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Natureza morta com pêssegos

Dra. Lea Cline
Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água (à esquerda), Natureza Morta com uma Bandeja de Prata com Ameixas, Figos Secos, Tâmaras e Copo de Vinho (ao centro) e Natureza Morta com Ramo de Pêssegos, mural do Quarto Estilo em Herculano, Itália, c. 62-69 d.C., afresco, 36 x 35 centímetros (Museu Arqueológico, Nápoles)

Presentes para os Anfitriões

Na minha juventude, minha mãe formal e Sulista sempre insistia para que eu levasse um presente para o anfitrião (algo levado pelo convidado para o dono da casa) para os pais dos meus amigos quando eu passava a noite em sua casa. Um típico adolescente, eu pensava que ela era irritantemente antiquada. Esta pintura, Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água, prova que ela era antiquada... realmente antiquada. Acontece que a prática de presentear os donos da casa tem origem nos Gregos antigos; embora, na Antiguidade, fosse o anfitrião—não o hóspede—quem presenteava. Este pequeno afresco é um exemplo de como os Romanos agiam com os anfitriões e como esta generosidade foi captada pelos antigos artistas Romanos.

A Casa dos Cervos, Herculano

Arqueólogos descobriram a Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água na Casa dos Cervos em Herculano, então uma rica cidade litorânea da Baía de Nápoles, apenas alguns quilômetros ao norte de Pompeia. Como Pompeia, Herculano foi destruída por uma erupção do vizinho Monte Vesúvio em 24 de Agosto de 79 d.C. A Casa dos Cervos foi assim chamada após encontrarem duas esculturas de cervos (ou veados machos) no jardim de seu peristilo (um peristilo é uma fileira de colunas circundando o perímetro de um edifício ou um pátio). Esta era uma das casas mais sofisticadas da cidade, orientada para se aproveitar da visão marítima panorâmica de Herculano. Os arqueólogos acreditam que a casa pertencia ao rico comerciante Quintus Granius Verus, já que seu selo foi descoberto em um pão, incrivelmente preservado pelas cinzas vulcânicas, desenterrado na casa. (O pão carimbado era uma prática comum porque as casas Romanas, ao contrário da maioria das casas modernas, não tinham fornos próprios. Fornos eram perigosos e tão quentes que a maioria dos Romanos levava seu pão para assar fora após preparar a massa em casa. Você carimbava seu pão para que ele não se misturasse nos fornos ou fosse reivindicado por outra pessoa).
Casa dos Cervos, Herculano (foto: Universidade de Cornell)
Não podemos ter certeza se a família dos Granii foi a construtora original da casa (provavelmente durante o reinado do imperador Cláudio, de 41-54 d.C.), mas eles parecem ter realizado uma grande reforma não muito antes da erupção do Monte Vesúvio. Nos anos imediatamente anteriores à destruição de Herculano, todos os 25 cômodos da Casa dos Cervos foram reformados e redecorados no mais novo estilo de pintura—o Quarto Estilo; apenas o antigo átrio, com seus históricos afrescos, permaneceu intocado como um sinal da importância histórica da casa. Assim, embora a casa exista até hoje apenas como uma ruína, quando a família Granii acordou na fatídica manhã de 79 d.C., eles devem ter vivenciado uma casa deslumbrante com paredes recém pintadas e pisos de mosaicos coloridos, fontes nos terraços preenchendo os espaços com o som de água corrente, e jardins preenchendo a casa com baforadas de doces fragrâncias trazidas pelo ar marítimo. Infelizmente, o dia não terminou tão bem.
Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água, detalhe de um mural do Quarto Estilo em Herculano, Itália, c. 62-69 d.C, afresco, 36 x 35 centímetros (Museu Arqueológico, Nápoles)
A Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água foi uma pequena parte do esquema da decoração desta casa, não destinada a ser vista isoladamente. Ela era parte de uma série de pelo menos dez composições de natureza morta praticamente quadradas, pintadas em conjunto em uma fila, compartilhando das bordas decoradas. Esta série de pinturas apresenta uma variedade de frutas, crustáceos, peixes, aves, carnes, vegetais e jarros de água em contraste com um fundo neutro marrom, às vezes com um degrau, prateleira ou nicho na parede na qual o artista compôs a tela.
A Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água apresenta cinco pêssegos verdes (apenas um quase maduro), seu ramo caído da prateleira, e um jarro de vidro com água no primeiro plano. Um dos pêssegos foi retirado do ramo e mordido, mostrando um caroço avermelhado e a massa branca que claramente contrasta com sua casca amarelo-esverdeada. O jarro de vidro mostra a habilidade do artista em registrar dois tipos de transparência ao mesmo tempo: o jarro de vidro claro e o líquido que ele contém. Enquanto o patrono pode ter querido o vidro, um dos mais caros luxos da Itália Romana, incluído como uma manifestação de sua riqueza, o artista o transformou em uma oportunidade para demonstrar seu talento em retratar estas características visualmente complexas em perspectiva.

Xênia (hospitalidade)

A Natureza Morta com Pêssegos e Jarro de Água, como as pequenas cenas que a acompanham, pertence a uma categoria de pinturas de natureza morta conhecida como xênia, tirada da palavra Grega para "amizade com o visitante" ou hospitalidade. A Xênia (hospitalidade) era demonstrada aos hóspedes que estavam longe de casa, os acomodando e proporcionando a eles os meios de se sentirem confortáveis (uma cama, comida, um banho, etc.). Não era somente uma forma de serem educados, era também considerada para os Gregos uma obrigação religiosa—uma ideia preservada tanto nos épicos Homéricos quanto na mitologia. Os Gregos acreditavam que o Zeus Xenios, a função de Zeus como protetor dos convidados, vagava disfarçado com os viajantes, testando a capacidade dos anfitriões de serem generosos e tolerantes. Embora a devoção com que os Gregos buscavam a qualidade da xênia não fosse correspondida pelos Romanos, mesmo assim os Romanos eram orgulhosos de sua habilidade em oferecer hospitalidade aos visitantes, especialmente aqueles cujo benefício social eles queriam conquistar (aqueles que eram mais ricos e socialmente importantes). Xênia, para os Romanos era mais uma questão de demonstrar a hospitalidade pela aparência que uma devoção religiosa.
Natureza Morta com Galinha (à esquerda), Natureza Morta com Duas Lulas, uma Jarra de Prata, Pássaro, Conchas, Caramujos e Lagosta (ao centro) e Natureza Morta com uma Lebre e Uvas (à direita), mural do Quarto Estilo de Herculano, Itália, c. 62-69 d.C., afresco, 36 x 35 centímetros (Museu Arqueológico, Nápoles)
As pequenas pinturas xênia na Casa dos Cervos não são incomuns; muitas casas ricas, principalmente casas e vilas localizadas ao longo da costa para onde visitantes de Roma gostariam de viajar para fugir do calor do verão (ou da turbulência política), eram equipadas com quartos especiais para hóspedes. As pinturas xênia são frequentemente encontradas nestes quartos, anunciando aos convidados que eles seriam mimados com as melhores comidas e roupas de casa. O antigo arquiteto Romano Vitrúvio sugeriu que a xênia incluía, em particular, "aves, ovos, vegetais e outros produtos locais" como forma de marcar a experiência de sair da cidade para o campo (de Architectura VI.7.4). A xênia na Casa dos Cervos, como Vitrúvio teria gostado, apresenta frutas e peixes (conhecidos como especialidades da área) juntamente com a tarifa padrão.
Natureza Morta com Galinha e Lebre ( à esquerda), Natureza Morta com Perdiz, Romã e Maçã (segunda à esquerda), Natureza Morta com Tordos e Cogumelos (terceira à esquerda), Natureza Morta com Perdizes e Enguias (extrema direita), mural do Quarto Estilo em Herculano, Itália, c. 62-69 a.C., afresco, 36 x 35 centímetros (Museu Arqueológico, Nápoles)
As pinturas ou mosaicos xênia também aparecem em mais áreas públicas das casas onde clientes (pessoas que dependem dos negócios do proprietário) e visitantes menos prósperos possam vê-los. Nestes casos, a xênia dizia do patrimônio da família e do nível de generosidade que eles podiam arcar para mostrar àqueles afortunados em serem convidados (mesmo que os espectadores não pertencessem àquele grupo escolhido). Suspeito que minha mãe tinha uma ideia diferente quando me enviava com os presentes para os anfitriões: mais um pedido de desculpas por qualquer problema que eu pudesse causar do que uma demonstração de riqueza ou importância social. E mais, sua insistência de que eu me apresentasse com o presente em mãos demonstra que mostrar o que temos de melhor e que acomodar convidados com generosidade nunca sai de moda.
Recursos adicionais
Joanne Berry, The Complete Pompeii (London: Thames & Hudson, 2013).
Roger Ling, Roman Painting (Cambridge: Cambridge University Press, 1991).
Donatella Mazzoleni e Umberto Pappalardo, Domus: Wall Painting in the Roman House (Los Angeles: Getty Trust Publications, 2005).
Umberto Pappalardo, The Splendor of Roman Wall Painting (Los Angeles: Getty Trust Publications, 2009).

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