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Mediterrâneo Antigo
Curso: Mediterrâneo Antigo > Unidade 8
Lição 2: Beginner guides to Roman architectureArquitetura doméstica romana (villa)
Artigo de Dr. Jeffrey A. Becker
Familiar mas enigmática
A villa, na sua fachada, parece ser o mais simples de se entender dos edifícios domésticos Romanos — afinal, continuamos a usar o termo em Latim "villa" para retratar um retiro luxuoso no campo ou a beira mar.
Encontramos evidências da antiga villa Romana tanto nas ruínas arqueológicas quanto nos textos antigos. No seu conjunto isso parece sugerir uma arquitetura razoavelmente uniforme e monolítica, enquanto a realidade é, de fato, algo bem diferente. De certo modo a villa Romana é um enigma. Isto é especialmente verdadeiro nas fases iniciais do seu desenvolvimento, onde questões de origens e influência continuam sendo calorosamente debatidas. Como um tipo de edifício, a villa consegue parecer simultaneamente ser instantaneamente compreensível e completamente enigmática.
História
O primeiros exemplos de edifícios agrupados nesta categoria, algumas vezes citados com o termo villa rústica (villa de campo), são na maioria das vezes casas de fazenda simples na Itália. Essas estruturas rurais tendem a ser associados com a agricultura ou a vinicultura (uvas) numa escala pequena. O modelo da villa - e o termo por si - então se torna apropriado e aplicado numa grande gama de estruturas que persistem através dos períodos Republicano e Imperial, continuando até a Antiguidade Tardia. Uma coisa que as villas tendiam a ter em comum é sua configuração extra-urbana - a villa não é uma estrutura urbana, mas sim rural. Por isso as encontramo muito mais em configurações rurais, suburbanas ou costeiras. Em termos ideológicos, o campo (rus) proporcionava um alivio das pressões frenéticas da cidade (urbs), e por isso as villas se associaram (e permanecem associadas) a ambientes rurais.
Segundo Plínio o Velho, a villa urbana se localizava a pouca distância da cidade, enquanto a villa rustica era uma propriedade rural permanente equipada com escravos e um supervisor (vilicus). A villa rústica é ligada à produção agrícola e o conjunto da villa pode conter instalações e equipamentos para o processamento da produção agrícola, principalmente o processamento da uva para produzir o vinho e o processamento da azeitona para produzir azeite de oliva. Mesmo villas opulentas muitas vezes tinham uma pars rustica, a parte funcional ou produtiva do edifício. Autores Latinos tais como Cato o Velho e Varro até fizeram e observaram recomendações estritas, baseadas na ideologia agrária, de como essas villas rústicas deveriam ser construídas, escolhidas e gerenciadas.
Tipologia da construção
É difícil identificar uma tipologia única, uniforme, para as villas Romanas, como é difícil fazer o mesmo para as casas Romanas (domus). Em geral a villa ideal é dividida internamente em duas zonas: a zona urbana para desfrutar a vida (pars urbana) e a área produtiva (pars rustica). Como com a arquitetura domus, as villas normalmente se focam internamente em torno de espaços de pátios e átrios. As villas da elite tendem a ser dispersas, com muitas salas para entretenimento e refeições, além de espaços específicos que incluem banhos quentes (balnea).
Villas Republicanas
As villas construídas na Itália durante o período que se estende do séculos V ao II a.C. podem ser divididas em muitos grupos, baseados na sua tipologia da construção. Uma tipologia com o menor número de exemplos conhecidos é uma villa opulenta que tira sua influência da tradição dos compostos palacianos aristocráticos do período Arcaico na Itália central, como o complexo de Poggio Civitate (Murlo) e o "palácio" de Acquarossa (perto de Viterbo). Esses compostos aristocráticos podem ter inspirado aristocratas Republicanos Romanos a construir mansões aristocráticas similares para suas famílias estendidas como uma demonstração da sua influência social e econômica. Outras "'villas" do período Republicano tendem a ser pequenas e vinculadas à produção agrícola numa pequena escala. Tradicionalmente elas são associadas com um pátio arejado, embora fechado, que serve como um ponto focal.
A villa do Volusii Saturnini da metade do século I a.C. em Lucus Feroniae (acima) provê um bom exemplo de uma villa opulenta construída com o dinheiro novo do Republicano Tardio. Ela também demonstra o padrão que muitas elites iriam seguir durante o período Imperial se tornando ainda mais opulenta. Na planta, podemos ver um grande peristilo (um jardim cercado por colunas) e um átrio menor (um pátio aberto) e dezenas de quartos em torno deles.
Escritores da Antiguidade tais como Catão o Velho (um senador Romano que nasceu no final do século III a.C.), Varrão (um acadêmico e escritor do século I d.C.), e Columela (que escreveu sobre agricultura no século I d.C.) teorizaram que a arquitetura da villa evoluiu ao longo do tempo, sendo a chamada villa "Columeliana" a mais elaborada e sofisticada. Enquanto os acadêmicos não aceitam mais esse esquema evolucionário, é interessante que esses autores da antiguidade estavam focados nas villas e na sua cultura e que eles observaram a mudança ao longo do tempo. Enquanto as ruínas arqueológicas não confirmam ou provam esta teoria de desenvolvimento arquitetônico, a conscientização da villa e seu papel na ideologia Romana é um importante conceito por si só.
Vilas Imperiais
A partir do período Imperial, temos a sorte de ter evidência de uma grande gama de arquitetura de villas distribuídas ao longo do império Romano. Nas províncias do império Romano, a adoção da arquitetura clássica das villas parece servir como um marco de adoção do estilo de vida Romano - com as elites ávidas para demonstrar sua urbanidade vivendo em villas. Um exemplo de tal adoção é o chamado palácio Romano Fishbourne em Chichester no sul da Inglaterra que era provavelmente a sede do rei cliente Cogidubnus.
Diversas villas destruídas pela erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C. demonstram as características fundamentais villa opulenta. Em Boscoreale a villa do Republicano Tardio de Publius Fannius Synistor (c. 50-40 a.C.) é bem conhecida pelos murais elaborados do Segundo Estilo (abaixo)
Em Oplontis (Torre Annunziata moderna, Itália), a chamada Villa A (às vezes citada como Villa Poppaea) mostra a villa à beira-mar (villa marítima). Esta é uma grande villa de festividades, com muitos quartos bem equipados para lazer e recepção.
Mesmo na periferia de Roma encontramos diversas villas relacionadas com a casa Imperial. Elas são na maioria da categoria villa urbana - incluindo exemplos como a Villa de Lívia em Prima Porta que pertenceu a Lívia, a esposa do imperador Augusto. A villa de Prima Porta - um retiro privado Imperial - é famosa pela sua sala de jantar com temática de jardim e o busto esculpido de Augusto de Prima Porta.
Outros imperadores também iriam construir suas próprias villas suburbanas. Digno de nota nesta categoria é a Villa de Adriano em Tivoli localizada a leste de Roma. Uma série de villas posteriores da elite (principalmente ao sul de Roma) como a Villa de Magêncio na Via Appia e a Villa dos Quintílios nos mostra que a villa continuou a ser não apenas uma demonstração de status no período Romano tardio, mas também manteve o seu papel como um retiro da confusão da cidade.
Romano Tardio
Na Antiguidade Tardia a villa Romana continuou a se desenvolver. A chamada Villa Romana del Casale nos arredores de Piazza Armerina, Sicília, foi construída no início do século IV a.D. e ostenta um dos arranjos mais complexos de mosaicos Romanos preservados do mundo antigo.
A Villa Casale era provavelmente o centro de uma grande propriedade agrícola (latifundium) e suas decorações opulentas sugerem fortemente o status da elite de seus proprietários. A villa tem três setores que focam em um peristilo central. Parece que o complexo foi construído como um projeto simultâneo. Suas decorações de mosaico são ricas e complexas, com temas que variam de cenas naturais e geométricas a cenas de gênero, cenas de caça, bem como cenas extraídas da mitologia Greco Romana. Villas como a Villa Casale dominaram a paisagem rural e a sua economia, se engajando em várias atividades produtivas da agricultura à mineração
As villas rurais Romanas permaneceram como características proeminentes em paisagens pós Romanas, em alguns casos tornando-se centros da vida monástica e em outros tornando-se os centros de povoados emergentes durante o período Medieval.
Ensaio do Dr. Jeffrey A. Becker
Recursos adicionais
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