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Uma nova linguagem pictórica: a imagem na arte no início da Idade Média

Ensaio da Dra. Nancy Ross

Praxiteles, Afrodite de Cnido, Cópia Romana em mármore do original Grego do século IV a.C. (Palázzo Altemps, Roma)
Praxiteles, Afrodite de Cnido, Cópia Romana em mármore do século IV a.C. (Palazzo Altemps, Roma)
Uma ilusão de realidade
A arte clássica, ou a arte da Grécia e Roma antigas, procurava criar uma ilusão convincente para o observador. Os artistas esculpindo as imagens de deuses e deusas tentavam fazer suas estátuas parecidas com figuras humanas idealizadas. Algumas destas esculturas, como a Afrodite de Cnido de Praxíteles, eram tão reais que lendas se espalharam sobre as estátuas ganhando vida e falando com as pessoas. Afinal, no mundo antigo se acreditava que uma estátua de um deus ou deusa encarnava a divindade.

O problema para os primeiros Cristãos

A qualidade ilusória da arte clássica repesentou um problema significativo para primeiros teólogos Cristãos. Quando Deus prescreveu os dez mandamentos a Moises no Monte Sinai, Deus proibiu expressamente os Israelitas de fazer imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra (Exodus 20:4). Os primeiros Cristãos se viam como a descendência espiritual dos Israelitas e tentaram obedecer este mandamento. No entanto, muitos dos primeiros Cristãos eram pagãos convertidos que eram acostumados com as imagens no culto religioso. O uso de imagens em rituais religiosos era visualmente atraente e difícil de ser abandonado.

Tertuliano pergunta: os artistas podem ser Cristãos?

Tertuliano, um influente autor Cristão primitivo que viveu nos séculos I e II, escreveu um tratado entitulado Sobre a Idolatria, no qual questiona se artistas podiam, de fato, serem Cristãos. Neste texto, ele argumenta que toda arte ilusória, ou toda a arte que visa se assemelhar a algo ou alguém na natureza, tem o potencial para ser adorada como um ídolo. Argumentando fervorosamente contra artistas Cristãos, ele reconhece que há muitos artistas que são Cristãos, e mesmo alguns que até são padres. No final, Tertuliano convida artistas para interromperem seus trabalhos e se tornarem artesãos.

Agostinho: imagens ilusórias são mentiras

Outro influente escritor Cristão primitivo, Santo Agostinho de Hipona, também se preocupava com as imagens, mas por razões diferentes. Em seus Solilóquios (386-87), Agostinho observa que imagens ilusórias, como os atores, estão mentindo. Um ator no palco mente porque está encenando um papel, tentando convencer você que ele é um personagem no roteiro, quando na verdade ele não é. Uma imagem mente porque não é aquilo que afirma ser. Uma pintura de um gato não é um gato, mas a artista tenta convencer o espectador de que é. Agostinho não pode conciliar estas mentiras com os padrões da verdade divina e, portanto não vê lugar para as imagens na prática Cristã.*
Felizmente para a arte e para a história, nem todos concordam com Tertuliano e Agostinho, e o uso das imagens perseverou. No entanto seus estilos e aparências mudaram para ser mais compatíveis com a teologia.
Mosaico na abside da Basílica de São Apolinário em Classe, século VI (Ravena, Itália)
Mosaico na abside da Basílica de São Apolinário em Classe, século VI (Ravena, Itália)

Rumo à abstração (e longe da ilusão)

A arte Cristã, que foi inicialmente influenciada pela qualidade ilusória da arte clássica, começou a se afastar da representação naturalista e, em vez disso, se voltou em direção à abstração. Os artistas começaram a abandonar as convenções artísticas clássicas como sombreamento, modelagem e perspectiva que fazem a imagem parecer mais real. Não observavam mais detalhes na natureza para registrá-los na pintura, no bronze, no mármore ou no mosaico.
Ao contrário, os artistas favoreceram representações planas de pessoas, animais e objetos que se pareciam apenas nominalmente com seus temas na vida real. Os artistas já não estavam criando mentiras contra as quais Agostinho alertava, uma vez que essas imagens abstratas removiam pelo menos algumas das tentações para a idolatria. Este novo estilo, adotado ao longo de várias gerações, criou uma distância confortável entre o novo império Cristão e seu passado pagão.
Na Europa Ocidental, essa abordagem às artes visuais predominou até o regime imperial de Carlos Magno (800-814) e a Renascença Carolíngia que se seguiu. Esta controvérsia sobre a legitimidade e a ortodoxia das imagens permaneceu e se intensificou no Império Bizantino. O assunto foi finalmente resolvido, em favor das imagens, durante o Segundo Concílio de Niceia, em 787.
Ensaio da Dra. Nancy Ross
*Existe alguma ironia aqui, uma vez que a posição de Agostinho reflete, de certa forma, os escritos do filósofo da Grécia antiga Platão. No livro X da República (aprox. 360 a.C.), Platão descreve uma coisa verdadeira como a que foi feita por Deus, enquanto na esfera terrena, um carpinteiro, por exemplo, pode apenas construir uma réplica desta verdade (Platão usa uma cama para ilustrar seu ponto de vista). Platão declara que um pintor que pinta a cama do carpinteiro cria uma ilusão que está a dois passos da verdade de Deus.

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