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Curso: Biblioteca de Biologia > Unidade 36
Lição 2: Curso intensivo: Ecologia- A história da vida na terra
- Ecologia populacional: O mistério do mosquito do Texas
- Crescimento populacional dos seres humanos
- Ecologia das comunidades: onde está o amor?
- Ecologia das comunidades II: Predadores
- Sucessão ecológica: Mudar é bom
- Ecologia dos ecossistemas: Elos na cadeia
- Os ciclos hidrológico e do carbono: Recicle sempre!
- Ciclos do nitrogênio e do fósforo: Recicle sempre!
- Cinco impactos humanos no meio ambiente
- Poluição
- Ecologia da conservação e da restauração
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Ecologia das comunidades II: Predadores
Hank explora as adaptações de predadores, a corrida armamentista evolutiva entre predadores e presas e os vários tipos de predação (incluindo herbivoria e parasitismo). Versão original criada por EcoGeek.
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Transcrição de vídeo
RKA3G Dentre as formas de interação entre as espécies,
talvez a que mais fascina seja a predação. É difícil não ser cativado por um urso pardo do Alasca, um dos grandes predadores da América do Norte. Embora se alimente mais
de nozes, insetos e frutas, ele é potencialmente um grande esmagador de ossos,
o que podemos constatar por esta crista sagital pronunciada, que é onde se unem
os músculos da mandíbula. Talvez a razão desta fascinação pela predação
seja porque somos os maiores predadores do planeta, pelo menos por hora. Foi assim que chegamos até aqui,
mas durante milhares de anos, fomos presas também, não só de ursos e lobos,
mas de vírus, bactérias e parasitas. Porque predação não é somente
animal comendo animal. Este boi almiscarado ou esta ovelha chifruda
são predadores, mesmo que só comam plantas. Para entender sobre predação, precisamos entender as pressões evolutivas na relação entre caça e caçador. Por causa destas pressões, a predação
levou a diversos tipos de adaptações. Desde as enormes mandíbulas e dentes dos ursos
até o ato de os lobos caçarem em bandos. E também as adaptações de defesa,
como a supervelocidade da antilocapra. O efeito da interação predador-presa é
uma corrida armamentista que resulta em uma incrível quantidade
de diversidade em qualquer ecossistema. Desde as montanhas rochosas até a savana africana. Esta corrida é chamada de coevolução,
o processo pelo qual as interações entre duas espécies afetam a evolução de ambas. Isto acontece desde a explosão cambriana,
há mais de meio bilhão de anos, e continuará gerando novos surtos de diversidade muito depois de sermos extintos. Relacionamos predação a animais.
Leões caçando zebras, lobos matando ovelhas, gaviões comendo ratos...
Mas predação vai bem além de carnívoros sendo carnívoros. Ela também se aplica a inúmeras interações
em que um organismo mata o outro para conseguir energia. É importante sabermos isto e ecologia tem muito a ver com o fluxo de energia dos sistemas ecológicos. Todo ser vivo precisa de energia
para cumprir duas metas essenciais: permanecer vivo e fazer bebês.
Predadores matam porque estão com fome e têm fome porque precisam da energia
para sobreviver e se reproduzir. Para as presas, as interações são,
obviamente, perigosas. Afinal, nada anula mais as chances
de ser produtivo do que estar morto. Mas quase toda a energia da Terra começa nas plantas. O bisão comendo grama é um tipo de predação chamado herbivorismo, em que um organismo come
o capim para capturar a energia dele. Pode não parecer predação,
mas o bisão comendo capim, peixes-boi e ouriços do mar comendo algas
são exemplos de organismos comendo outros organismos e captando
a energia do Sol. O parasitismo é uma forma de predação
em que um organismo retira energia do hospedeiro, normalmente prejudicando
ou até matando no processo. Os vermes em crinas de cavalo, por exemplo,
moram no interior de gafanhotos e fazem como uma lavagem cerebral neles, forçando-os a saltarem na água.
Como esse verme entra no gafanhoto é um mistério, mas larvas podem ser carregadas em mosquitos,
sendo uma via provável. Uma vez dentro do gafanhoto, o verme se alimenta de tudo não essencial
para o hospedeiro, crescendo várias vezes o tamanho dele. Quando sobram só a cabeça e as pernas,
o verme está pronto para se reproduzir. E aí, a lavagem cerebral começa. Estes vermes se reproduzem na água,
mas gafanhotos não sabem nadar. Então, os vermes enchem seus hospedeiros
com químicos que fazem com que eles saltem na água. Uma vez que o gafanhoto saltou, o verme fica livre
para sair do anfitrião e encontrar um parceiro. Eca! Conseguir comer uma gazela é uma coisa,
mas transformar sua presa em um zumbi suicida, isso, meus amigos, é predação! Predadores e presas têm, ambos, milhões de anos
de truques em suas mangas ou armazenadas em seu DNA, porque todos estão jogando
com as mesmas regras evolutivas. Seja o leão, a zebra, o gafanhoto, o verme, o bisão ou a grama, ganhar energia e não ser comido
é pré-requisito para o sucesso reprodutivo. Então, a necessidade de sobreviver faz
predadores e presas adaptarem o ataque e a defesa numa interminável corrida armamentista.
Para o predador, adaptações para a caça e alimentação são óbvias e familiares, por exemplo,
o aguçado olfato e dentes afiados dos lobos ou os olhos precisos e as garras afiadas das águias. Outras criaturas como cascavéis usam órgãos termossensíveis para buscar pequenos roedores e veneno para matar.
Mas é aí que a coevolução entra em cena, para dar chance à presa
na corrida evolucionária também. Já que ser predado é sempre prejudicial, para espalhar os seus genes, as espécies se adaptam
para evitarem de serem predadas. Estas adaptações podem proteger
contra os comportamentos do predador e as dividimos em detecção, captura e manipulação. Para evitar a detecção, algumas presas possuem cores crípticas,
que misturam-se com o ambiente, ajudando a camuflar a presa.
Por exemplo, os bichos-paus que se parecem com galhos ou insetos que se parecem com folhas. Lebres que ficam brancas no inverno,
se camuflando na neve, e voltam a ser pardas no verão,
se camuflando com a folhagem. Evitar a captura é, às vezes, bastante simples.
O antílope foge dos predadores em saltos velozes, outros encontram segurança nos grupos,
como o bisão em seus rebanhos ou arenques em cardumes.
Os bandos não protegem a presa de ser detectada, mas a chance de ser pega diminui,
pois ela fica diluída entre os membros, especialmente para os membros mais saudáveis
que ficam no meio do rebanho. Finalmente, algumas das adaptações mais conhecidas são as que evitam a manipulação. As plantas são mestres nisso. Pense nos espinhos
da rosa, na seiva que prende os insetos ou nos galhos de uma acácia africana.
Eles têm mais espinhos até onde as girafas alcançam, mas acima disso, quase não há espinhos. Outras plantas produzem armas químicas,
como a nicotina, o tabaco, e os taninos produzidos por muitas plantas
para afastar ervas daninhas. Animais possuem truques químicos
estranhos para se proteger. Alguns não só desenvolveram coquetéis tóxicos,
mas também possuem uma coloração apozemática ou de aviso. O brilho, as cores contrastantes, como manchas amarelas e pretas, da salamandra de fogo; as faixas vermelhas, amarelas e pretas da cobra-coral
deixam claro aos predadores que comê-las pode ser um erro grave.
Se você pensar nisso, a natureza é cheia de espécies que são pretas e amarelas
ou vermelhas e pretas. Somos espertos o bastante para evitá-las,
assim como os predadores também são. E não é coincidência, conforme descreveu o naturalista alemão
Fritz Müller em 1870. Espécies impalatáveis, como abelhas e vespas,
têm cores e padrões parecidos. Ele percebeu que quanto mais presas impalatáveis compartilham padrões de cores, maior a chance de serem evitadas por predadores. Esta técnica de defesa é conhecida como
mimetismo mülleriano. Acontece que algumas criaturas
que parecem perigosas estão rindo por último, porque muitas delas
não são impalatáveis de verdade, mas enganam os predadores,
pois se parecem com as verdadeiras espécies perigosas. Esta técnica é chamada de mimetismo batesiano.
Para explicá-lo eu vou precisar me sentar. Adivinha quem escreveu esta técnica?
Acertou, foi Bates! Precisamente foi Henry Walter Bates, naturalista e explorador britânico do século 19.
Bates nasceu em uma família de classe média, em 1825, que pagava as contas
confeccionando meias-calças. Ele passava grande parte do tempo lendo sobre insetos e bem cedo já era um entomólogo promissor com uma publicação sobre besouros no currículo.
Pouco tempo depois, ele conheceu o famoso entomólogo
Alfredo Russel Wallace e os dois se deram bem. Wallace, em 1847, propôs uma viagem
pela América do Sul para coletar insetos. Ele pagaria a viagem
enviando os exemplares coletados a museus e colecionadores da Inglaterra. Os dois viajaram no ano seguinte.
Depois de quatro anos em campo, Wallace retornou, mas Bates ficou,
pois não queria retornar ao comércio de meias-calças. Então, ele ficou mais 11 anos na selva.
No total, Bates coletou, aproximadamente, 15 mil espécies,
sendo cerca de 8 mil novas para a ciência. Poucos meses depois de chegar em casa, em 1859, Darwin publicou a origem das espécies.
Bates leu e percebeu que ele poderia contribuir com evidências para a teoria dele. Dois anos depois, apresentou um trabalho
que mostrava como diferentes tipos de borboleta desenvolveram quase o mesmo padrão
de cores em suas asas. Por exemplo, borboletas chamadas Heliconides,
que eram lentas e abundantes, mas tóxicas, eram quase idênticas às Pieridae,
que eram mais raras, porém inofensivas. Bates concluiu que a seleção natural
levou as borboletas inofensivas a mimetizarem os padrões
das borboletas nocivas, sobrevivendo à predação por pássaros.
A descoberta deslanchou a carreira e a reputação de Bates. Ele contou suas aventuras e outras descobertas
no livro "O Naturalista no Rio Amazonas". E depois, obteve um trabalho
na Real Sociedade Geográfica. Embora ele tenha morrido em 1892, o conceito de mimetismo batesiano continua fascinando os cientistas ainda hoje.
Por exemplo, por que alguns mimetismos não são imitações perfeitas? Será porque a imitação não precisa ser perfeita
para fazer o serviço ou porque faltam genes necessários
para criar essa semelhança perfeita? Talvez novos entomólogos,
munidos com ferramentas do século 21, respondam a estas perguntas. Mas não são somente as presas
que são mimetizadores astutos. Nesta corrida, alguns predadores aprendem a ganhar comida com imitação.
Você já ouviu falar sobre tartarugas que têm línguas que parecem minhocas
para atrair peixes ou no peixe tamboril? Se a predação nos ensina alguma coisa,
é que nada dura para sempre. Não só para as presas, mas para qualquer ser vivo, porque as interações presa/predador levam a mudanças evolutivas. As próprias comunidades ecológicas não permanecem iguais, novos inquilinos estão sempre se mudando
para um novo habitat e aí, um novo proprietário assume.
Isso faz do mundo um lugar dinâmico, bonito e excitante. Exploraremos isso na semana que vem!