Se você está vendo esta mensagem, significa que estamos tendo problemas para carregar recursos externos em nosso website.

If you're behind a web filter, please make sure that the domains *.kastatic.org and *.kasandbox.org are unblocked.

Conteúdo principal

Escultura equestre de Marco Aurélio

Estátua equestre de Marco Aurélio, bronze dourado, c. 173-76 d.C. (Museus Capitolinos, Roma). O local original da escultura é desconhecido. No início do século VIII, estava localizada próxima ao Palácio de Latrão, até ser colocada no centro da Praça do Capitólio em 1538 por Michelangelo. A estátua original está agora protegida por motivo de conservação. Marco Aurélio governou de 161 a 180 d.C.
Na Roma antiga estátuas equestres de imperadores não eram visões incomuns na cidade, fontes do período antigo tardio sugerem que pelo menos 22 destes “grandes cavalos” (equi magni) podiam ser vistos, por serem formas oficiais de honrar o imperador por suas singulares realizações civis e militares. As estátuas em si eram, por sua vez, copiadas em outros formatos, incluindo moedas, para distribuição ainda mais ampla. No entanto, poucos exemplos dessas estátuas equestres sobreviveram da antiguidade, o que faz da Estátua Equestre de Marco Aurélio um artefato singular da antiguidade Romana, que tem sido uma testemunha silenciosa do fluxo e refluxo da cidade de Roma por pelo menos 1900 anos. Um monumento de bronze dourado da década de 170 d.C., que foi originalmente dedicado ao imperador Marco Aurélio Antônio Augusto, comumente conhecido como Marco Aurélio (reinou entre 161-180 d.C.), a estátua é um importante objeto não apenas para o estudo do retrato Romano oficial, mas também para análise das consagrações monumentais. Além disso, o uso da estátua na Roma Medieval, Renascentista, moderna e pós-moderna tem importantes implicações para a conectividade que existe entre o passado e o presente.
Escultura Equestre de Marco Aurélio, bronze, c. 173-76 d.C.. (Museus Capitolinos, Roma)

Descrição

A estátua é uma representação em tamanho ampliado do imperador elegantemente montado em um cavalo enquanto participa de um ritual ou cerimônia públicos; a estátua mede aproximadamente 4,24 metros de altura. Uma estátua de bronze dourado, a peça foi originalmente fundida usando a técnica de cera perdida, com cavalo e homem fundidos em múltiplos pedaços e depois soldados juntos após a moldagem.

O cavalo

Cavalo (detalhe), Escultura Equestre de Marco Aurélio, bronze.
O cavalo do imperador é um exemplo magnífico do dinamismo capturado no meio escultural. O cavalo, apanhado em movimento, levanta sua pata dianteira direita até o joelho enquanto planta sua pata dianteira esquerda no chão, seu movimento é confirmado pela utilização das rédeas, que o imperador originalmente segurava na mão esquerda. O corpo do cavalo, em particular a musculatura, foi cuidadosamente modelado pelo artista, resultando numa representação poderosa. Em consonância com a movimentação do corpo do cavalo, sua cabeça se curva para a direita, com a boca ligeiramente aberta. O cavalo usa um arreio, do qual alguns dos elementos daquela época que não sobreviveram. O cavalo está selado com uma manta de várias camadas de estilo Persa, em oposição a uma sela rígida. Deve-se notar que o cavalo é um elemento importante e expressivo no conjunto da composição.

O cavaleiro

Cavalo e condutor (detalhe), Escultura Equestre de Marco Aurélio, bronze, c. 173-76 d,C,. (Museu Capitolino, Roma)
O cavaleiro está montado no corcel, com sua mão esquerda guiando as rédeas e o braço direito levantado na altura do ombro, com a mão estendida.

Classes de Retrato

Marco Aurélio, Retrato tipo I, c.140 d.C.. (Museus Capitolinos, Roma)
Existem aproximadamente 110 retratos conhecidos de Marco Aurélio e estes foram classificados em quatro grupos tipológicos. Os dois primeiros tipos pertencem à juventude do imperador, antes dele assumir os deveres do principado.
No mundo Romano era uma prática comum criar tipos de retratos oficiais de funcionários de alto escalão, como imperadores, os quais iriam então circular em vários meios de comunicação, notadamente retratos redondos esculpidos e moedas. Estes tipos de retratos são vitais em vários aspectos, especialmente para determinar a cronologia dos monumentos e das moedas, uma vez que os tipos de retratos normalmente podem ser colocados em uma ordem cronológica bastante precisa e legível. A interpretação destes retratos depende de vários elementos chave, especialmente a leitura do penteado e o exame da fisionomia facial.
Marco Aurélio, retrato tipo II, c. 147 d.C.(Antiquário do Palatine)
O segundo tipo de retrato foi feito quando Marco tinha um pouco menos de 30 anos, c. 147 d.C. e mostra um tipo ainda jovem, apesar de Marco ter agora um leve pelo facial (acima).
No caso da estátua equestre, a tipologia do retrato oferece a melhor forma de atribuir uma data aproximada para o objeto uma vez que não há outra forma de estimá-la. O retrato mais antigo de Marco Aurélio data de c. 140 d.C. e está melhor representado na Galeria Capitolina, onde  o jovem está usando um manto preso no ombro (paludamentum); esse retrato foi amplamente difundido, com aproximadamente 25 cópias conhecidas (mais acima). Marco Aurélio tornou-se imperador em 161 d.C., quando tinha quarenta anos; foi nessa ocasião que foi criado seu terceiro e mais importante tipo de retrato.
 Marco Aurélio, Tipo III, c. 161-69 d.C. (Museu do Louvre) (foto: Ad Meskens)
Esse tipo maduro (tipo III, acima) mostra o imperador com barba cheia, com a cabeça cheia de cabelos volumosos, cacheados; ele mantém o característico rosto oval e pálpebras pesadas dos retratos anteriores. Seu corte de cabelo forma um arco diferenciado sobre sua testa. Este terceiro tipo é conhecido em aproximadamente 50 cópias.
O quarto tipo de retrato do imperador (abaixo), criado entre 170 e 180 d.C., mantém a maioria das características do terceiro tipo, mas mostra o imperador em idade ligeiramente mais avançada com uma barba muito cheia dividida no meio do queixo, com madeixas paralelas de cabelo.

Datação do retrato equestre

A estátua do cavaleiro é cuidadosamente composta pelo artista e representa uma figura que é simultaneamente dinâmica e um pouco passiva e distante, em virtude de sua expressão facial (veja imagem mais abaixo). As madeixas de cabelo são cacheadas e compactas e distribuídas uniformemente; a barba também é cacheada, cobrindo as bochechas e o lábio superior, e é mais comprida no queixo.
Marco Aurélio, Tipo IV, 170-180 d.C. (Museu de História da Arte, Viena)
A postura do corpo mostra a cabeça do cavaleiro ligeiramente virada para a sua direita, na direção de seu braço direito estendido. A mão esquerda originalmente segurava as rédeas (não preservada) entre os dedos indicador e médio, com a palma virada para cima. Estudiosos continuam a debater se originalmente ele mantinha alguma figura ou objeto em anexo na palma da mão esquerda; possíveis sugestões incluem um cetro, um globo, uma estátua da vitória, mas não existe indicação clara de qualquer ponto de fixação para tais objetos. Na mão esquerda o cavaleiro usa o anel senatorial.
Cabeça (detalhe), Escultura Equestre de Marco Aurélio, bronze, c. 173-76 d.C.. (Museus Capitolinos, Roma)
O cavaleiro está vestido com trajes cívis, incluindo uma túnica de mangas curtas que é amarrada na cintura por um cinto laçado (cingulum). Sobre a túnica o cavaleiro usa um manto (paludamentum) que está preso no ombro direito. Nos seus pés Marco Aurélio usa as botas senatoriais da classe dos patrícios, conhecidas como calcei patricii.

Interpretação e cronologia

A interpretação e a cronologia da estátua equestre deve se basear na própria estátua, já que nenhum testemunho literário antigo ou outra evidência sobrevivem para auxiliar na interpretação. É óbvio que a estátua é parte de um monumento público elaborado, sem dúvida encomendada para marcar uma ocasião importante do reinado do imperador. Dito isso, no entanto, deve-se notar que acadêmicos continuam a debater sua datação precisa, a ocasião da sua criação, e sua localização original provável na cidade de Roma.
Começando com a tipologia do retrato, é possível determinar uma faixa de datas prováveis para a criação da estátua. A retrato é claramente do imperador em sua fase adulta, o que significa que a estátua deve ter sido criada depois de 161 d.C., o ano da ascensão de Marcos Aurélio e da criação de seu terceiro tipo de retrato. Isso fornece um terminus post quem (data limite) para a estátua equestre. Historiadores de arte têm debatido se a cabeça se assemelha mais ao Tipo III ou ao Tipo IV de retrato. O pensamento acadêmico recente, baseado no trabalho de Klaus Fittschen, defende que a estátua equestre representa um variante única do padrão de retrato Tipo III, criada como uma improvisação pelo artista que foi comissionado para criar a estátua equestre. Enfim, a cronologia exata do retrato, e certamente a tipologia, permanece um assunto de debate acadêmico.
Relevo de monumento honorário de Marco Aurélio, 176-180 d.C., mármore 350 cm (Museus Capitolinos, Roma)
A postura do cavaleiro também é útil. O imperador estende sua mão direita para fora, com a palma virada para o chão; a postura que pode ser interpretada como adlocutio, indicando que o imperador está prestes a falar. Contudo, mais provavelmente nesse caso podemos interpretar como um gesto de clemência (clementia), oferecido a um inimigo derrotado, ou de restitutio pacis, a "restauração da paz." Richard Brilliant notou que tendo em vista que o imperador aparece em vestes civis em em vez da armadura de general, a impressão geral é a de que a estátua é pacífica e não a uma celebração imediata pós guerra de uma vitória militar. Alguns historiadores de arte reconstroem um bárbaro agora ausente no lado direito do cavalo, como pode ser visto em um painel em relevo remanescente, que originalmente pertenceu ao arco do triunfo dedicado a Marco Aurélio, agora perdido (acima). Sabemos que Marco Aurélio celebrou um triunfo em 176 d.C. por suas vitórias sobre tribos Germânicas e Sármatas, levando alguns a sugerir que esse ano foi a ocasião para a criação do monumento equestre.

História

O local original do monumento equestre também permanece em debate, com alguns defendendo um local no Monte Célio, perto das casernas da cavalaria imperial (equites singulares), enquanto outros apontam o Campo de Marte  (uma planície aluvial do rio Tibre) como uma possível origem. Um texto conhecido como Liber Pontificalis, que data da metade do século X d.C menciona o monumento equestre, referindo-se a ele como “caballus Constantini” ou o “cavalo de Constantino.” De acordo com o texto, o prefeito da cidade de Roma foi condenado após uma revolta contra o Papa João XII e, como punição, foi pendurado pelos cabelos no monumento equestre. Nesse momento, a estátua equestre estava localizada no bairro de Latrão da cidade de Roma, próximo ao Palácio de Latrão, onde ela pode ter ficado pelo menos desde o século VIII d.C. Teorias populares na época sustentavam que o imperador de barba era na verdade Constantino I, o que impedia que a estátua fosse derretida.
Étienne Dupérac, Projeto de Michelangelo para o Capitólio, 1569, gravura
Reverso da moeda Italiana de 0.50 €
Em 1538, a estátua foi realocada do bairro de Lattrão para o monte Capitolino para se tornar a peça central do novo projeto de Michelangelo para o Capitólio (a piazza, ou praça pública, no topo do monte Capitolino). A estátua foi colocada em cima de um pedestal no centro de uma piazza complexamente projetada, ladeada por três palazzi (imagem mais acima). Tornou-se o ponto central da principal praça da secular Roma e, como tal, um ícone da cidade, um papel que ela ainda mantém. A estátua equestre ainda exerce papel de um símbolo oficial da cidade de Roma, sendo inclusive incorporada à imagem reversa da versão italiana da moeda de 0,50 € (imagem acima). A estátua em si permaneceu onde Michelangelo a colocou, até ser removida em 1981 por motivos de conservação; uma cópia de tecnologia sofisticada do original foi colocada no pedestal. A antiga estátua está atualmente abrigada nos Museus Capitolinos, onde pode hoje ser visitada e observada.
A estátua equestre de Marco Aurélio é um monumento permanente que conecta as muitas fases da cidade, antigas e modernas. Ela foi testemunha da glória imperial da cidade, do declínio pós-imperial, do surgimento do Renascimento, e mesmo das experiências cotidianas do século XXI. Fazendo isso ela nos lembra o papel da arte pública em criar e reforçar a identidade cultural, ao se referir a eventos e locais específicos. No mundo antigo a estátua equestre teria evocado lembranças poderosas ao espectador, não somente reforçando a identidade e aparência do imperador, mas também trazendo à mente os principais eventos, realizações, e celebrações de sua administração. A estátua é, como a cidade, eterna, como retratada pelo poeta Romanesco Giuseppe Belli, que reflete em seu soneto Campidojjo (1830) que a estátua de ouro está diretamente ligada ao longo ciclo da história Romana.
Texto do Dr. Jeffrey A. Becker
Recursos adicionais
J. Bergemann,  Römische Reiterstatuen: Ehrendenkmäler im öffentlichen Bereich (Mainz no Reno: Ph. von Zabern, 1990).
A. Birley,  Marcus Aurelius: a Biography (Londres: Routledge, 2002).
P.J.E. Davies,  Death and the emperor: Roman imperial funerary monuments, from Augustus to Marcus Aurelius (Austin: University of Texas Press, 2004)
P. Fehl, “The Placement of the Equestrian Statue of Marcus Aurelius in the Middle Ages.” Journal of the Warburg and Courtauld Institutes 37,  1974, pág. 362-67.
K. Fittschen and P. Zanker, Katalog der römischen Porträts in den Capitolinischen Museen und den anderen kommunalen Sammlungen der Stadt Rom. 3 v. (Berlim: P. von Zabern, 1983-2010).
D. E. E. Kleiner, Roman Sculpture (New Haven: Yale University Press, 1992).
M. Nimmo, Marco Aurelio, mostra di cantiere: le indagini in corso sul monumento (Roma: Arti grafiche pedanesi, 1984).
C. P.  Presicce, and A. M. Sommella, The Equestrian Statue of Marcus Aurelius in Campidoglio (Milão: Silvana, 1990).
I. S. Ryberg,  "Rites of the state religion in Roman art" (Memoirs of the American Academy in Rome; 22) (Roma: Academia Americana em Roma, 1955).
I. S. Ryberg, Panel reliefs of Marcus Aurelius (New York: Archaeological Institute of America, 1967).
K. Stemmer,  ed. Kaiser, Marc Aurel und Seine Zeit: Das Römische Reich im Umbruch (Berlim: Abguss-Sammlung Antiker Plastik, 1988).
D. E. Strong, Roman Art (New Haven: Yale University Press, 1976).
A. M. Vaccaro, et al.,  Marco Aurelio: storia di un monumento e del suo restauro (Milão: Silvana, 1989).
M. van Ackeren, ed., A Companion to Marcus Aurelius (Malden MA: Wiley-Blackwell, 2012).

Quer participar da conversa?

Nenhuma postagem por enquanto.
Você entende inglês? Clique aqui para ver mais debates na versão em inglês do site da Khan Academy.