Conteúdo principal
Cosmologia e astronomia
Curso: Cosmologia e astronomia > Unidade 4
Lição 3: Medição da idade na TerraRevolução cronométrica
Discussão sobre as mudanças relativamente recentes em nossa capacidade como espécie para esclarecer nosso passado. Versão original criada por Sal Khan.
Quer participar da conversa?
Nenhuma postagem por enquanto.
Transcrição de vídeo
RKA5GM - Se queremos compreender de onde viemos,
as histórias que nos levaram à nossa condição atual, se queremos entender a nossa história, um dos
pré-requisitos é ter um bom senso de cronometria. E cronometria, essa palavra muito extravagante,
é apenas a ciência da passagem do tempo. “Crono” é relativo ao tempo, “metria” é medida,
então, a medida do tempo. E temos muitas, muitas coisas
que são reconhecidas atualmente. Nós assumimos que sabemos tudo o que aconteceu
nos últimos 50 anos, nos últimos 100 anos, e agora, estamos começando a assumir também
que sabemos o que aconteceu há 10 mil anos, ou o que aconteceu com o nosso planeta
há 100 milhões de anos, há 1 bilhão de anos. Mas este é um fenômeno muito, muito novo, essa capacidade de acender uma luz sobre o passado,
e até mesmo as noções tradicionais de História. Como essas histórias aconteceram? As nações políticas que se formaram,
as migrações de pessoas, quando aconteceram? Essa noção tradicional da História
é bastante nova, porque você pensa sobre há quanto tempo nós achamos que os seres humanos estão nesse planeta. E essa é a primeira noção tradicional da História, e você pode ver isso em uma primeira revolução cronométrica. Essa primeira revolução cronométrica,
que nos dá esse tipo de noção tradicional da História, vem da capacidade humana de escrever. A escrita nos deu
a nossa primeira revolução cronométrica, porque essa foi a primeira vez
que algo do tipo aconteceu. Mesmo que pensemos que os seres humanos
têm em torno de centenas de milhares de anos, nesse ponto, eles não eram capazes de manter
as suas histórias de maneira muito exata. Eles poderiam até ter tido uma tradição oral,
isso poderia ter ido de uma geração para outra, mas com certeza nessas tradições orais,
coisas se perdem ao longo do caminho. E a informação mais importante que poderia se perder é: há quanto tempo essas histórias começaram? E não fomos capazes, como espécie, de termos uma real compreensão de quando as coisas aconteceram e há quanto tempo as coisas aconteceram até que a escrita fosse difundida e feita
de uma forma com a qual se tornasse permanente. E o nosso melhor senso
de quando isso aconteceu pela primeira vez, foi com os sumérios,
com a escrita cuneiforme. Isso aconteceu certamente em torno
do terceiro milênio antes de Cristo, então, cerca de 5 mil anos antes
do nosso tempo presente. E isto é como alguns
dos primeiros escritos se pareciam. Esta é realmente uma carta,
eu acredito, vinda de um rei. E você pode ver
que são apenas símbolos esculpidos, isso é o que é mais tradicionalmente
associado à escrita cuneiforme. E ela era baseada em símbolos,
ao contrário de agora, a maioria das linguagens atuais
são baseadas em fonética, então você tem menos símbolos
que podem representar mais significados. Mas esta foi uma grande revolução tecnológica
para a humanidade, porque agora,
com o advento da escrita cuneiforme, você poderia ter algo escrito permanentemente, que alguém poderia ver mil anos depois, 2 mil anos depois. E se eles podem decifrar a escrita cuneiforme, eles podem também ter um testemunho escrito
do que estava acontecendo naquele tempo, e eles não têm que confiar somente
em uma tradição oral, ou até mesmo adivinhar
quando essa história oral poderia ter começado. Mas não esqueça: isso só aconteceu
cerca de 5 mil anos atrás. Ou seja, poderíamos dizer 3 mil anos antes de Cristo
mais ou menos, isso era um começo. Mas isso, só nos deu história
de cerca de 5 mil anos atrás e, mesmo assim, era um registro histórico
muito irregular. Nós realmente não conseguimos
histórias muito profundas, dependendo de onde você esteja no mundo,
até realmente os últimos milhares de anos. Mas foi um começo, e essa é, então,
a primeira revolução cronométrica. Mas o que você pode ou não perceber
é que nós estamos, e eu acredito nisso de verdade, nas primeiras fases
de uma outra revolução cronométrica, que começou a acelerar nos últimos 50, 60, 70 anos,
o que seria a segunda revolução cronométrica. E essa foi uma revolução que nos permitiu
manter o tempo de uma forma permanente, para entendermos as coisas, para não ter
que falar com pessoas a quem algo aconteceu, para podermos ver o seu testemunho por escrito. Mas essa segunda revolução realmente vai sair
do advento da nossa compreensão da ciência moderna. Foi então, no final de 1800, que a radioatividade foi descoberta
por Marie e Pierre Curie, mais ou menos em 1900 aqui,
isso é relativamente recente. Lembre-se que estamos falando de uma espécie
que tem várias centenas de milhares de anos. E temos também os proto-humanos,
que têm em torno de milhões de anos. E agora, apenas há 5 mil anos,
pelo menos o quanto nós sabemos, é que aconteceu a primeira escrita e em seguida, apenas há pouco mais de 100 anos,
foi descoberta a radioatividade. E, em seguida, a capacidade
de usar essa radioatividade. O interessante da radioatividade é essa ideia
de que elementos essenciais podem mudar a partir de uma avaliação de um outro elemento ao longo de grandes períodos de tempo. Então, eles se tornam um tipo de relógio natural, ninguém precisa ir lá e configurar as peças deles. E, felizmente, existem essas coisas
que decaem em um ritmo muito previsível. Então, descobrimos a radioatividade
há pouco mais de 100 anos. E, em seguida, ao longo do século 20, tornamos cada vez melhores e mais sofisticados
a compreensão sobre a radioatividade, para sermos capaz de utilizá-la,
para medir o tempo das coisas. E se você avançar rapidamente
para a segunda metade do século 20, então, vamos dizer agora
que estamos em 1950, é nesse ponto que a segunda revolução cronométrica
realmente aconteceu, onde começamos a entender
a datação por carbono 14 e começamos a compreender
algumas coisas das outras técnicas que falamos quando começamos
a datar coisas mais velhas. E aqui, eu quero ser clara:
a radioatividade e a compreensão da radioatividade foi apenas o início
dessa segunda revolução cronométrica, a segunda revolução cronométrica, que ainda está acontecendo, não envolve apenas a radioatividade, é também a compreensão da expansão do universo,
a constância, a velocidade de limite da luz, que agora nos permite descobrir
que a radiação que estamos recebendo deve ter viajado por 13,7 bilhões de anos. E agora, podemos olhar
para a evidência do nosso ambiente. E nosso meio ambiente
não é apenas a própria Terra, é a radiação nos bombardeando
a partir do espaço, que nos dá pistas não apenas sobre a nossa idade,
a idade da humanidade, a idade da nossa espécie, mas também da idade do planeta
e do próprio universo. Portanto, a radioatividade é uma grande parte
da nossa revolução cronométrica. E isso foi o que nos permitiu, pela primeira vez,
sabermos que temos camadas sobre a Terra. Durante muito tempo, nós assumimos
que essas camadas não eram empurradas, que uma camada inferior, mais embaixo, é, provavelmente, mais velha
do que uma camada superior, porque ano após ano você tem depósitos. Mas ninguém sabia como acontecia, eles diziam: "Ok! Essa datação é relativa,
essa é a mais velha, essa é a mais jovem". Mas não tínhamos como dizer: "Olha, essa daqui tem mil anos,
ou aquela ali tem 1 milhão de anos, ou 1 bilhão". Mas, agora, com a radioatividade,
podemos começar a dizer. Podemos datar algumas rochas
que têm 150 milhões de anos de idade, e algumas das rochas aqui
têm cerca de 100 milhões de anos. Então, talvez esse fóssil
de um peixe que encontramos, ou essa criatura primitiva
parecida com o peixe bem aqui, teria entre 100 e 150 milhões de anos. E a única maneira
pela qual fomos capazes de fazer isso, foi a partir da possibilidade
de tratar as coisas usando a radioatividade. Mas a radioatividade é apenas o começo. Como já me referi, estamos ficando cada vez
melhores na compreensão da cosmologia. Estamos ficando melhores
nas medições do próprio universo. Estamos entendendo Física
em níveis mais profundos. Agora, podemos começar
a olhar para o genoma, e pensar sobre como o genoma diverge
entre as espécies e a rapidez com que ele muda. Então, todas essas coisas estão apenas permitindo ficarmos melhores e mais refinados sobre a cronologia. Obviamente, esse é um começo, então, eu só queria mostrar com isso
que com o conhecimento que nós temos agora, podemos saber, por exemplo, a idade do universo, a idade da Terra,
que é entre 4 e 4,5 bilhões de anos, ou dos seres humanos, tendo em torno
de centenas de milhares de anos. Esse entendimento
é um fenômeno muito novo, devido à segunda revolução cronométrica
que ainda estamos vivendo, e até mesmo a primeira revolução cronométrica. A História foi limitada
por essa primeira revolução cronométrica, ela foi limitada pelo que está documentado. Mas agora talvez possamos expandir
a nossa noção de História. Em um monte de vídeo
no qual nós temos trabalhado aqui, tem sido para esse grande projeto de História, que vai dizer que antes a História foi limitada
pela primeira revolução cronométrica, pela escrita, pelo que foi testemunhado por pessoas
e foi tornado permanente de alguma forma. Agora, a cronometria nos permite entender coisas
do nosso passado mais profundo, até mesmo antes da Terra existir. Então, por que não redefinir
a História em grande forma para que possamos abranger tudo,
para que ela seja uma grande história? De qualquer forma, vamos deixá-la lá. E, na verdade, também quero enfatizar que a segunda revolução cronométrica é um grande negócio, mas mesmo a primeira revolução cronométrica,
que foi há 5 mil anos, não foi há muito tempo, se considerarmos
todo âmbito da civilização humana.