Recuperação após um ataque cardíaco (enfarte do miocárdio)

Vamos ver como o coração se recupera após um infarte do miocárdio, o ataque cardíaco. Vou ampliar o músculo cardíaco aqui, na parte do ventrículo esquerdo. Aqui estão os cardiomiócitos que são essas células musculares cardíacas. Elas possuem essas estrias por causa das proteínas contráteis e aqui estão os núcleos. Vamos começar com o coração não infartado, e sua musculatura saudável e intacta. Um coágulo será formado no interior da artéria coronária que irriga esta área. Em torno de 20 minutos o coágulo se adere e causa dano irreversível no músculo cardíaco privando esta área de oxigênio. A falta de oxigênio nesta área a torna insustentável e começa a necrosar a partir de quatro horas. Nesse período de quatro horas, as células estão lutando, Elas usam todo o estoque energético, para tentar sobreviver. Após essas quatro horas, as membranas começam a se romper, as enzimas se desnaturam ou quebram as proteínas estruturais dos cardiomiócitos e as demais proteínas da célula muscular cardíaca começam a se desintregar também. Vejam aqui no desenho, o arcabouço dos cardiomiócitos mortos está praticamente preservado por alguns dias depois da sua morte. Esse processo de morte dos cardiomiócitos mas com a preservação de seu arcabouço é chamado de necrose coagulativa. Necrose porque é a morte celular e coagulativa por causa da consistência gelatinosa da substância resultante da desnaturação das proteínas após a sua ruptura. Vou desenhar uma proteína vazando do cardiomiócito, mas muitas permanecem no cardiomiócito. Elas participam da necrose coagulativa. Conforme elas desnaturam, dão origem a essa substância gelatinosa. Nesta área pode haver algum sangramento dos pequenos vasos sanguíneos danificados que envolvem a área infartada que ficou danificada. Após o período de 12 a 24 horas os neutrófilos da série branca do sangue começam a penetrar a área infartada. A principal missão dos neutrófilos é limpar a área. Eles percebem as células musculares mortas em toda parte e que devem ser removidas e, A) começam a limpeza e B) pedem ajuda a outros neutrófilos E o que vez a ser essa limpeza? Aqui estão os neutrófilos Eles invadem a área e fragmentam ainda mais os cardiomiócitos mortos. Eles liberam enzimas nos cardiomiócitos e na área, e induzem as células musculares cardíacas a se fragmentar ainda mais. O que isso significa? Significa que o núcleo vai se degenerar, as estrias também, e tudo começa a se fragmentar e ruir. Um pouco depois, de um a três dias, a cavalaria chega. Agora há um monte de neutrófilos. Os cardiomiócitos ainda estão degenerando. Os núcleos se desfazendo. As estrias estão desaparecendo, e os neutrófilos por toda parte. Eles rompem e removem os cardiomiócitos mortos. Entre o quarto e sete dias, os neutrófilos começam a morrer, porque eles se encontram sobrecarregados com a tarefa de limpar tudo. Felizmente chega uma tropa de reforço, os macrófagos. Os macrófagos são outra série de leucócitos do sistema imunológico, e são muito eficientes na limpeza de debris e remoção do tecido morto. Eles começam a remover debris necróticos, inclusive os neutrófilos mortos, que fizeram o primeiro trabalho braçal. Os macrófagos fagocitam todo o debris. Eles ingerem e fragmentam tudo. Isso é a fagocitose. Toda essa área necrótica está sendo fagocitada. O foco hoje é a cicatrização do infarto e não as complicações, mas tenho que comentar que o período de quatro a sete dias após é provavelmente o mais perigoso pois pode ocorrer a ruptura do miocárdio por causa desse trabalho dos macrófagos de limpeza, com remoção da área infartada O que acontece depois? Entre sete e dez dias a área necrótica é removida pelos fiéis macrófagos mas algo muito interessante se inicia. Há o crescimento de vasos muito finos nessa área e isso é ótimo porque fornece às células envolvidas o oxigênio necessário para a cicatrização do coração. Agora que temos o suprimento de oxigênio vamos pensar em armar uma estrutura para reconstruir essa parede Temos as células chamadas de fibroblastos entre esses feixes de proteína estrutural chamada de colágeno tipo III Tudo isso, os novos vasos e o colágeno novo é chamado de tecido de granulação é a cicatrização por tecido de granulação o mesmo que surge em outros ferimentos como num joelho arranhado. Suponha que você você estava andando de patins e foi atacado por morcegos. Você caiu e arranhou os joelhos. Aconteceu comigo há alguns anos atrás e foi horrível Seus ferimentos irão cicatrizar pelo mesmo processo mediado por tecido de granulação, é uma técnica garantida de cicatrização que nosso corpo possui. E depois? Um mês a um mês e meio depois, o colágeno tipo III e o tecido de granulação é totalmente substituído por um colágeno que é mais forte, o tipo I também chamado de tecido de cicatrização Se você tem alguma cicatriz é esse tecido de cicatrização O mesmo acontece com o coração. Duas observações sobre esse tecido: primeira: o tecido não é tão forte quanto o músculo cardíaco normal mas é bem forte e não romperá causando hemorragia. A segunda é que o tecido não é contrátil e sabemos que o que queremos do coração é que ele se contraia adequadamente. Tecido de cicatrização no músculo cardíaco provoca contrações mais fracas podendo chegar a uma falência cardíaca. A falência cardíaca é basicamente a incapacidade do coração em bombear sangue em quantidade suficiente para as necessidades metabólicas do organismo. Se você tem tecido de cicatrização no seu coração não é muito contrátil. Significa que o coração não consegue gerar as contrações para bombear o sangue, isso é a falência cardíaca. Falamos sobre a recuperação física após o infarto do miocárdio, mas é só uma parte da história. Temos que falar da recuperação mental porque há grandes efeitos psicológicos após um ataque cardíaco que precisam ser abordados. Por exemplo, é um choque para pessoas que não tomavam medicamento ter que agora tomar um coquetel de quatro a cinco medicamentos diariamente. Ainda, algumas pessoas podem ter depressão após o ataque cardíaco, isso tem que ser observado também. Finalmente é importante lembrar que quando uma pessoa tem ataque cardíaco não afeta só a si afeta também os entes queridos, como a família e os amigos no aspecto psicológico e lidar com isso também faz parte da recuperação. [Legendado por Patrícia Kawase] [Revisado por Jessica Falkenstein]