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Variação linguística: modos de falar

Nesta videoaula, apresentamos informações sobre as variadas formas de falar que existem em diferentes regiões brasileiras (variação linguística). Falamos também sobre a importância de respeitar as variedades linguísticas e rejeitar o preconceito linguístico.

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Você entende inglês? Clique aqui para ver mais debates na versão em inglês do site da Khan Academy.

Transcrição de vídeo

RKA - Olá, pessoal, tudo bem com vocês? Hoje vamos conversar sobre variação linguística. Você já ouviu falar sobre isso? A língua que falamos está a todo momento se transformando. Ela é dinâmica, é viva, e muitas mudanças, muitas variações acontecem de diferentes formas. Por exemplo, quando você vai à padaria, você costuma pedir por dois pães franceses, dois filões, dois pães de trigo ou dois cacetinhos? Ou dois pães massa grossa? Duas médias? Ou dois carecas? Se estiver em São Paulo, provavelmente, pedirá dois pães franceses. No interior de São Paulo, dois filões. Em Florianópolis, pedirá por dois pães de trigo. Em Porto Alegre, dois cacetinhos. Em São Luís do Maranhão, dois pães massa grossa. Em Santos, duas médias. E em Belém, dois carecas. Vocês viram quantas possibilidades para falar de um mesmo alimento? Isso porque nossa língua varia conforme a região. Outra questão a ser lembrada é que tal variabilidade vem também dos muitos povos que migraram e deixaram como herança a influência no nosso vocabulário. Assim, há muitas palavras de línguas de origem africana. Por exemplo, cochilo, moleque, fubá, entre outras palavras, vêm de línguas originárias de povos da África e hoje são palavras de nossa língua. Também usamos hoje palavras que se originam em línguas faladas nos países europeus. Se formos a Curitiba para pedirmos uma salsicha, podemos também falar "vina", que é a palavra que deriva da língua alemã. Assim, podemos concluir que nossa língua varia conforme a região do país, conforme os traços culturais que predominam. E isso vem acontecendo ao longo do tempo. Você já parou para pensar, se viajássemos numa máquina do tempo e visitássemos nosso país, as nossas cidades, poderíamos observar como a língua falada era diferente. Por exemplo, não falávamos a palavra "você" mais de 100 anos atrás. Falávamos "vossa mercê" e essa forma foi, então, se modificando, como vemos aqui, e, finalmente, "você" como falamos hoje. E daqui a 100 anos, como vocês acham que falaremos a nossa língua portuguesa brasileira? Lembramos que agora existem outras situações na realidade que levam à variação linguística. Por exemplo, um adulto está no trabalho e precisa pedir o carro da empresa. Você acha que essa pessoa deve conversar com o seu chefe usando a primeira ou a segunda frase? Qual das perguntas você escolheria usar? A primeira pergunta é: empresta aí o carro? E a segunda pergunta é: caro diretor, venho requerer o uso do carro por nosso departamento durante essa semana. Você escolheria a primeira pergunta ou a segunda? A segunda pergunta é mais adequada a uma situação de trabalho. A primeira pergunta você só poderia fazer a alguém com quem tem muita intimidade, como alguém da sua família. Assim, nossa linguagem muda conforme o contexto em que estamos. Numa situação mais formal, as palavras são escolhidas com mais cuidado, e evitamos a gírias. Outra questão é que muitas vezes falamos dentro de um grupo de pessoas com interesses específicos. Vamos aqui ver uma fala de um praticante de skate. "Fui mandar uma frontside boardslide no corrimão, mas me atrapalhei e tomei uma vaca. O tru veio me dar uma força." O que vocês entenderam do que ele disse? Bem, se você pratica skate ou convive com alguém que pratica, deve ter entendido. Percebem como uma variação linguística acontece dentro de um grupo? O skatista disse que foi fazer uma manobra de skate e os nomes das manobras costumam derivar da língua inglesa. E, então, ele caiu. Um amigo... "tru", é a abreviação de "truta", que é como você pode chamar o seu amigo, veio ajudar. Agora, para finalizar a nossa conversa, vamos ler um trecho do poema de Patativa do Assaré intitulado "Ispinho e Fulô". "É nasce, vive e morrê / Nossa herança naturá / Todos tem que obedece / Sem tê a quem se quexá/ Foi o autô da natureza / Com o seu pudê e grandeza / Quem traçou nosso caminho // Cada qua na sua estrada / Tem nesta vida penada / Poca fulô e munto ispinho. A vida tem um tempero / de alegria e de rigô / desde o mais pobre trapero ao mais ricaço dotô / na roda desta ciranda / o mundo inteiro disanda / não ficou pra um sozinho / o sofrimento é comum / a estrada de cada um / sempre tem fulô e ispinho." No poema, o autor faz um paralelo poético entre a paisagem do sertão e a nossa existência humana. Além do sentido do poema, podemos conversar aqui sobre a sua forma. Grande parte da força poética dessa composição vem da sua linguagem apoiada na oralidade do povo sertanejo. Vocês acham que se fizéssemos correções ortográficas, o poema geraria o mesmo impacto? Nesse caso, para dar voz ao sertão, à sua realidade e a toda a sua dimensão cultural, é imprescindível o recurso do poeta cearense. A essência da fala sertaneja está preservada aqui. Correções fariam o poema perder parte de seu sentido. Logo, a norma ortográfica não pode ser imposta em todas as situações e contextos, pois, como no caso aqui, mudaria o sentido da mensagem do texto. Assim, hoje vimos que convivemos com variações linguísticas conforme mudamos de época ou mudamos de região do nosso país. Além disso, há uma variação que acontece conforme a situação social, de maior ou menor formalidade, e de sentido cultural também, conforme o grupo com o qual nos comunicamos. Nos vemos no próximo encontro com mais temas em Língua Portuguesa. Até lá.