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Mediterrâneo Antigo
Curso: Mediterrâneo Antigo > Unidade 8
Lição 8: Império médio- Panteão
- Panteão
- Cabeça de bronze da estátua do imperador Adriano
- Vila Adriana, Tivoli: tour virtual
- Teatro marítimo na Vila Adriana, Tivoli
- Par de centauros lutando contra felinos predadores da Villa Adriana, Tivoli
- Adriano, construção da muralha
- Império: sarcófago de Medea
- Escultura equestre de Marco Aurélio
- Escultura equestre de Marco Aurélio
- Plano de mármore severano (Forma Urbis Romae)
- Sarcófago de batalha Ludovisi
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Panteão
Dr. Paul A. Ranogajec
A oitava maravilha do mundo antigo
O Panteão em Roma é uma verdadeira maravilha arquitetônica. Descrita como a "esfinge do Campo de Marte" (referência aos enigmas apresentados por sua aparência e história, e ao local em Roma onde foi construído), visitá-lo hoje é quase como ser transportado de volta ao próprio Império Romano. O Panteão Romano provavelmente não faz parte da listas populares dos ícones arquitetônicos do mundo, mas deveria: é um dos edifícios mais imitados da história. Como um bom exemplo, veja o projeto da Biblioteca Thomas Jefferson para a Universidade da Virgínia.
Embora a importância do Panteão seja inegável, muita coisa é desconhecida. Com novas evidências e modernas interpretações vindo à luz nos anos recentes, perguntas anteriormente consideradas resolvidas foram reabertas. A maioria dos livros didáticos e websites convictamente data o prédio da época do reinado do Imperador Adriano e descreve seu propósito como um templo para todos os deuses (do grego, pan = todos, theos = deuses), mas alguns estudiosos agora argumentam que esses detalhes estão errados e que nosso conhecimento de outros aspectos da origem, construção, e significado do prédio são menos seguros do que pensávamos.
Panteão de quem? O problema da inscrição
Arqueólogos e historiadores da arte valorizam as inscrições nos monumentos antigos porque elas podem prover informação sobre patrocínio, datação, e propósito, que são em geral difíceis de se obter. No caso do Panteão, no entanto, a inscrição no friso, em letras de bronze em relevo (reposições modernas), facilmente engana, como tem feito por muitos séculos. Ela identifica, em latim abreviado, o general e cônsul (o mais alto cargo eleito da República Romana) Marco Agripa (que viveu no primeiro século a.C.) como o patrono: “M[arcus] Agrippa L[ucii] F[ilius] Co[n]s[ul] Tertium Fecit” ("Marco Agripa, filho de Lúcio, três vezes Cônsul, construiu isso"). A inscrição foi tomada ao pé da letra até 1892, quando uma bem-documentada interpretação de tijolos estampados encontrados dentro e ao redor do prédio mostraram que o Panteão de pé hoje era uma reconstrução de uma estrutura anterior, e que ele foi produto do patronato do Imperador Adriano (que governou de 117 a 138 d.C.), construído entre aproximadamente 118 e 128. Assim, Agripa não poderia ter sido o patrono do presente prédio. Então por que o nome dele é tão proeminente?
O entendimento convencional do Panteão
Um templo retangular tradicional, construído inicialmente por Agripa
O entendimento convencional da gênese do Panteão, que se sustentou de 1892 até bem recentemente, é mais ou menos o seguinte. Agripa construiu o Panteão original em homenagem às vitórias militares dele e de Augusto na Batalha de Áccio em 31 a.C., um dos momentos decisivos no estabelecimento do Império Romano (Augusto se tornaria o primeiro Imperador de Roma). Pensava-se que o Panteão de Agrippa fora pequeno e convencional: um templo ao estilo grego, com projeto retangular. Fontes escritas sugerem que o prédio foi danificado pelo fogo por volta de 80 d.C. e restaurado até algum ponto desconhecido sob ordens do Imperador Domiciano (que governou de 81 a 96 d.C.)
Quando o edifício foi danificado de maneira mais substancial pelo fogo em 110 d.C., o Imperador Trajano decidiu reconstruí-lo, mas apenas parte deste trabalho foi realizado antes de sua morte. O sucessor de Trajano, Adriano, um grande patrono da arquitetura e reverenciado como um dos mais efetivos imperadores Romanos, concebeu e possivelmente até projetou o novo edifício com a ajuda de arquitetos dedicados. Ele deveria ser uma triunfante exposição de sua vontade e beneficência. Pensava-se que ele abandonou a ideia de simplesmente reconstruir o templo de Agrippa, decidindo em vez disso criar uma estrutura muito maior e mais impressionante. E, num ato de humildade piedosa destinada a colocá-lo bem junto aos deuses e honrar seus ilustres antecessores, Adriano instalou a falsa inscrição atribuindo o novo prédio ao já falecido há tempos Agripa.
Nova evidência—o templo de Agripa não era nada retangular
Hoje, sabemos que muitas partes desta história são ou improváveis ou demonstravelmente falsas. Hoje está claro a partir de estudos arqueológicos que o prédio original de Agrippa não era um pequeno templo retangular, mas que ele continha as marcas características do prédio atual: um pórtico com colunas altas com um frontão e uma rotunda (salão circular) atrás dele, com dimensões similares às do prédio atual.
E o templo pode ser de Trajano (não de Adriano)
Mais surpreendente, uma reconsideração da evidência dos tijolos usados na construção do prédio, alguns dos quais eram carimbados
com estampas identificadoras que podem ser usadas para se estabelecer a data de manufatura, mostra que quase todos datam da década de 110, durante o período de Trajano. Em vez do grande triunfo do projeto Adriânico, o Panteão deveria mais justamente ser visto como a glória arquitetônica final do reino do Imperador Trajano: substancialmente projetado e reconstruído a partir de 114, com algum trabalho preparatório no terreno do prédio começando talvez logo após o incêndio de 110, e terminado por Adriano em algum momento entre 125 e 128.
Lise Hetland, a arqueóloga que primeiro elaborou este argumento em 2007 (construído sobre uma atribuição anterior a Trajano por Wolf-Dieter Heilmeyer), escreve que o esforço de longa data para fazer a evidência física adaptar uma datação inteiramente durante o período de Adriano demonstra "o absurdo da algumas vezes quase cirurgicamente clara apresentação dos prédios Romanos de acordo com a sequência de imperadores." O caso do Panteão confirma uma lição geral da história da arte: categorias de estilo e periodizações históricas (em outras palavras, nosso entendimento do estilo de arquitetura durante o reino de um imperador em particular) devem ser vistos como conveniências, subordinadas à prioridade da evidência.
O que era ele, um templo? Um santuário dinástico?
Hoje é uma questão em aberto se o edifício foi um templo para os deuses, como seu nome tradicional há muito sugeria aos intérpretes. Pantheon, ou Pantheum em latim, era mais um apelido do que um título formal. Uma das principais fontes escritas sobre a origem do edifício é a História de Roma por Dião Cássio, um historiador do final do segundo e início do terceiro séculos que fora cônsul Romano duas vezes. O seu relato, escrito um século depois que o Panteão foi terminado, deve ser aceito com ceticismo. No entanto, ele oferece importantes evidências sobre o propósito do prédio. Ele escreveu,
Ele [Agripa] concluiu o edifício chamado de o Panteão. Ele tem esse nome, talvez porque recebeu dentre as imagens que o decoravam várias estátuas de muitos deuses, incluindo Marte e Vênus; mas a minha opinião sobre nome é que, devido ao seu teto abobadado, ele lembra os céus. Agripa, por outro lado, desejava também colocar uma estátua de Augusto ali e lhe conceder a honra de nomear e estrutura em sua homenagem; mas quando Augusto não quis aceitar ambas as honrarias, ele [Agripa] colocou no próprio templo uma estátua do antigo [Júlio] César e na ante sala estátuas de Augusto e a dele mesmo. Isto foi feito sem qualquer rivalidade ou ambição por parte de Agrippa de se fazer igual ao Augusto, mas por sua sincera lealdade a ele e seu constante zelo pelo bem público.
Vários estudiosos sugerem hoje que o Panteão original não era um templo no sentido usual de habitação dos deuses. Em vez disso, ele pode ter sido planejado como um santuário dinástico, parte do nascente culto ao governante que emergia em torno de Augusto, com a dedicação original destinada a Júlio César, progenitor do ramo familiar de Augusto e Agrippa, e um reverenciado ancestral que fora o primeiro romano deificado pelo Senado. Para acrescentar à plausibilidade desta visão, está o fato de que o terreno tinha associações sagradas; a tradição afirmava que era o local da apoteose, ou da subida ao céu, de Rômulo, o mítico fundador de Roma. Além disso, o Panteão estava alinhado num eixo atravessando um longo trecho dos campos abertos chamados de Campus Martius, com o mausoléu de Augusto completado apenas alguns anos antes do Panteão. O edifício de Agrippa, então, evocava sugestões da aliança dos deuses com os governantes de Roma durante um período em que novas ideias religiosas sobre o culto aos governantes estavam nascendo.
O domo e a autoridade divina dos imperadores
Por volta do quarto século d.C., quando o historiador Amiano Marcelino mencionou o Panteão em sua história da Roma imperial, as estátuas dos imperadores Romanos ocupavam os nichos da rotunda. No Panteão de Agripa estes espaços haviam sido preenchidos com estátuas dos deuses. Também sabemos que Adriano mantinha sua corte no Panteão. Seja qual for seu propósito original, o Panteão na época de Trajano e Adriano era principalmente associado com o poder dos imperadores e sua autoridade divina.
O simbolismo do grande domo acrescenta peso a essa interpretação. As arcas da cúpula (painéis inseridos) são divididas em 28 seções, igualando ao número das grandes colunas abaixo. 28 é uma "número perfeito", um número inteiro cuja soma dos fatores é igual a ele (então, 1 + 2 + 4 + 7 + 14 = 28). Apenas quatro números perfeitos eram conhecidos na antiguidade (6, 28, 496, e 8128) e estes eram tidos, por exemplo por Pitágoras e seus seguidores, como possuindo significados míticos e religiosos em conexão com o cosmos. Além disso, o oculus (janela aberta) localizado no topo do domo era a única fonte de luz direta do interior. O raio de sol fluindo através do oculus traçava um caminho diário dinâmico nas paredes e no chão da rotunda. Talvez, então, o raio de sol marcava eventos solares e lunares ou apenas as horas. A ideia cabia perfeitamente no entendimento de Dião do domo como uma cobertura dos céus, e por extensão, da própria rotunda como um microcosmo do mundo Romano sob um céu estrelado, com o imperador presidindo sobre tudo, assegurando a ordem correta do universo.
Como ele foi projetado e construído?
O projeto básico do Panteão é simples e poderoso. Um pórtico com colunas independentes é anexado a uma rotunda abobadada. No meio, para ajudar na transição entre o pórtico retilíneo e a rotunda redonda há um elemento geralmente descrito em Inglês como o bloco intermediário. Esta peça é em si interessante pelo fato de que em sua parte superior sobre o frontão do pórtico se vê outro frontão menor. Isto pode ser uma evidência de que o pórtico pretendia ser mais alto do que é (50 pés Romanos em vez dos atuais 40 pés). Talvez as colunas mais altas, presumivelmente encomendadas de uma pedreira no Egito, nunca chegaram ao local do edifício (por razões desconhecidas), exigindo a substituição por colunas menores, reduzindo assim a altura do pórtico.
O grande espetáculo no interior do Panteão, sua enorme dimensão, a clareza geométrica do padrão círculo-no-quadrado do pavimento e o domo em semi círculo, o movimento em disco da luz, é em tudo deslumbrante pela forma como nos movemos da praça agitada (piazza, em Italiano) para a grandiosidade interior.
Nos aproximamos do Panteão através de seu pórtico com suas colunas Coríntias altas, monolíticas, de granito Egípcio. Originalmente, a aproximação seria cercada e conduzida através longos muros de um pátio ou um átrio em frente ao edifício, e um conjunto de escadas, atualmente submersos em baixo da piazza, que levavam ao pórtico. Caminhando sob as colunas gigantescas, a luz do exterior começa a diminuir. Ao passarmos pela enorme entrada com suas portas de bronze, entramos na rotunda, onde nossos olhos são conduzidos em direção ao oculus .
A estrutura em si é um importante exemplo da avançada engenharia Romana. Suas paredes são feitas de concreto faceado com tijolo, uma inovação amplamente utilizada nos maiores edifícios e infraestruturas de Roma, tais como aquedutos, e são realçadas com arcos e abóbadas que amenizam a parede maciça. O concreto permitia facilmente que espaços fossem esculpidos na espessura da parede; por exemplo, os nichos ao redor do perímetro da rotunda e a grande abside diretamente em frente à entrada (onde Adriano teria se sentado para realizar audiências). Além disso, o concreto do domo é graduado em seis camadas com uma mistura de escória, uma pedra vulcânica leve, de baixa densidade, no seu topo. De cima abaixo, a estrutura do Panteão foi aperfeiçoada para ser estruturalmente eficiente e permitir flexibilidade no projeto.
Quem projetou o Panteão?
Não sabemos quem projetou o Panteão, mas Apolodoro de Damasco, o construtor favorito de Trajano, é um provável candidato, ou, talvez, alguém intimamente associado com Apolodoro. Ele projetou o Foro de Trajano e pelo menos dois outros projetos importantes em Roma, provavelmente fazendo dele a pessoa na metrópole com o conhecimento mais profundo sobre a arquitetura e a engenharia complexas nos anos 110. Com base nisso, e com algumas semelhanças estilísticas e de projeto entre o Panteão e seus projetos conhecidos, a autoria de Apolodoro para o edifício é uma possibilidade significativa.
Quando se acreditava que Adriano tinha supervisionado completamente o projeto do Panteão, surgiu a dúvida sobre a possibilidade da atuação de Apolodoro porque, segundo Dião, Adriano tinha banido e depois executado o arquiteto por ter falado mal dos talentos do imperador. Muitos historiadores agora duvidam do relato de Dião. Embora a evidência seja circunstancial, uma série de obstáculos para autoria de Apolodoro foi retirada pelos desenvolvimentos recentes em nossa compreensão da gênese do Panteão. No final, no entanto, não podemos dizer com certeza quem projetou o Panteão.
Por que ele Sobreviveu?
Sabemos muito pouco sobre o que aconteceu com o Panteão entre a época do Imperador Constantino no início do século IV e o início do século VII, um período em que a importância de Roma desapareceu e o Império Romano se desintegrou. Esta é presumivelmente a época em que grande parte dos arredores do Panteão, o pátio e os edifícios vizinhos, caiu em séria degradação e foi demolida e reposta. É difícil dizer como e porque o Panteão emergiu esses séculos difíceis. O Liber Pontificalis, um manuscrito medieval contendo biografias de Papas nem sempre confiáveis, nos diz que no século VII o Papa Bonifácio IV “pediu ao imperador [Bizantino] Focas o templo chamado Panteão, e nele criou a igreja da sempre virgem Santa Maria e todos os mártires.” Existe um debate recorrente sobre quando a consagração Cristã do Panteão ocorreu; hoje, os estudos realizados apontam para o dia 13 de Maio de 613. Nos séculos posteriores, o edifício era conhecido como Sanctae Mariae Rotundae (Santa Maria da Rotunda). Qualquer seja a data precisa da sua consagração, o fato de que o Panteão se tornou uma igreja, especialmente uma igreja importante, na qual o Papa celebraria missas especiais durante a Quaresma, o período que antecede a Páscoa, significou que ele esteve um uso contínuo, assegurando a sua sobrevivência.
No entanto, como outras ruínas antigas em Roma, o Panteão foi durante séculos uma fonte de materiais para novos edifícios e outros propósitos, incluindo a fabricação de canhões e armas. Em adição à perda dos acabamentos originais, esculturas e todos os seus elementos em bronze, muitas outras mudanças foram feitas no edifício desde o século IV até hoje. Entre as mais importantes: as três colunas mais orientais do pórtico foram substituídas no século XVII após terem sido danificadas e suportadas por uma parede de tijolos séculos antes; portas e degraus conduzindo para baixo no pórtico foram erguidos após o nível da praça circundante ter subido ao longo do tempo; dentro da rotunda, colunas feitas de pórfiro vermelho imperial, uma pedra rara e cara do Egito, foram substituídas por versões em granito; e telhas e outros elementos foram periodicamente removidos ou substituídos. Apesar de todas as perdas e alterações, e de todas as perguntas difíceis e sem resposta, o Panteão é um artefato inigualável da antiguidade Romana.
Ensaio do Dr. Paul A. Ranogajec
Recursos Adicionais:
Mary T. Boatwright, “Hadrian and the Agrippa Inscription of the Pantheon,” em Hadrian: Art, Politics and Economy, editado por Thorsten Opper (Londres: Museu Britânico, 2013), pp. 19-30.
Paul Godfrey e David Hemsoll. “The Pantheon: Temple or Rotunda?” in Pagan Gods and Shrines of the Roman Empire, editado por Martin Henig e Anthony King (Oxford: Oxford University Committee for Archaeology, 1986), pp. 195-20em
Gerd Graßhoff, Michael Heinzelmann, e Markus Wäfler, editores, The Pantheon in Rome: Contribuições (Bern: Bern Studies in the History and Philosophy of Science, 2009)
Robert Hannah e Giulio Magli. “The Role of the Sun in the Pantheon’s Design and Meaning,” Numen 58 (2011), pp. 486-513.
Lise M. Hetland, “Dating the Pantheon,” Journal of Roman Archaeology 20 (2007), pp. 95-112.
Mark Wilson Jones, Principles of Roman Architecture (New Haven, CT: Yale University Press, 2000)
Tod A Marder e Mark Wilson Jones, editors, The Pantheon from Antiquity to the Present (Cambridge: Cambridge University Press, 2015).
Gene Waddell, Creating the Pantheon: Design, Materials, and Construction (Roma: L’Erma di Bretschneider, 2008)
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