RKA2G - Oi, como vai? Você se lembra do conceito de advérbio? Advérbio é aquela palavrinha
que modifica um verbo, um adjetivo, um outro advérbio ou até uma frase, exprimindo uma ideia de tempo, de modo,
de lugar, qualidade, etc. "Dormir" é uma coisa. "Dormir pouco" é outra bem diferente, certo? Uma comida pode ser "saborosa", mas, quando ela é "muito saborosa",
a gente come até com mais vontade, não é? Então, "pouco" é um advérbio de intensidade
que muda o verbo "dormir". "Muito" é outro advérbio de intensidade,
mas que muda o adjetivo "saborosa". Hoje nós vamos estudar três advérbios
de intensidade: "meio", "menos" e "bastante". Vamos conversar com o advérbio "meio". "Meio" é "mais ou menos", certo? Olhe este exemplo do livro
Clarice: uma biografia, no qual o autor norte-americano Benjamin Moser
conta o que a escritora Clarice Lispector teria dito a respeito de uma crítica. "Perto do final da vida, foi indagada sobre
uma crítica impiedosa que saíra no jornal. 'Fiquei meio aborrecida, mas depois passou'." Dá para entender que a Clarice
não gostou muito da crítica, mas também não deixou que isso a abalasse. Ela ficou "meio" aborrecida,
"mais ou menos" aborrecida. A intensidade do aborrecimento é o que
a palavra "meio" expressa nesta frase. Diferente desta, olha só: "Teresa tem seis anos e diz que
já entendeu o mundo. Não duvide. Em meia dúzia de natais
ela já foi menino, bicho, pedra, coisa e planta." Neste livro de Marcelo Romagnoli, a personagem Tereza é apresentada
como alguém que já entendeu o mundo porque, em meia dúzia de natais,
já foi menino, bicho, pedra, etc. A palavra "meia", aqui, representa um numeral. E o numeral concorda com o gênero
da palavra a que se refere. Se todos os dias eu almoço nesse horário, eu digo que almoço todos os dias
ao meio-dia e meia. Estou tratando de números: "meio"
combina com dia e "meia" combina com a hora. Já a Clarice nunca poderia ficar "meia" aborrecida. Os advérbios são invariáveis. Então, "menos" e "bastante" também
não mudam, certo? Certo! Olhe só este trecho do conto O Arquivo, do escritor Victor Giudice. "Agora João acordava às cinco da manhã.
Esperava três conduções. Em compensação, comia menos.
Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada.
O contentamento aumentou." A pele, normalmente, é rosada, mas a do João,
do conto, ficou "menos" rosada e nunca "menas" rosada. "Menos" é um advérbio, não muda. Ele é que, neste caso, muda a intensidade
do adjetivo "rosada". E "bastante", da mesma forma. Olhe o trecho do conto Teatro de Bonecos,
de Amilcar Bettega Barbosa. "Ontem fomos jantar na aldeia,
no restaurantezinho da Dona Carmelinda, como fazemos todas as semanas, e notei que eles estavam bastante alegres,
quase felizes eu diria." "Bastante alegres". De novo, temos um advérbio de intensidade que muda o adjetivo,
mas que ele mesmo não muda. Mas e aqui? Olhe este trecho. "Quero que o senhor descubra para mim
um sítio aqui perto com bastantes jabuticabeiras para eu descansar uns dois
ou três meses durante o ano." "Bastantes"? Será que o autor
do livro se enganou? Vamos ver uma coisa. A palavra "bastante" representa
um advérbio neste texto? Ela está modificando um verbo,
um adjetivo ou outro advérbio? Está modificando uma frase inteira? Não: ela está quantificando as jabuticabeiras. "Jabuticabeira" é um substantivo. Uma jabuticabeira, duas jabuticabeiras,
bastantes jabuticabeiras. É simples: dá para substituir "bastantes"
por "várias", por "muitas"? "Um sítio aqui perto com várias jabuticabeiras", "um sítio aqui perto com
muitas jabuticabeiras". Dá! Está claro, a gente entende.
Agora, pense na frase anterior. "Estavam várias alegres", "muitas alegres". Não dá, não combina. Hoje nós vimos as palavras "meio",
"menos" e "bastante" e aprendemos que, quando elas assumem
a função de advérbio de intensidade, elas não variam. Espero que você tenha gostado e que, a partir de agora, nunca mais
se engane ao usar essas palavras. Tchau e até a próxima aula!