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Curso: Cálculo multivariável > Unidade 2
Lição 11: Divergência e rotacional (artigos)Rotacional, rotação do fluido em três dimensões
O rotacional é um operador que mede a rotação em um escoamento de fluido indicada por um campo vetorial tridimensional.
Conhecimentos prévios
Observação: nesse artigo usaremos a seguinte convenção:
representa o vetor unitário na direção . representa o vetor unitário na direção . representa o vetor unitário na direção .
O que estamos construindo
- Rotacional é um operador que, a partir de uma função que representa um campo vetorial tridimensional, gera uma nova função que representa um campo vetorial tridimensional diferente.
- Se um fluido escoa pelo espaço tridimensional ao longo de um campo vetorial, a rotação do fluido em cada ponto, representada por um vetor, é dada pelo rotacional do campo vetorial original calculado naquele ponto. O campo vetorial rotacional deve ter sua magnitude reduzida à metade se quisermos que as magnitudes dos vetores do rotacional sejam iguais à velocidade de rotação do fluido.
- Se uma função vetorial tridimensional
tem como funções componentes , e , o rotacional é calculado da seguinte forma:
Descrição de uma rotação com um vetor
Se um objeto gira em duas dimensões, você pode descrever completamente a rotação com uma constante: a velocidade angular. Velocidades angulares positivas indicam rotação no sentido anti-horário enquanto valores negativos indicam rotação no sentido horário. O valor absoluto da velocidade angular indica a velocidade de rotação, geralmente dada em radianos por segundo.
Para um objeto que gira em três dimensões, a coisa é um pouco mais complicada. Precisamos representar tanto a velocidade angular quanto a direção de rotação do objeto no espaço tridimensional.
Para fazer isso, a rotação em três dimensões é tipicamente representada por um único vetor. A magnitude do vetor indica a velocidade angular, e a direção do vetor é determinada por uma convenção super importante, chamada de "regra da mão direita".
- REGRA DA MÃO DIREITA: curve os dedos da sua mão direita na direção da rotação e mantenha o polegar esticado. O vetor que representa essa rotação tridimensional é, por definição, orientado na direção do seu polegar.
O seu polegar deve apontar o eixo de rotação. Ao adotar essa convenção e usar a mão direita ao invés da esquerda, diferenciamos uma certa rotação tridimensional da sua inversa em sentido oposto. Basicamente, estendemos a noção de sentidos horário e anti-horário ao espaço tridimensional.
Por exemplo, a rotação da Terra no espaço seria descrita usando um vetor que aponta do centro da Terra em direção ao polo norte e cuja magnitude é igual à velocidade angular de rotação da Terra (que por sinal é de radianos/segundo).
Revisão da rotação bidirecional de um fluido
No artigo conhecendo o rotacional, apresentei como um fluido escoa segundo um campo vetorial bidimensional definido pela função
A animação abaixo mostra uma simulação disso, onde as partículas de fluido (pontos azuis) sempre se movem na direção do vetor mais próximo a elas. Para os objetivos do estudo do rotacional, repare no que acontece dentro e em torno das regiões circuladas.
O fluido gira no sentido anti-horário nos círculos da direita e da esquerda, e no sentido horário nos círculos de cima e de baixo. No estudo do rotacional, a pergunta chave é: quanto o fluido gira em torno de cada ponto específico no plano?
No último artigo, dei uma ideia intuitiva de que a resposta para essa pergunta é o que podemos chamar de rotacional bidimensional de , que tem a seguinte fórmula:
Aqui, e são os componentes da função vetorial . Por exemplo, para o campo vetorial específico dado acima, definido por , a resposta seria
Note que o resultado é uma função escalar. Você escolhe um ponto, como , e obtém uma constante que indica a velocidade angular do fluido próximo desse ponto, . Esse valor representa o dobro da velocidade angular do fluido em torno desse ponto, logo a velocidade de rotação é de radianos/segundo (falaremos mais sobre isso depois). O importante é que você obtém um único número escalar para descrever a rotação.
Isso faz sentido, pois a rotação de um objeto em duas dimensões pode ser descrita por uma constante (escalar), logo a rotação em torno de todos os pontos possíveis em um escoamento deve ser descrita por uma função escalar.
Questão para reflexão: na animação do escoamento acima, existe algum componente rotacional do fluido na origem ?
Passando para três dimensões
Em preparação para avançarmos para três dimensões, vamos expressar a rotação do fluido acima usando vetores. Concentre-se em uma região de rotação anti-horária, como o círculo mais à direita na animação acima. Imagine colocar os dedos da sua mão direita em volta desse círculo, de forma que eles apontem na direção das setas (no sentido anti-horário nesse caso) e estique o polegar. O polegar deve apontar para fora da página, na direção positiva de , paralela ao vetor unitário .
Se fizermos isso para cada ponto, atribuindo um vetor para a rotação em torno de cada ponto no plano de acordo com a fórmula , obteríamos algo assim:
Vetores apontando na direção positiva do eixo indicam rotação no sentido anti-horário próxima a esse ponto, e vetores apontando no sentido oposto indicam rotação no sentido horário, quando vistos de cima do plano . A magnitude de cada vetor indica a velocidade de rotação. Poderíamos descrever esse sistema de vetores com a expressão
Esse é quase um campo vetorial tridimensional, exceto que estamos olhando para os pontos no plano e não em todo o espaço. O rotacional propriamente dito só se aplica a campos vetoriais tridimensionais, então, para nos prepararmos para o conteúdo mais abaixo, vamos transformá-lo em um exemplo realmente tridimensional. Para começar, vamos estender a nossa função vetorial a uma função tridimensional similar .
Para um campo vetorial tridimensional, esse aqui parece muito plano, não é? O componente é igual a em todos os pontos, e nenhum componente depende do valor da variável . Nós apenas copiamos o campo vetorial bidimensional original para cada fatia do espaço tridimensional paralelo ao plano .
O próximo vídeo mostra a aparência do campo vetorial , onde mantemos o plano (em cinza) e os círculos vermelhos como pontos de referência. Note que em cada camada paralela ao plano , os vetores são idênticos aos vetores originais que tínhamos no plano do nosso campo vetorial puramente bidimensional da seção anterior.
Novamente, imagine esse campo vetorial representando o escoamento de um fluido, como o ar em uma sala ou a água em uma piscina. Quando representamos a rotação desse fluido em torno de cada ponto com um vetor ligado a esse ponto, temos um novo campo vetorial, como mostrado no próximo vídeo:
Isso é dado pela função vetorial
Essa é a mesma fórmula que tínhamos antes, , porém o importante é que agora ela se aplica a todos os pontos do espaço, e não apenas aos pontos do plano .
- O fato de a variável
não influenciar o resultado reflete o fato de o movimento do fluido ser igual em todas as camadas de espaço paralelas ao plano . - O fato de os componentes
e serem iguais a significa que todos os vetores rotação apontam apenas na direção , o que implica que toda rotação do fluido é paralela ao plano .
Esse novo campo vetorial (azul) é chamado de "rotacional" do campo vetorial inicial (verde). Você poderá encontrar isso escrito como
Esse é o nosso primeiro exemplo genuíno de rotacional tridimensional: o rotacional, sendo um operador matemático, toma uma função vetorial tridimensional , que pode ser entendida como uma representação do escoamento de um fluido, e gera outra função vetorial tridimensional " ", que representa a rotação próxima a cada ponto desse fluido.
Visualizando a rotação de um fluido em três dimensões
Em um escoamento tridimensional genérico, a rotação pode não ser sempre paralela ao plano . Assim, pode ser difícil enxergar o que está acontecendo. Muito difícil.
Por exemplo, imagine que o ar ao seu redor está se movendo e girando caoticamente. Agora, escolha um ponto específico no espaço. O que você acha que "rotação do ar próximo a esse ponto" significa?
Aqui temos algumas táticas:
- Imagine que há uma bola de tênis pequena cujo centro está fixo no ponto
, mas que está livre para girar. Talvez você tenha inventado mágica para mantê-la em posição, ou então tem algum tipo de dispositivo engenhoso de suspensão magnética. O ar se movendo em torno dela pode fazer com que ela gire de uma maneira ou de outra. O vetor rotacional ligado a esse ponto será o vetor que descreve a rotação dessa pequena bola de tênis, da mesma forma que nós descrevemos a rotação da terra acima usando um único vetor.
- Alternativamente, imagine uma flecha com penas bonitas e grossas. Do tipo que o Robin Hood atiraria. Coloque a flecha parada no ar, de modo que as penas estejam no ponto
. Novamente, você fez mágica e encontrou uma forma de fixar a base da flecha nesse ponto, mas você está livre para orientar a flecha em qualquer direção que desejar, e ela gira livremente, com base na maneira como o vento sopra as suas penas.
Se você experimentar diversas orientações da flecha e encontrar a direção em que as correntes de ar fazem a flecha girar mais rápido, essa será a direção do vetor rotacional no ponto .
Isso é parecido com como o gradiente aponta na "direção maior subida". O rotacional aponta na "direção de maior rotação".
Notação e fórmula para o rotacional
Vamos escrever como uma função vetorial genérica, com três variáveis de entrada e uma saída com três coordenadas. Vamos escrever essa saída com três coordenadas em termos de três funções escalares: , , e .
A notação do rotacional usa o mesmo símbolo " " usado nas expressões para o gradiente e o divergente, e mais uma vez pensamos nele como a representação de um vetor de operadores derivada parcial:
O rotacional é considerado o produto vetorial entre esse "vetor" e a função , e é calculado usando o determinante, como de costume:
Eu sei o que você está pensando: "Esse é o determinante mais esquisito que eu já vi na vida. Os elementos nem são números! Uma linha tem vetores, outra tem operadores e a última tem funções. Dá mesmo pra fazer isso?" É um pouco estranho, com certeza, mas funciona, no mínimo, como um truque notacional.
Intuição para a fórmula
Vamos dar uma olhada de perto nesse resultado final:
Note que cada componente é como sua própria versão do operador que encontramos no artigo introdução ao rotacional. De fato, o componente tem exatamente a mesma fórmula que o . Isso deve fazer sentido, pois o componente do rotacional deve medir o componente de rotação do fluido paralelo ao plano .
Da mesma forma, os componentes e medem os componentes da rotação do fluido paralelos aos planos e , respectivamente.
Um pequeno detalhe que devo mencionar é que quando você calcula o rotacional em um ponto para obter um vetor (considerado um vetor de rotação), a magnitude desse vetor não é igual à velocidade angular do fluido imaginado próximo a esse ponto. Em vez disso, a magnitude é igual a duas vezes a velocidade angular do fluido.
Exemplo: encontrar a rotação em um campo vetorial tridimensional usando o rotacional
Problema: suponha que um determinado fluido escoe em três dimensões de acordo com o campo vetorial a seguir
Descreva a rotação do fluido próximo do ponto
Etapa 1: calcule o rotacional (você talvez precise de papel para isso)
Etapa 2: substitua na expressão encontrada.
Etapa 3: interprete
Resumo
- O rotacional é um operador que, a partir de uma função que representa um campo vetorial tridimensional, gera uma nova função que representa um campo vetorial tridimensional diferente.
- Se um fluido escoa pelo espaço tridimensional ao longo de um campo vetorial, a rotação do fluido em cada ponto, representada por um vetor, é dada pelo rotacional do campo vetorial original calculado naquele ponto. O campo vetorial rotacional deve ter sua magnitude reduzida à metade se quisermos que as magnitudes dos vetores do rotacional sejam iguais à velocidade de rotação do fluido.
- Se uma função vetorial tridimensional
tem como funções componentes , e , o rotacional é calculado da seguinte forma:
Só por diversão
Aqui está uma animação do escoamento de fluido que mostrei bem no começo do artigo, mas agora cada ponto é tratado de forma mais precisa como uma gota d'água, flexionando e torcendo com base em quanto o campo vetorial puxa cada partícula individual da gota. Também foram removidos os vetores do campo vetorial para que seja mais fácil ver como o fluido se move. Espero que isso dê uma ideia do quão complexa e também bela pode ser a concepção de campos vetoriais usando escoamentos de fluidos.
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