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Pedras da Apollo 11

Texto de Natalie Hager
Rochas da caverna da Apollo 11, Namíbia, quartzito, cerca de 25.500-25.300 a.C.
Rochas da caverna Apollo 11, Namíbia, quartzito, cerca de 25.500-25.300 a.C. Imagem cortesia do Museu do Estado da Namíbia.

Uma descoberta importante

Aproximadamente 25.000 anos atrás, em um abrigo na rocha nas Montanhas Huns na costa sudoeste da África (hoje parte do Parque Transfronteiriço Ai-Ais Richtersveld), um animal foi desenhado com carvão em uma placa de pedra do tamanho de uma mão. A pedra foi deixada para trás, com o passar do tempo sendo enterrada no chão da caverna por camadas de detritos e sedimentos até 1969, quando uma equipe liderada pelo arqueólogo alemão W.E. Wendt escavou a caverna e encontrou o primeiro fragmento (acima, esquerda). Wendt deu à caverna o nome de "Apollo 11" ao ouvir em seu rádio de ondas curtas sobre a bem sucedida missão espacial da NASA à lua. Foi mais de três anos depois no entanto, depois de uma outra escavação, quando Wendt descobriu o fragmento complementar (acima, direita), que os arqueólogos e historiadores da arte começaram a compreender a importância da descoberta.

Técnicas de datação indireta

Um total de sete fragmentos de pedra de quartzito castanho, alguns deles retratando traços de figuras de animais em carvão, ocre e branco, foram encontrados enterrados numa área concentrada em menos de dois metros quadrados do chão da caverna. Embora não seja possível saber a idade real dos fragmentos, é possível estimar quando as pedras foram enterradas através de datação por carbono radioativo da camada arqueológica em que foram encontrados. Os arqueólogos estimam que as pedras da caverna foram enterradas entre 25.500 e 25.300 anos atrás durante o período da Idade da Pedra Média no sul da África, fazendo delas, na época do seu descobrimento, a mais antiga arte datada conhecida do continente africano, e entre as evidências iniciais da expressão artística humana em todo o mundo.
Localização das Montanhas Huns da Namíbia, © Map Data Google
Localização das Montanhas Huns da Namíbia, © Map Data Google
Embora descobertas mais recentes de iniciativas artísticas humanas bem mais antigas tenham corrigido nosso entendimento (considere a descoberta, em 2008 de uma oficina de pintura de 100.000 anos de idade na Caverna Blombos na costa sul da África), as pedras continuam a ser os mais antigos exemplos de arte figurativa do continente Africano. Sua descoberta contribui para a nossa concepção das primeiras tentativas de criatividade humana, antes da invenção da escrita formal, de expressar seus pensamentos sobre o mundo ao redor.

As origens da arte?

Evidência genética e fóssil nos diz que o Homo sapiens (humanos anatomicamente modernos que evoluíram de espécies anteriores de hominídeos) surgiu no continente Africano mais de 100.000 anos atrás e se espalhou pelo mundo. Mas o que nós não sabemos - e que podemos apenas presumir - é que a arte também se iniciou na África. Será a África, onde a humanidade se originou, o lar da arte mais antiga do mundo? Se sim, podemos dizer que a arte começou na África?

100.000 anos de ocupação humana

Vista do Cânion Fish River nas Montanhas Huns , Parque Transfronteiriço Ai-Ais – Richtersveld, sul da Namíbia (foto: Thomas Schooch), CC-BY-SA-3.00
Vista do Cânion Fish River nas Montanhas Huns , Parque Transfronteiriço Ai-Ais – Richtersveld, sul da Namíbia (foto: Thomas Schooch), CC-BY-SA-3.00
A caverna Apollo 11 tem vista para um árido desfiladeiro, situada vinte metros acima do que um dia foi um rio que corria ao longo do fundo do vale. A entrada da caverna é ampla, com aproximadamente vinte e oito metros de largura, e a caverna é profunda: onze metros da entrada até o fundo. Embora atualmente uma pessoa possa ficar de pé somente na parte da frente da caverna, durante o período da Idade da Pedra Média, e também nos períodos anteriores e posteriores, a caverna era um local ativo de ocupação humana contínua.
Dentro da caverna, acima e abaixo da camada onde as pedras da caverna Apollo 11 foram encontradas, arqueólogos descobriram uma sequência de camadas culturais representando mais de 100.000 anos de ocupação humana. Nessas camadas, foram encontrados artefatos de pedra, típicos do período da Idade da Pedra Média — tais como lâminas, lascas pontiagudas e espátulas — feitos de matérias primas não nativas da região, sinalizando que a tecnologia de ferramentas de pedra foi transportada por grandes distâncias. Entre os restos de fogueiras, também foram encontrados fragmentos de cascas de ovos de avestruz com traços em vermelho — resquícios de pinturas ornamentais ou evidências de que tais cascas de ovos foram usadas como recipiente para pigmentos.
Local de escavação das rochas da Apollo 11 (foto: Jutta Vogel Stiftung
Local da escavação das rochas da Apollo 11(foto: Jutta Vogel Stiftung)
Nas paredes da caverna, pertencentes à Idade da Pedra Posterior, foram descobertas pinturas nas rochas ilustrando ziguezagues brancos e vermelhos, duas impressões de mãos, três imagens geométricas, e traços coloridos. E nas margens do leito do rio logo a montante da caverna, foram encontradas gravuras de uma variedade de animais, algumas com linhas em ziguezague apontando para cima, datadas de menos de 2.000 anos atrás.

As rochas da Caverna Apollo 11

Mas a descoberta mais conhecida dos achados dos abrigos de pedras, e também a mais enigmática, continua sendo as rochas da caverna Apollo 11 (foto acima). Onde outrora havia uma placa íntegra, foi desenhado um animal não identificado lembrando na aparência um felino, mas com patas posteriores humanas que foram provavelmente adicionadas depois. Quase invisíveis brotando na cabeça do animal estão dois chifres levemente curvados, pertencentes talvez a um órix, um antílope de grande porte; no ventre do animal, provavelmente o órgão sexual de um bovídeo.
Talvez tenhamos um tipo de criatura sobrenatural—um teriantrópode, parte homem e parte animal? Se sim, isso pode sugerir um sistema complexo de crença xamânica. Juntamente com as pinturas rupestres e as gravuras posteriores, a Apolo 11 se torna mais que apenas uma caverna oferecendo abrigo contra os elementos. Ela se torna um local de significado ritual usado por muitos ao longo de milhares de anos.

As origens globais da arte

No período da Idade da Pedra Média no sul da África o homem pré-histórico era um caçador-coletor, movendo-se de um lugar ao outro à procura de alimento e abrigo. Mas este humano moderno também desenhava formas de animal com carvão—tanto formas imaginadas quanto observadas. É isso que faz as as pedras da caverna Apollo 11 serem consideradas tão interessantes: as pedras oferecem evidência de que o Homo sapiens na Idade da Pedra Média—nós, cerca de 25 mil anos atrás—não éramos apenas anatomicamente modernos, mas também tínhamos comportamentos modernos. Isso quer dizer que esses primeiros humanos tinham essa capacidade nova e única para o pensamento simbólico moderno, “a capacidade humana,” muito antes do que fora outrora pensado.
As rochas das cavernas são o que arqueólogos chamam de art mobilier —arte pré-histórica de pequeno porte móvel. Mas a arte móvel, e a arte rupestre em geral, não são exclusivas da África. A arte rupestre é um fenômeno global que pode ser encontrado em todo o Mundo—na Europa, Ásia, Austrália e nas Américas do Norte e do Sul. Enquanto não sabemos ao certo o que esses primeiros humanos pretendiam ao criar as coisas que eles fizeram, ao focarmos a arte como o produto da criatividade e da imaginação da humanidade, podemos começar a explorar onde, e hipoteticamente por quê, a arte começou.
Ensaio de Nathalie Hager

Recursos adicionais
Ralf Vogelsang, “The Rock-Shelter “Apollo 11” - Evidence of Early Modern Humans in South-Western Namibia,” Na Heritage and Cultures in Modern Namibia - In-depth Views of the Country, editado por Cornelia Limpricht e Megan Biesele (Göttingen, Windhoek-Namibia: Klaus Hess Publishers, 2008), páginas 183-196.
W. E. Wendt, “‘Art Mobilier' from the Apollo 11 Cave, South West Africa: Africa’s Oldest Dated Works of Art,” The South African Archaeological Bulletin volume 31, número 121/122 (1976), páginas 5-11.

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