.53-4). Funerais romanos eram assuntos elaborados que começavam na casa e culminavam na tumba. Com a óbito, a família do morto encenava dramáticas demonstrações de luto. Esses rituais de luto incluíam lamentos, golpes no peito, e às vezes automutilação, puxões de cabelo e laceração das bochechas. O morto era então lavado, untado e exibido em uma cama funerária em casa antes de ser finalmente transportado a tumba ou ao lugar onde seria cremado em um elaborado esquife em uma procissão conhecida como pompa.
Para romanos de alta classe, a pompa era uma performance dinâmica definida menos pela solenidade e mais por uma performance multidimensional designada para refletir e reforçar o status político e social. Estes espetáculos incluíam não somente a família biológica imediata, mas também clientes, escravos e ex-escravos, pranteadores contratados e pagos para lamentar-se e cantar canções fúnebres. Também eram contratados músicos para tocar cornucópias, flautas e trompetes. Em especial para homens romanos de elite a procissão culminava no Foro com uma eulogia pública na qual compareciam membros da família do sexo masculino que então usavam máscaras ancestrais representando familiares mortos do sexo masculino.
Figura masculina em um divã funerário cercado por uma corte funerária (detalhe),  Procissão funerária, Amiterno, ca. 50-1 a.C (Museu, Aquila) (Foto: Erin Taylor, CC BY-NC-ND 2.0)
No descanso de Amiternum, a pompa cena mostra uma figura masculina, repousando em um elaborado sofá funerário e transportado por oito a male figure, resting on an elaborate carregadores de caixão (acima). Apesar de estar morta, a figura aparece ainda muito viva, inclinada sobre seu lado direito e descansando sua cabeça na sua mão direita. Em ambos os lados na cena central estão todos os elementos de um cortejo funeral. Nos carregadores de tubo a direita, com sopradores de chifre e um trompetista flutuando acima da linha.  Para a direita imediata do falecido estão duas mulheres, talvez carpideiras contratadas, uma agarrando o cabelo dela e outra com as mãos erguidas. É provável que seja a chefe das carpideiras—a viúva e crianças— que a seguem atrás, a esquerda do falecido.
Uma inscrição parcial encontrada próxima ao relevo sugere que a tumba foi encomendada por uma pessoa cuja família era antigamente de origem servil. Estilisticamente, o relevo apresenta muitas das características formais típicas da arte ‘libertos’ , uma categoria de arte encomendada por escravos antigos (ou descendentes de escravos) e que amplamente rejeitava as armadilhas classicizantes da arte romana de elite. A arte encomendada por mulheres e homens libertos tipicamente apresenta desproporção, hierarquias de escala, colapso de espaço ou relações espaciais ambíguas e um uso gestual de linha. Sobre o assunto, a arte de "libertos" é caracterizada por um foco agudo em auto-apresentação, expressões específicas de mobilidade social.
Combate de Gladiadores, Amiterno, ca. 50-1 a.C.
Combate de Gladiadores, Amiterno, ca. 50-1 a.C. (Museu, Aquila)  (foto: Erin Taylor, CC BY-NC-ND 2.0)
O relevo de pompa fazia parte de um conjunto de relevos—dos quais restam apenas dois—provavelmente inseridos na estrutura de uma complexo de tumbas maior que não existe mais.  O outro relevo (acima) retrata uma batalha de gladiadores, um tipo de imagem encontrado ocasionalmente em monumentos funerários e normalmente interpretados como referência à generosidade pública dos falecidos. Era esperado que magistrados e funcionários públicos proporcionassem jogos ou espetáculos para o público, e atos como esses eram dignos de celebração biográfica. Ainda que viessem de famílias servis, homens nascidos livres podiam ascender a tais cargos, e o faziam. Analisados em conjunto, os dois relevos dizem muito—mostrando, por um lado, um espetáculo para o público e, por outro, o espetáculo da sua morte.  Como muitos autores antigos atestam, o número de figuras em uma procissão funerária é diretamente proporcional à importância atribuída ao falecido. Ainda que o patrono do monumento de Amiternum não fosse membro da elite, a classe dos patrícios, ele certamente quis transmitir sua importância ao selecionar duas imagens pungentes para documentar seu legado biográfico—registrando sua generosidade com o público em vida e expressando seu status na morte.

O Túmulo de Haterii

Outro túmulo reconhecido por seu ritual funerário é o de Haterii, construído por volta de 100 D.C.  Descoberto parcialmente em Roma desde o final do século XIX, a forma original e o layout do túmulo é desconhecido mas a ambição na sua decoração e narrativa é evidente na séries de relevos e bustos retratados que permanecem.
Mausoléu de Haterii, século II d.C. (museus do Vaticano)
Mausoléu de Haterii, ca. 100 d.C. (Museus do Vaticano) (foto: Erin Taylor, CC BY-NC-ND 2.0)
Construído por uma família de construtores, a tumba simultaneamente documenta a morte do matriarca da família e celebra a fonte de riqueza da família’s source of wealth. Apesar de dois bustos permanecerem, masculino e feminino, é a mulher que aparece várias vezes nos relevos do túmulo’s reliefs. Na cena de morte, ela aparece em uma cama funerária no átrio da casa (acima), rodeada por tochas acesas, um tocador de flauta aos seus pés, e seus filhos batendo no peito, em luto. Abaixo da cama estão 3 figuras que usam o píleo, um chapéu da liberdade usado por escravos recém libertos. Essa referencia a liberalidade e humanidade da matrona são confirmadas pela figura lendo sua última vontade e testamento ao lado dela, como também em outra imagem em que o falecido é apresentado fazendo sua vontade.
Mausoléu de Haterii, ca. 100 d.C. (museus do Vaticano)
Mausoléu de Haterii, ca. 100 d.C. (Museus do Vaticano)  (foto: Erin Taylor, CC BY-NC-ND 2.0)
O espectador pode ver uma conjugação de tempo, visualizando a falecida enquanto viva e morta.  No relevo acima, ela é apresentada em um retrato retrospectivo, descansando em um sofá com seus filhos brincando abaixo. Sob essa vinheta (abaixo), esta um grandioso templo-túmulo com um retrato da falecida no frontão e retratos de seus filhos dos lados. Na frente do túmulo há uma treadwheel grua que a maioria dos estudiosos pensam ser uma referencia aos negócios de construção da família.
Mausoléu de Haterii, ca. 100 d.C. (museus do Vaticano)
Mausoléu de Haterii, ca. 100 d.C. (Museus do Vaticano) (foto: Erin Taylor, CC BY-NC-ND 2.0)
Os Haterii, aparentemente, estavam envolvidos em importantes projetos de construção durante o reinado do imperador Flavian  (69-96 D.C.), e outro relevo da tumba, provavelmente, documenta alguns dos seus principais projetos em Roma incluindo o Anfiteatro Flaviano (mais tarde conhecido como o Coliseu) e o Arco de Tito.
Se todos os relevos, originalmente, constituíam uma sequência narrativa ou não, é discutível, mas o que é comunicado é o considerável gasto nessa tumba e os biográficos meios pelo qual ela foi criada. Apesar de acumular riqueza considerável, a família Haterii foi, no entanto, de origem servil.

Interpretação

Tanto o relevo de Amiternum quanto o túmulo de Haterii foram encomendados por patronos de fora da elite romana, um fator de enorme impacto no estilo e conteúdo da narrativa dos monumentos. A arte funerária encomendada pela elite romana quase nunca mencionava o comércio ou as fontes de riqueza, mas esse era o motivo principal da arte funerária dos ex-escravos. Da mesma forma, monumentos da elite não documentavam rituais mortuários, ainda que a elite com certeza os seguissem. O relevo de Amiternum e o túmulo de Haterii, no entanto, se baseiam em uma narrativa que interpõe biografias e ritos mortuários. Para esses patronos, assim como para muitos homens e mulheres libertos, os locais de seu descanso final eram a oportunidade ideal para documentar o respeito aos rituais e, mais importante, para documentar seu sucesso na vida e no comércio.
Artigo escrito por Dr. Laurel Taylor

Recursos Adicionais:
John Bodel, “Death on Display: Looking at Roman Funerals,” inThe Art of Ancient Spectacle, edited by Bettina Bergmann and Christine Kondoleon, pp. 259-281 (New Haven: Yale University Press, 1999).
Diane Favro and Christopher Johanson, “Death in Motion: Funeral Processions in the Roman Forum,” Journal of the Society of Architectural Historians 69.1, 2010,  pp. 12-37.
Harriet I. Flower, Ancestor Masks and Aristocratic Power in Roman Culture (Oxford: Oxford University Press, 1996).
Valerie M. Hope, Death in Ancient Rome: A Source Book (London: Routledge, 2007).
Eleanor W. Leach, “Freedmen and Immortality in the Tomb of the Haterii,” in The Art of Citizens, Soldiers and Freedmen in the Roman World, edited by E. D’Ambra and G. Metraux, 1-18. (Oxford: Archaeopress, 2006).
J. M. C. Toynbee, Death and Burial in the Roman World (Ithaca: Cornell University Press, 1971).

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