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Vênus de Willendorf

Texto do Dr. Bryan Zygmont
Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)
Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)

Pode um objeto de 25.000 anos de idade ser uma obra de arte?

O artefato conhecido como Vénus de Willendorf data entre 24.000 e 22.000 a.C., fazendo dele uma das mais antigas e mais famosas obras de arte sobreviventes. Mas o que significa ser uma obra de arte?
O Dicionário Oxford da Língua Inglesa, talvez a maior autoridade em língua Inglesa, define "arte" como:
a aplicação da habilidade às artes da imitação e do desenho, da pintura, da gravura, da escultura, da arquitetura; o cultivo dessas habilidades em seus princípios, práticas e resultados; a produção hábil do belo em formas visíveis.
Algumas das palavras e termos que se destacam dentro desta definição incluem "aplicação da habilidade", "imitação" e "belo." Por esta definição, o conceito de "arte" envolve o uso da habilidade para criar um objeto que contém alguma apreciação da estética. O objeto não é apenas feito, ele é feito numa tentativa de se criar algo que contenha elementos de beleza.
Por outro lado, o mesmo Dicionário Oxford Inglês define a palavra "artefato" como "qualquer coisa feita por arte e manufatura humanas; um produto artificial. Na Arqueologia é aplicado aos produtos rústicos de manufatura aborígene diferenciados de restos naturais.” Novamente, algumas palavras-chave e frases são importantes: “qualquer coisa feita por arte humana,” e “produtos rústicos.” Claramente, um artefato é qualquer objeto criado pelos seres humanos independentemente da "habilidade" de seu criador ou da ausência de "beleza."
Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)
Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena)
Artefato, então, é qualquer coisa criada pela humanidade, e arte é uma forma particular de artefato, um grupo de objetos sob o amplo guarda-chuva dos artefatos, no qual a beleza foi obtida através do uso de habilidades. Pense em uma colher de plástico normal: de uma cor branca uniforme, produzida em massa, e banal em praticamente todos os aspectos. Embora ela sirva a uma função - digamos, por exemplo, mexer o seu chocolate quente - a pessoa que a projetou provavelmente o fez sem qualquer dedicação ou compromisso em fazer um objeto utilitário bonito. Você provavelmente nunca olhou para uma colher de plástico e comentou: “Uau! Que colher bonita!” Isso contrasta com uma colher de prata vendida numa loja de produtos finos famosa. Embora a colher possa também misturar o açúcar no seu café da manhã, ela foi habilmente projetada por uma pessoa que tentava fazê-la esteticamente agradável; com uma curvatura elegante no cabo, o brilho suave do metal, o gracioso declive da sua concavidade.
É importante ter em mente estes termos quando se analisa a arte pré-histórica. Enquanto é improvável que as pessoas do período Paleolítico Superior pudessem se preocupar em conceitualizar o que significa fazer arte ou ser um artista, não se pode negar que os objetos que criavam foram feitos com habilidade, eram com frequência feitos como uma forma de imitar o mundo ao seu redor, e eram feitos com um cuidado particular para se criar algo belo. Eles provavelmente representaram, para os povos Paleolíticos que os criaram, objetos feitos com grande competência e com um interesse particular na estética.

Cavernas e bolsos

Dois tipos principais de arte do Paleolítico Superior sobreviveram. O primeiro podemos classificar como trabalhos de localização fixa encontrados nas paredes dentro de cavernas. Em sua maioria desconhecidos antes das décadas finais do século XIX, muitos desses locais foram descobertos em grande parte no sul da Europa e forneceram aos historiadores e arqueólogos uma visão maior dos milênios da humanidade antes da criação da escrita. Os temas destas obras variam: podemos observar uma variedade de motivos geométricos, muitos tipos de flora e fauna e ocasionalmente a figura humana. Eles também variam em tamanho; oscilando de alguns centímetros até composições em grande escala que se estendem por metros de comprimento.
A segunda categoria de Arte Paleolítica pode ser chamada de portátil, já que essas obras são geralmente de escala reduzida — um tamanho sensato, dada a natureza nômade dos povos Paleolíticos. Apesar do seu tamanho diminuto, a criação desses objetos portáteis significa uma notável quantidade de tempo e esforço. Sendo assim, estas figuras foram significativas o suficiente para serem levadas durante as viagens nômades de seus criadores Paleolíticos.
Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)
Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)
A Vénus de Willendorf é um exemplo perfeito disso. Josef Szombathy, um arqueólogo austro-húngaro, descobriu esta obra em 1908 fora da pequena vila Austríaca de Willendorf. Embora geralmente seja projetada em salas de História da Arte como se tivesse metros de altura, esta estatueta de pedra calcária é pequena. Ela mede por volta de 11 cm e poderia caber confortavelmente na palma da sua mão. Esta pequena escala foi escolhida deliberadamente e permitiu que quem esculpiu (ou talvez possuiu) esta estatueta a carregasse durante suas viagens nômades quase diárias em busca de alimento.

Nomeação e datação

Claramente, o escultor Paleolítico que fez esta pequena estatueta nunca a teria nomeado a Vênus de Willendorf. Vênus era o nome da deusa Romana do amor e da beleza perfeita. Quando descoberta fora da aldeia austríaca de Willendorf, acadêmicos erroneamente presumiram que esta figura também era uma deusa do amor e da beleza. Não há absolutamente nenhuma evidência no entanto de que a Vênus de Willendorf compartilhava uma função similar a de sua homônima clássica inspiradora. Ainda que o nome seja incorreto, ele se mantém e nos diz mais sobre aqueles que a encontraram do que sobre aqueles que a fizeram.
A datação também pode ser um problema, especialmente porque a arte Pré-histórica, por definição, não possui registros escritos. Na verdade, a definição da palavra pré-histórico é que a língua escrita ainda não existia, logo o criador da Vênus de Willendorf não poderia ter escrito "Roberto fez isso no ano 24.000 a.C." na parte de trás. Além disso, artefatos feitos de pedra apresentam um problema especial já que o que estamos interessados é na data em que a pedra foi esculpida, não a data do material em si. Apesar destes obstáculos, os historiadores da arte e os arqueólogos tentam estabelecer datas para achados pré-históricos por meio de dois processos. O primeiro é chamado de datação relativa e o segundo envolve um exame da estratificação da descoberta de um objeto.
A datação relativa é um processo facilmente compreendido que envolve comparar o estilo de um objeto cuja data é incerta com outros objetos cujas datas foram firmemente estabelecidas. Ao inserir corretamente o objeto desconhecido em sua cronologia estilística, os acadêmicos podem encontrar uma data cronológica geral para um objeto. Um exemplo simples pode ilustrar esse método. O primeiro Corvette da Chevrolet foi vendido durante o ano do modelo 1953, e este carro em particular passou por muitas alterações até sua versão mais recente. Se mostrassem a você fotos do desenvolvimento do Corvette a cada cinco anos para estabelecer o desenvolvimento estilístico desde o primeiro modelo até o mais recente (por exemplo, imagens dos modelos de 1953, 1958, 1963, e assim por diante até o modelo atual), você teria uma ideia geral das mudanças que o carro sofreu ao longo do tempo. Se então fosse dada a você uma foto de um Corvette de um ano desconhecido, você poderia, com base na análise estilística, encaixá-lo na cronologia visual deste carro com alguma precisão. O Corvette é um exemplo conveniente, mas o mesmo exercício poderia ser feito com iPods, garrafas de Coca Cola, ternos, ou qualquer outro objeto que mude ao longo do tempo.
Plano da escavação em Willendorf I em 1908, com a posição da estatueta.
Plano da escavação em Willendorf I em 1908, com a posição da estatueta.
A segunda forma como acadêmicos datam a Vênus de Willendorf é por meio do local onde ela foi encontrada. Geralmente, quanto mais fundo um objeto está ao ser recuperado da terra, mais longo o tempo em que esse objeto esteve enterrado. imaginem um pote que teve moedas adicionadas nele por centenas de anos. É uma boa aposta dizer que as moedas no fundo do pote são as mais antigas enquanto as no topo são as mais novas. O mesmo se aplica aos objetos Paleolíticos. Em razão da profundidade em que esses objetos são encontrados, podemos inferir que eles realmente são muito antigos.

O que ela significava?

Na ausência da escrita, os historiadores da arte se baseiam nos próprios objetos para aprender sobre os povos antigos. A forma da Vênus de Willendorf—ou seja, a sua aparência—pode muito bem informar o que ela originalmente significava. Os elementos mais evidentes da sua anatomia são aqueles que se relacionam com o processo da reprodução e criação de filhos. O artista tomou bastante cuidado para enfatizar seus seios, o que alguns acadêmicos sugerem que ela era capaz de amamentar uma criança. O artista também deu atenção deliberada à sua região púbica. Traços de um pigmento - ocre vermelho - ainda podem ser vistos em partes da estatueta.
Detalhe, Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)
Detalhe, Vênus de Willendorf, c. 24.000-22.000 a.C., pedra calcária 11,1 cm de altura (Museu de História Natural, Viena) (foto: Steven Zucker, CC BY-NC-SA 2.0)
Por outro lado, o escultor deu pouca atenção às partes não-reprodutivas de seu corpo. Isso é particularmente notável nos membros da estatueta, onde foi dada pouca ênfase na musculatura ou na precisão anatômica. Podemos inferir pelo tamanho pequeno de seus pés que ela não foi feita para ficar em pé, mas sim para ser carregada ou ser colocada deitada. O artista esculpiu os braços da figura ao longo do seu torso superior, e seus antebraços quase não são visíveis repousados sobre o topo de seus seios. Tão enigmática quanto a falta de atenção aos membros, a ausência de atenção à sua face é ainda mais marcante. Olhos, nariz, ouvidos e boca não estão presentes. Ao invés disso, nossa atenção é levada a sete fitas horizontais que envolvem sua cabeça em círculos concêntricos desde o topo da sua cabeça. Alguns estudiosos sugeriram que sua cabeça é escondida por um gorro puxado para baixo, outros sugerem que essas formas podem representar cabelos trançados ou enfeitados de miçangas e que seu rosto, talvez pintado originalmente, estaria inclinado para baixo.
Se o rosto tiver sido escondido propositalmente, o escultor Paleolítico pode ter criado, não a representação de uma pessoa específica, mas sim a representação dos aspectos reprodutivos e de criação de filhos de uma mulher. Em associação com a ênfase nos seios e na área púbica, parece provável que a Vênus de Willendorf tivesse uma função relacionada com a fertilidade.
Sem dúvida, podemos aprender muito mais da Vênus de Willendorf do que pensaríamos ser possível por seu tamanho diminuto. Aprendemos sobre datação relativa e a estratificação. Aprendemos que esses povos nômades que viveram há quase 25.000 anos se preocupavam em fazer belos objetos. E aprendemos que esses povos Paleolíticos tinham uma consciência da importância das mulheres.
A Vênus de Willendorf é apenas um exemplo de dúzias de figuras Paleolíticas que acreditamos estarem associadas à fertilidade. No entanto, ela detém um lugar proeminente na história da arte humana
Texto do Dr. Bryan Zygmont

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