Conteúdo principal
Mediterrâneo Antigo
Curso: Mediterrâneo Antigo > Unidade 8
Lição 7: Ascensão do império- Augusto de Prima Porta
- Ara Pacis
- Ara Pacis
- Gemma Augustea
- Preparativos para um Sacrifício
- Retrato de Vespasiano
- Coliseu (Anfiteatro Flaviano)
- O Arco de Tito
- Relevo do arco de Tito, mostrando os espólios de Jerusalém sendo trazidos para Roma
- Fórum de Trajano
- Mercados de Trajano
- Coluna de Trajano
- Coluna de Trajano
© 2023 Khan AcademyTermos de usoPolítica de privacidadeAviso de cookies
O Arco de Tito
O triunfo romano
O triunfo romano era uma antiga tradição militar, um desfile tão vibrante que seu ponto culminante simbólico envolvia alçar o general vitorioso (triumphator) a um status quase divino por um único e inebriante dia. Os Romanos celebravam esse status tingindo seu rosto de vermelho usando o pigmento mineral cinábrio (dizia-se que o rosto de Júpiter tinha o mesmo tom corado).
Os Romanos seguiam as tradições do triunfo pelas suas próprias origens. O fundador legendário de Roma, Rômulo, foi o primeiro a celebrar o ritual quando derrotou e matou Acron, o rei de Caenina.
Vitória na Judeia
No verão de 71 d.C. o imperador Romano Vespasiano e Tito, seu filho mais velho, tinham reprimido uma revolta perigosa na província Romana da Judeia e voltaram para Roma para celebrar essa grande proeza. Em adição a isso, a dinastia Flaviana (Vespasiano e seus dois filhos, Tito e Domiciano) tinham conseguido ganhar o trono durante o ano de 69 d.C., uma época de agitação civil sangrenta conhecida como o “Ano dos Quatro Imperadores.”
Muito estava em jogo para Vespasiano e Tito, ambos relativamente iniciantes na política e de uma linha familiar (Flávio) que não era particularmente ilustre. A homenagem do triunfo foi concedida a eles conjuntamente e o espetáculo (como descrito por Flávio Josefo em seu texto conhecido como Guerra Judaica) rivalizou com tudo o que Roma já tinha visto antes: pilhagens, prisioneiros, narrativas pictóricas em abundância. Tudo isso com o objetivo de infundir respeito aos espectadores e transportá-los para os campos de batalha da guerra no oriente. Mas o ritual do triunfo, seu cortejo, até mesmo o status semidivino concedido ao triumphator, eram efêmeros. Por essa razão, a posterior construção de monumentos permanentes (como o Arco de Tito) serviam para causar um impacto na paisagem urbana (e na memória coletiva dos moradores da cidade) que durasse muito mais do que os eventos do próprio dia.
A tradição de monumentos triunfais associa os Flavianos às tradições da República Romana. Monumentos mais antigos incluíam colunas, por exemplo, a coluna rostrata (columna rostrata) de Caio Duílio (c. 260 a.C.), e o protótipo inicial de arco do triunfo conhecido como o fornix Fabianus erigido no Fórum Romano por Q. Fábio Alobrógico em 121 a.C. O imperador Augusto continuou o uso do arco do triunfo, ainda que tenha reestruturado a instituição do triunfo em si. Como os Flavianos eram relativamente novos na estrutura de poder Romana, eles precisavam do máximo de legitimação que conseguissem, participando das respeitadas tradições do triunfo, e a quantidade dos seus monumentos fazia muito sentido.
A topografia e o triunfo
O Arco de Tito está localizado na Via Summa Sacra, o ponto mais alto da Via Sacra, a "Via Sagrada" de Roma que serviu como sua principal rua processional. Além disso, o Arco de Tito domina um ponto importante ao longo da rota triunfal (via Triumphalis), que liga visualmente o vale do anfiteatro Flaviano (conhecido como o Coliseu ao vale do Fórum Romano e o Monte Capitolino mais além. Muitos desfiles triunfais passaram por essa rota por muitos séculos, por isso a escolha de posicionar um monumento triunfal permanente sobre a rota não era acidental, mas sim intencionalmente evocativa do fato de que o triunfo como um ritual criava e reforçava a memória coletiva dos romanos. Este arco, construído como um monumento honorífico, honrou Tito postumamente e foi um projeto executado por seu irmão mais novo e sucessor imperial, Domiciano (imperador, 81-96 d.C.). Outro arco dedicado a Tito, triunfal em sua natureza, estava localizado no vale do Circus Maximus, mas este arco só sobrevive na forma de fragmentos esculturais dispersos e uma transcrição medieval de sua inscrição dedicatória. Escavações arqueológicas recentes (2015) no Circo Máximo revelaram vestígios anteriormente desconhecidos deste arco "perdido", incluindo elementos das suas fundações.
A inscrição do ático
A inscrição antiga no ático que sobrevivente (acima) registra a dedicatória do monumento a Tito. Uma vez que Tito é identificado como tendo sido deificado (divus), entendemos que a conclusão do monumento só pode ter ocorrido após a morte de Tito em Setembro de 81 d.C.
O texto na inscrição do ático diz:
SENATVS
POPVLVSQVE·ROMANVS
DIVO·TITO·DIVI·VESPASIANI·F(ILIO)
VESPASIANO·AVGVSTO (CIL 6.945)O Senado e o povo Romano (dedicam este) ao deificado Tito Vespasiano Augusto, filho do deificado Vespasiano
A inscrição torna a dedicatória pública, feita em nome do Senado e do Povo Romano (Senatus Populusque Romanus), e lembra aos espectadores a relação de Tito com seu também deificado pai, Vespasiano, que morreu em 79 d.C. Essa dedicatória é um exemplo da astuta política de poder no Imperador Domiciano; ele era muito novo para participar da glória militar de que desfrutaram seu pai e seu irmão. Talvez ele tenha buscado se aproveitar da opinião pública geralmente favorável que eles desfrutavam quando ele próprio fez a transição para o poder.
Escultura em relevo
Dois painéis em relevo ladeiam a única passagem do arco e um terceiro adorna a abóbada (o relevo da abóbada está acima). O tema dos desenhos em relevo dos lados é o triunfo de Vespasiano e Tito em 71 d.C., representando episódios chave de triunfo após a queda de Jerusalém. Em uma cena (abaixo) Romanos carregam os espólios do Templo em Jerusalém, incluindo um Menorá, trompetes sagrados e a mesa com os pães da proposição. Estudos recentes mostraram que esses itens eram pintados em amarelo ocre.
O painel do triunfo oposto representa Tito em uma carruagem triunfal de quatro cavalos (quadriga) seguido de perto pela deusa da Vitória (Victoria), precedido por criados oficiais conhecidos como lictors e acompanhado pelas representações simbólicas (genii) do Senado, do povo Romano, e de Virtus (masculino de virtude) (abaixo).
Como o desfile triunfal teria passado pelo mesmo local em que o arco foi construído, essas imagens servem como poderosas evocações de memórias coletivas compartilhadas e mantidas pelo povo Romano. A representação em relevo ecoa o desfile vibrante descrito por Flávio Josefo. O projeto da arquitetura Flaviana transformou amplamente a paisagem física de Roma; esse projeto estava repleto de pistas visuais e lembretes dos sucessos Flavianos, que se originaram e se centraram em torno do grande triunfo cujo ponto culminante foi a Guerra Judaica.
Restauração e estado atual
Durante o século XI, o arco foi incorporado a uma fortaleza construída pela família Frangipani em Roma, resultando em danos aos painéis em relevo que ainda são visíveis hoje. Em 1821, durante a pontificação do Papa Pio VII, Giuseppe Valadier promoveu uma grande restauração do que sobreviveu da estrutura. Para identificar as partes que tinham sido restauradas, Valadier utilizou travertino em vez do mármore original. O lado ocidental do ático recebeu uma nova inscrição na época dessa restauração. A famosa pintura de Canaletto do arco oferece uma vista da condição do monumento antes da restauração de Valadier.
Influência
O Arco de Tito proporcionou por muito tempo uma fonte de inspiração artística. Leon Battista Alberti se inspirou em sua forma quando projetou a fachada da basílica de Sant’Andrea em Mântua, Itália, depois de 1472. O Arco de Tito inspirou muitos arcos comemorativos modernos, em especial o Arco do Triunfo em Paris (1806), o Arco de Stanford White no Parque Washington Square na cidade de Nova York (1892), o Arco Memorial Nacional dos Estados Unidos no Parque Histórico Nacional Valley Forge, projetado por Paul Philippe Cret (1917), e a Porta da Índia em Nova Delhi de Edward Lutyens (1921).
Ensaio do Dr. Jeffrey Becker
Recursos adicionais
Mary Beard, The Roman Triumph (Cambridge, Mass.: Belknap, 2009).
A. J. Boyle and W. J. Dominik, Flavian Rome: culture, image, text (Leiden: E. J. Brill, 2003).
F. Coarelli, Divus Vespasianus. Il Bimillenario dei Flavi (Milan: Electa, 2009)
R. H. Darwall-Smith, Emperors and Architecture: a Study of Flavian Rome (Latomus, 1996).
J. C. Edmondson, S. Mason, and J. B. Rives, Flavius Josephus and Flavian Rome (New York: Oxford University Press, 2005).
R. Ross Holloway, “Some Remarks on the Arch of Titus,” L’antiquité classique 56 (1987) pp. 183-191.
M. Pfanner, Der Titusbogen (Mainz: P. von Zabern, 1983).
L. Roman, "Martial and the City of Rome." The Journal of Roman Studies 100 (2010) pp. 1-30.
H. S. Versnel, Triumphus: an inquiry into the origin, development and meaning of the Roman triumph (Leiden: E. J. Brill, 1970).
L. Yarden, The spoils of Jerusalem on the Arch of Titus: a re-investigation (Stockholm : Svenska Institutet i Rom; Göteborg : Distributor, P. Åströms, 1991).
Quer participar da conversa?
Nenhuma postagem por enquanto.