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Crônicas líricas, visuais e jornalísticas

Nesta aula, são apresentadas informações sobre variações do gênero crônica, partindo de crônicas jornalísticas e chegando também a crônicas líricas e visuais. A Khan Academy oferece exercícios, vídeos e um painel de aprendizado personalizado para ajudar estudantes a aprenderem no seu próprio ritmo, dentro e fora da sala de aula. Temos conteúdos de matemática, ciências e programação, do jardim da infância ao ensino superior, com tecnologia de ponta. De graça, para todos e para sempre. #YouCanLearnAnything Se inscreva no canal! Versão original criada por Khan Academy.

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RKA8JV - Olá, como vai? Quero iniciar esta aula lendo junto com você os dois primeiros parágrafos da crônica "Uni, duni, tê" do escritor gaúcho Rubem Penz. Nunca me dei bem com números. Primeiro, apanhei nas aulas de matemática durante toda a vida escolar. Agora, sofro para decorar telefones, senhas, datas e, principalmente, apartamentos. Batata: chego diante de um prédio, sei que é ali o endereço em que devo ir, mas não decoro o bendito número do apartamento. Quando há porteiros, o problema pode ser sanado com uma pequena dose de constrangimento. Digo o nome do morador, confesso que esqueci o apartamento dele, recebo um pouco de boa vontade e consigo ser anunciado. Pior é quando fico diante daquele painel de botões todos com os mesmos números: 101, 102, 103, etc. Na base da sorte, eu lembro o andar. Também parto para deduções: é nos fundos, e, por convenção, os primeiros números contemplam os apartamentos de frente. Logo, é 505, 506, 507 ou 508. Uni, duni, tê. Pelo jeitão do texto, você já percebeu que se trata de uma crônica não é? Olha só. Tem todos os elementos da crônica. Trata de um tema contemporâneo, característico da vida social. Lemos só os dois primeiros parágrafos, mas posso garantir a você, o texto inteiro é composto por seis parágrafos, então, é um texto breve, simples de interlocução direta com o leitor. É um texto escrito que traz marcas típicas da oralidade. Olhe só. "Nunca me dei bem, apanhei nas aulas de matemática", "Batata", "não decora o bendito número", e isso, só no primeiro parágrafo. Outro fator que confirma que estamos diante de uma crônica é que a narrativa não apresenta uma trama assim muito bem definida, não existe um grande conflito, fora o fato de um narrador não se dar bem com números e não se lembrar dos números dos apartamentos. Não sabemos mais nada sobre ele, temos só esse recorte de sua personalidade. A crônica é um gênero literário que trata dos assuntos cotidianos, simples assim, aqueles assuntos que normalmente não chamam a atenção, são acontecimentos insignificantes, cenas corriqueiras, um fato banal. Ora, o narrador da crônica "Uni, duni, tê" tem dificuldade com números. Ok, isso não dá manchete de jornal, isso não é notícia, mas, como ele, muitos têm dificuldades com números. A crônica trata dos temas que estão ligados às pessoas, às suas angústias, às suas alegrias. Se eu também tenho problemas com números, entendo os perrengues pelos quais o narrador de "Uni, duni, tê" passa. Se não tenho problemas com números, entendo do mesmo jeito, porque tenho problemas com nomes, ou com fisionomias, ou porque eu conheço alguém que também tem problema com números. Fernando Sabino foi um grande escritor e cronista brasileiro. Ele costumava dizer que a crônica busca o pitoresco ou o irrisório no cotidiano de cada um. Essa proximidade do cotidiano, do corriqueiro, do banal, faz com que a crônica seja considerada, por alguns críticos, um gênero menor de literatura. Mesmo assim, nomes como Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Cecília Meireles, Rubem Braga, ou o próprio Machado de Assis, escreveram crônicas. Gênero menor, neste caso, parece não combinar muito bem. Mas vamos voltar ao nosso tema. O exemplo que lemos juntos é o de uma crônica jornalística Por que jornalística? Porque relata um fato. O narrador tem dificuldade de se lembrar de números e quando não tem um porteiro para ajudar na tarefa, se vale da Lógica para tentar descobrir que apartamento precisa visitar. Há uma sucessão temporal de informações que vão elucidando o mistério da narrativa na mente do leitor, de modo a promover uma reflexão. Só que a crônica, até pelo seu caráter discursivo livre, sem grandes regras, cujo principal objetivo é se aproximar do dia a dia do leitor, pode assumir outros formatos. Vale, neste caso, a criatividade. Quando a crônica ultrapassa a narrativa dos fatos para se debruçar sobre o sentimento, as emoções, as questões fundamentais da existência humana, ela assume uma outra forma de expressão. Continua sendo crônica, mas, agora, com uma linguagem poética, metafórica. Ainda tem uma característica de oralidade presente, ainda é breve e simples, ainda conversa diretamente com o leitor, mas de um jeito diferente. Veja este trecho da crônica "O Amor Acaba", de outro o cronista brasileiro, Paulo Mendes Campos. "O Amor acaba. Numa esquina, por exemplo, em um domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois de uma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa, o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia onde o amor pode ser outra coisa? O amor pode acabar." E a crônica segue enumerando outras situações em que o desamor toma conta da relação e as pessoas deixam de se importar. É um tema banal. Muitas pessoas deixam de se amar. É um tema doído, porque deixar de amar ou deixar de ser amado não é uma sensação muito agradável, e é um tema contemporâneo. Mais que contemporâneo, é eterno. Amor faz parte de nossas vidas, e muitos de nós já amaram, já desarmaram, já foram amados, já foram desamados também. Dá para notar a diferença dos textos, não dá? Ambos são crônicas, mas a forma de cada um é única. Pois agora eu quero apresentar a você uma imagem. Veja só. Regina Parra é uma artista plástica paulistana cujo trabalho ilustra as relações entre opressão insubordinação. Em 2018, ela instalou esse luminoso no Largo da Batata, uma grande praça onde acontecem importantes eventos cívicos na cidade de São Paulo. Veja só, são quatro frases que mostram persistência, luta, desejo de vencer. "É preciso continuar. Não posso continuar. É preciso continuar. Vou continuar". Agora imagine o Largo da Batata ocupado por um evento como a parada gay. Percebe a força de significados do trabalho da artista? Ela emoldura uma situação cotidiana, a luta de todos nós todos os dias por um futuro melhor, e emoldurada por um movimento que busca a igualdade e o respeito, nos leva a refletir sobre a importância de persistir. "Eu vou continuar!" Pode parecer estranho, mas esta obra é também uma crônica, é uma crônica visual. Visual porque tem essa característica de contemporaneidade e simplicidade, fácil interlocução, oralidade, é breve e funciona como uma testemunha, no caso, uma testemunha gráfica dos comportamentos, costumes e hábitos de nossa sociedade. Deu para entender? A crônica é um gênero literário que trata dos assuntos do dia a dia de forma breve, com uma linguagem simples, muito próxima da fala. A crônica jornalística tem c omo característica principal a narração de um fato. Apresenta um ponto de vista por meio de argumentos narrativos. A crônica lírica discute os sentimentos, as emoções, usa os fatos para valorizar o pensamento, os valores éticos e morais, as sensações humanas. A crônica visual por sua vez, se valida a adequação de uma imagem ao contexto social, para levar o espectador a uma reflexão crítica sobre o comportamento, os hábitos e os costumes da sociedade. A crônica é um gênero que permite muitas formas de expressão. Você viu! Ela não está restrita às páginas de um jornal, pode ir para praça pública, como no trabalho da artista Regina Parra. Pode fazer parte de blogs, pode ilustrar a sua página na rede social. Escrever crônicas é um exercício de criatividade. Não existem regras, o importante é transmitir a mensagem, criar um e como leitor, despertar nele uma alegria por exemplo, fazê-lo pensar em alguma coisa de modo mais sério, emocioná-lo, chamar a sua atenção. Experimente. Escreva crônicas, fale sobre o que vê, o que sente, o que aconteceu ontem à tarde. Faça isso de uma forma livre, sem compromisso, e leia, leia muitas crônicas, desfrute a leitura, apenas pelo prazer de ler. E a gente se vê por aí. Até mais!