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Europa medieval + Bizantino
Curso: Europa medieval + Bizantino > Unidade 8
Lição 1: Romanesque art in FranceTímpano do Juízo Final, Catedral de São Lázaro, Autun
Tímpano do Juízo Final, portal central na fachada oeste da Catedral de São Lázaro, Autun, c. 1130-46. Criado por Beth Harris e Steven Zucker.
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(música de piano) Dr. Zucker: a possibilidade de
passar a eternidade no inferno é apavorante,
mesmo como suposição, mas ser confrontado pelas
imagens que retratam isso deve ter amedrontado a mente
medieval. Dr. Harris: Estamos olhando para a
entrada da catedral de Autun, que
representa, creio eu, a imagem mais
aterrorizante do Julgamento Final, dos condenados
no inferno que existe na História da Arte. Dr. Zucker: É claro que isso também
inclui o céu, mas acho que as pessoas
estavam, provavelmente, passando muito mais tempo
olhando e temendo o inferno. Essa é uma escultura que
é uma das primeiras esculturas monumentais a serem
feitas no período Medieval. Havia, é claro,
esculturas monumentais na Grécia antiga e Roma antiga, mas depois do séc. V,
aproximadamente, esculturas monumentais realmente
desapareceram e isso foi em parte devido
ao caos político e econômico da era Medieval. Foi nesse período, por volta
de 1000 ou bem depois disso que as coisas começaram a se
estabilizar. Dr. Harris: Há um enorme aumento
de construções de igrejas na Europa nesse período. e começamos a ver esculturas monumentais nas entradas de igrejas e dentro das igrejas nas capitais. Dr. Zucker: Nós temos essa
catedral nova magnífica em Autun, e é importante
lembrar que isso foi por causa das
relíquias que estavam lá. Dr. Harris: Peregrinos estavam
viajando por toda Europa nesse período, para visitar as relíquias, as partes de santos, nesse caso,
aqui em Autun, os ossos de São Lázaro;
cada igreja tinha relíquias. Dr. Zucker: As relíquias eram
extremamente importantes. Acreditava-se que elas
podiam curar os doentes, elas podiam oferecer bençãos que
poderiam até encurtar o tempo de alguém no
purgatório se essa pessoa viesse e prestasse homenagem,
se orasse a eles. Dr. Harris: Frequentemente, igrejas
eram reformadas ou relicários especiais viravam
abrigos dessas relíquias, mas no caso
de Autun, essa igreja foi construída
especificamente para abrigar as relíquias de São Lázaro. Eles construíram uma
igreja inteira para suas relíquias. Dr. Zucker: Claro que há a
dimensão espiritual, mas há também uma dimensão
econômica. Essas relíquias eram motores
econômicos para a comunidade, porque havia a chegada desses peregrinos, eles precisavam ficar em pousadas,
eles precisavam comer, havia uma abundância econômica que cercava relíquias importantes. Esse certamente é o caso aqui. Se você pensar em Lázaro,
a pessoa cujos ossos estão dentro da Igreja,
esse é o irmão de Maria Madalena, que Cristo
trouxe de volta à vida, de acordo com o Novo Testamento. Trata-se de renascimento, de
um tipo de esperança após a morte. É claro, esse é o assunto do Julgamento final. Dr; Harris: Então nós imaginamos
o fiel olhando para essa entrada, lendo o
sermão na pedra, como Bernardo de Claraval disse,
a história do Julgamento final.
As pessoas eram analfabetas. Era assim que elas
aprendiam essas histórias. Dr. Zucker: As imagens eram
verdadeiros textos e nós devemos lê-lo, então vamos adiante fazer
exatamente isso. Dr. Harris: Então, nós temos a
figura mais óbvia, Cristo, no centro. Ele é maior que todos os demais. Dr. Zucker: Este é um tipo de
organização hierática, a figura mais importante
é, de longe, a maior. Ele é tão plano, tão linear,
e não há preocupação com as proporções de
seu corpo. Dr. Harris: Ele é alongado
e vemos linhas que são esculpidas na pedra
para indicar essas dobras repetidas na roupa. Dr. Zucker: Há uma preocupação
real com o decorativo. Dr. Harris: Ele é frontal, ele
é simétrico, Ele é essa figura divina
que olha fixamente julgando. Dr. Zucker: Ele olha para além de nós,
como se estivesse num plano completamente diferente do nosso. Ele está sentado num trono
que é a cidade do céu e você pode supor que as
pequenas janelas arqueadas, ambas sob seus pés, como
se fossem os móveis em que ele se senta. É claro que essa é uma
leitura literal, e isso deve ser metafórico. Suas mãos e sua auréola
e seus pés passam a mandorla, esse formato de amêndoa
que cerca completamente Seu corpo e que deve
funcionar quase como um tipo de auréola de
corpo inteiro, uma representação de sua
divindade. Dr. Harris: Há quatro anjos
que o cercam, que parecem trazê-lo à frente. Dr. Zucker: Eles também estão
literalmente segurando a mandorla como se essa
luz divina que cerca Cristo tivesse peso. Dr. Harris: E como Cristo,
esses anjos estão também alongados, seus
corpos se movem e torcem-se desses modos maravilhosos. Dr. Zucker: Há essa
expressividade incrível. Dr. Harris: Nós lemos imagens
do Julgamento final pensando na esquerda
e direita de Cristo. À esquerda de Cristo estão
os condenados indo ao inferno e à sua direta estão
os abençoados que foram selecionados para o céu. Dr. Zucker: À direita de
Cristo, no topo, vemos a Virgem Maria,
que está entronada no céu. Há um anjo a seu lado. Dr. Harris: Soprando um
trompete para despertar os mortos e para anunciar a
chegada de Cristo. Dr. Zucker: Podemos ver a
própria arquitetura do céu com algumas almas
abençoadas dentro dela. Podemos ver anjos, também,
conduzindo os abençoados ao céu. É interessante notar que
as almas são representadas como figuras nuas. Dr. Harris: Uma das partes
mais famosas desse tímpano é a figura
de São Miguel quem pesa as almas,
um demônio parece estar tentando virar a balança
em favor daqueles que pecaram, para que pudessem
levar mais almas ao inferno Dr. Zucker: É tão interessante
pensar nessa representação literal da
pesagem das almas, essa moralidade tem
gravidade de certa forma Dr. Harris: Olhe para aquela
figura que se esconde no tecido, nesses adoráveis
espirais de tecido de São Miguel. Essa figura é tão diferente
das figuras à direita, que são
empurradas por ganchos por um demônio, para dentro
dos fogos do inferno, que perceberam que passarão a eternidade
sendo torturadas. Dr. Zucker: É bem ruim. Dr. Harris: É aterrorizante. Dr. Zucker: Eu acho os demônios
muito mais interessantes. Suas bocas estão escancaradas, eles parecem vorazes,
como se estivessem preparados para comer essas almas. Eles têm garras, há uma
serpente de três cabeças envolvendo as pernas de
um dos demônios. De fato, há imagens de
terror aqui. Dr. Harris: Há uma inscrição
bem abaixo das figuras que estão nessa ponta. Ela diz: "Possa este terror aterrorizar
aqueles ligados pelo erro mundano, "pois o horror destas imagens, aqui, neste palácio, verdadeiramente
retrata como será". Na mente medieval, não
há dúvida de que isso acontecerá e onde você
estará quando isso acontecer. Dr. Zucker: E não olhe para
Cristo, porque Cristo está olhando para
além e nós, é tarde demais. Então vamos para
a área que está mais próxima de nós, que fala
dessa questão sobre qual lado ocuparemos. O próprio tímpano é essa
abertura circular esse semi-círculo, mas ele
é sustentado por uma longa barra,
que é chamada de lintel. Esse é o momento em que os
mortos são ascendidos de seus túmulos, são ressuscitados
para serem julgados. Esta é como uma fila
de espera para o julgamento. Dr. Harris: Eles estão, literalmente,
nesse momento, emergindo de suas tumbas. Dr. Zucker: Você pode ver o
sarcófago aos seus pés. Eu vejo um anjo que está
claramente ajudando uma alma, mas em ambos lados há
duas outras almas que parecem agarrar o
anjo desesperadamente esperando que ele as
leve junto também. Ao caminharmos para o centro,
as coisas quase parecem se tornar um pouco menos
claras Você pode ver as bolsas de
duas pessoas, uma com uma cruz, uma com a a concha. Essa seria uma referência
aos peregrinos que tivessem talvez, ido à Jerusalém, que
talvez tivessem ido à Espanha tentando visitar
relíquias importantes, para que eles pudessem estar
entre os abençoados. Dr. Harris: Certo, para aumentar
suas chances de entrar no céu. Dr. Zucker: E se você não o fizesse,
as coisas nem sempre dariam certo. Dr. Harris: E, então, vemos
exatamente isso. Bem abaixo de Cristo
vemos um anjo empunhando uma espada em direção a uma
figura aterrorizada que, com seus olhos arregalados,
parece tentar se afastar do anjo. Dr. Zucker: E, de fato, todos
que estão à frente do anjo parecem absolutamente
aterrorizados. Veja a figura ajoelhada, segurando a sua cabeça, quase como se dissesse: "Como isso pode ser verdade?
Com pode ter chegado e este ponto?" Dr. Harris: Se você mover seu
olhar à direita, podemos ver figuras
contorcidas diante do reconhecimento de
seus destinos no inferno. Eles dobram seus joelhos,
formam figuras angulares com seus corpos, comprimidos
como se estivessem sendo esmagados para
dentro do inferno. É incrivelmente expressivo
em seus corpos. Dr. Zucker: Dramático, certamente, mas provavelmente nada é mais
dramático que a compreensão na face da
alma cuja cabeça está sendo agarrada por
duas enormes garras, as mãos, presumivelmente,
de um demônio que está sendo puxado para
o inferno. Dr. Harris: Você pode ver
que o escultor esculpiu os olhos profundamente,
esculpiu a boca aberta profundamente para que tenhamos uma noção
de seu grito de desespero. Nossos historiadores interpretaram
uma inscrição na porta que diz: "Gislebertus hoc fecit",
Gislebertus fez isto como sendo uma inscrição
que se refere ao escultor, ele próprio. Dr. Zucker: Isso seria
extremamente incomum. Na era Moderna, nós
associamos a obra de arte com a genialidade do indivíduo,
mas na era Medieval os artistas eram artesãos,
os artistas não eram vistos como gênios individuais. Por isso, esses objetos não
eram assinados. Dr. Harris: Mas foi muito bom imaginar que nós conhecemos o nome
do artista que fez isso. Dr. Zucker: Há um novo estudo o qual sugere que, talvez,
tenhamos sido enganados e que Gislebertus não é
o nome de fato do artista. Dr. Harris: O estudo recente
sugere que Gislebertus é, na verdade,
o nome de um duque que era associado à trazida
dos ossos de São Lázaro à Autun, de
certa forma, então, legitimando esta Igreja
como um lugar digno dos ossos de São Lázaro. Dr. Zucker: Mas mesmo se não
soubermos o nome do artista, sabemos o poder
de sua obra. Dr. Harris: Não há dúvida
quanto a isso. (música de piano) Legendado por Amália V. Caseto.